quarta-feira, 2 de junho de 2021

O choro não vem

 


Por Olívia de Cássia

Quero chorar, mas as lágrimas que antes jorravam com facilidade, já não me chegam assim. Tem horas que me sinto feito um zumbi, andando cambaleando, entre um desequilíbrio, uma queda e a falta de firmeza nas pernas.

Entre contradições; dores, perdas e experiências a gente vai seguindo em frente, tentando ser forte e acreditando que ainda posso ser eu. Antes, me bastava 'uma cara feia' e já estava eu a chorando, não precisava de muito esforço.

A vida endureceu um pouco meu coração que já foi por demais magoado: muita experiência adquiri. A ataxia tira a sensibilidade da gente e nos torna mais céticos diante de fatos.

Não quero me tornar uma pessoa fria que não se emocione com uma bela paisagem, uma bonita história de amor ou uma amizade sincera.

Não devemos fazer julgamentos e nem juízo de valor a respeito de quem quer que seja, muitas vezes sejamos tentados a isso.

Quando me deparo com alguém muito rígido, frio e que aparenta não ter sensibilidade, me ponho a analisar com meus botões, o que tornou aquela pessoa tão insensível.

Não sou psicóloga, mas as experiências adquiridas que chegam com a maturidade, vai nos guiando e levando a entender algumas nuances que se apresentam no cotidiano. Amanheci pensativa com minhas dores físicas.

Quando me percebo ansiosa e inquieta, o jeito é colocar pra fora todo esse turbilhão de sentimentos que afloram, porque não adianta sair por aí falando pois nem mundo tem capacidade de mensurar esses sentimentos meus ou é obrigado a ficar ouvindo isso.

Não abro mão da simplicidade, da humildade, sem querer ser coitadinha ou inspirar dó seja lá de quem for. Dizem que algumas coisas simplesmente são, e não se pode querer mudá-las ou mesmo compreendê-las.

É assim que têm sido meus dias; não adianta me revoltar com a minha 'sorte', 'herança maldita', ou seja lá que nome eu vou dar às minhas limitações e impedimentos que chegaram com a falta de saúde. Não é fácil, mas não vou cair na cilada de ficar pensando o que está por vir; se é pior ou não do que o agora.

Gosto de estar com pessoas que me fazem bem. Pessoas positivas que me trazem um alento. Gente que gosta de cultura e de coisas boas. Infelizmente eu não posso dispor a toda hora da companhia de amigos assim e então corro para o teclado para descarregar todo esse sentimento que nem todos entendem.

Hoje em dia não é fácil falar de sentimentos; de ética e de boa conduta: parece que as pessoas foram contaminadas pela usura, materialidade e desamor. Tem horas que queria um colo para deitar e chamar de meu. Receber uns afagos e cafunés, como aqueles que a gente recebe da avó ou de pessoas queridas.

Mais um dia, cada dia é um dia, graças a Deus, peço alívio das tensões e tenho que me contentar, ou pelo menos tentar aceitar o que vai chegando e o que me resta: ver a luz do dia; poder levantar, passear, se não fosse a pandemia maldita, articular as palavras e ainda ter lucidez.

Que alcancemos um mundo melhor e mais justo. Viva a liberdade e fora Bolsonaro. Bom dia.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Resiliência

 


Por Olivia de Cássia

A gente vai se adaptando às necessidades que os dias vão exigindo e de uma maneira ou de outra temos que aceitar com resignação ou lutar com todas as nossas forças, para continuar vivendo e persistir na luta diária; mesmo que às vezes, em algum momento a gente fique duvidando da nossa capacidade de seguir em frente.

Me reporto à adolescência, quando acreditava que podia tudo e que não poderia viver sem determinadas atitudes ou situações. As festas e encontros eram indispensáveis. Acreditávamos que não podíamos viver sem aqueles eventos.

Mas a vida vai nos ensinando que nada é para sempre ou que nem tudo é como pensávamos ser e temos que acreditar que podemos continuar a viver, que as situações vão mudando de importância, se acomodando e que podemos ser felizes de outra maneira.

