Olívia de Cássia – jornalista
Literalmente, depois de certa idade, a capacidade de audição
vai diminuindo e me vejo com 50% a menos da audição do lado direito. Esse
detalhe prático da vida faz com que a gente vá abstraindo crises pessoais,
profissionais e o que quer que seja que apareça em nossa vida. É preciso
vontade para prosseguir.
Mas não é para falar da minha surdez que venho aqui hoje. Nós
que fazemos jornalismo no Estado estamos estarrecidos e entristecidos com o
fechamento de mais um veículo de comunicação: o O Jornal, em Maceió, agravando o problema
do desemprego crônico de jornalistas, já sem ter para onde correr.
A crise nos jornais impressos no mundo vem acontecendo já há
alguns anos. “A tragédia está em curso e não se escuta ainda uma proposta
alternativa capaz de resolver uma das grandes dívidas acumuladas durante mais
de século para com o povo brasileiro, a dívida informativo-cultural”, diz Beto
Almeida, presidente da TV Cidade Livre de Brasília, na revista Carta Maior.
Ele argumenta que o povo brasileiro é vítima de indicadores
raquíticos de leitura de jornal e revista. “São trágicas as estatísticas da
Unesco, estamos em pior posição que o nível de leitura de jornal na Bolívia,
país mais pobre da América do Sul”, observa Beto Almeida.
E diante de mais uma crise local me vem na lembrança tudo o
que nós passamos com o fechamento da extinta Tribuna de Alagoas. Cento e quarenta
pessoas com salários atrasados, a ocupação do prédio por nós, a falta de
pagamento das nossas questões trabalhistas, e finalmente a criação da Tribuna
Independente e da Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos – Jorgraf.
Ainda hoje a gente daqui amarga um calote, a falta de
pagamento de nossos direitos, depois de quase seis anos do fechamento do jornal e a
incerteza do dia-a-dia, com mais essa crise no mercado em Alagoas.
E diante disso tudo, dá uma vontade danada de chorar, em
saber que pais e mães de famílias ficam sem seus postos de trabalho e a
insegurança que dá quando isso acontece com a gente. Depois de passarmos de
quatro a cinco anos em uma faculdade, o sacrifício para concluir o curso, estudar
e depois se deparar com uma situação assim não é fácil para ninguém.
Aos companheiros do O Jornal a nossa solidariedade de classe
e quero desejar que esse impasse se resolva, sem grandes rompimentos, sem grandes desastres
na vida de cada um. Boa Tarde!
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