Ai de nós se não fosse essa capacidade de ter resiliência; de nos adaptarmos a outra maneira de vida, com outra rotina. São desafios que vamos enfrentando a cada dia; às vezes pela falta de maturidade ou entendimento da vida.

Fui muito intransigente quando jovem, complicada e depressiva na adolescência; cheia de inseguranças e de traumas e acreditava que era muito infeliz, mas aprendi com os tropeços que não somos donos da verdade e que não existe verdade absoluta.

Há outro mundo lá fora e que a vida é linda, apesar de às vezes ser dura e cheia de lições a dar. Sempre há outra vertente; o outro lado da moeda. O autor William Rezende disse que devemos simplificar os pensamentos.

 “Tenha foco, mantendo os objetivos que te motivam vivos e acesos, como uma chama que mesmo através de uma chuva não se apaga, acredite e viverás faças e conseguiras”, disse ele.

Não é que eu acredite em algumas lendas urbanas, mas avalio que devemos ser persistentes, sim, naquilo que acreditamos, em sonhos reais e palpáveis. E aqueles que vão se diluindo com o tempo e as vivências nos servem de lembranças com o passar dos anos, para acalentar e servir como quimeras.

E Rezende prossegue observando que o tempo voa, fatos ocorrem e que aquela pessoa que a gente tanto tinha apreço e que era parte de nós se vai na velocidade de um trovão.

“Isso pode parecer triste e depressivo mais sempre tem o outro lado da moeda aonde se conhece alguma ou algumas pessoas que nos faz olhar pra trás e pensar: aqueles tempos eram bons mais sem sombra de dúvida os atuais são melhores”, observa.

É essa certeza ou entendimento que nos faz acreditar que podemos ser melhores e que a vida continua, de uma forma ou de outra. Que todos tenham dias melhores e entendam que vale a pena acreditar que valeu a pena chegar até aqui. Que Deus esteja sempre presente nas nossas vidas.

 

(Publicado em 17 de janeiro de 2017, no site Tribunahoje.com)

O tempo passou na janela


Por Olívia de Cássia

O tempo voou para nós e para alguns com mais dureza. Em época de Natal e ano-Novo, em União dos Palmares, depois de passados as comemorações, a Festa da Padroeira era tempo de a gente já pensar no Carnaval. Aula mesmo, só depois dos festejos de Momo. Temos de muitos encontros.

A cidade se enchia de amigos, familiares e visitantes e tudo era motivo de festa para nós, que apesar de não termos muitas opções como os jovens de hoje em dia, nos divertíamos muito. Cada idade tem a sua época e posso dizer que apesar dos problemas, eu fui e sou feliz.

Tive o privilégio de fazer amizade com várias gerações na minha cidade natal. Nunca fui CDF, mas não deixava de estudar por conta das brincadeiras e saídas no fim de semana. Sonhava com outro mundo.

Eu sabia que minha seara não era fazer cursos que exigiam tanto de mim, como Medicina, Direito ou Engenharia, como defendia minha mãe. A área de humanas sempre foi meu forte, coisa que minha mãe dizia, não dava dinheiro.

E ela estava adivinhando, na sua simplicidade de mulher do campo, as dificuldades são muitas; mas não teve jeito. Nunca fui afinada com a área de exatas e fui fazer jornalismo, para desespero dela.

Matemática para mim sempre foi um bicho papão, principalmente depois da surra que levei dela quando fazia o ensino primário, por ter tirado nota vermelha na matéria. Nunca aprendi nada, que desse para ir muito longe nessa área específica.

Meu lado era de sonhos, leituras, poesias, amizades, músicas e viagens que nunca fiz e ficava sonhando embalada na vivência dos meus amigos viajantes. Um lado mais suave da vida, que sempre tive afinidade.

O tempo passou; União já não é mais a mesma cidade faz muito tempo. Os amigos, a maioria se foi. Alguns para a eternidade e outros que ainda tenho a chance de encontrar vez ou outra, me fazendo relembrar da nossa juventude.

Os valores da gente de hoje já não são mais os mesmos que fomos criados. A gente não percebe as mudanças que acontecem dentro de nós. E quando menos esperamos, acontece uma transformação, sem que tenhamos noção de como tudo se deu.

Mudamos de repente, como se algo tivesse acontecido, uma revolução interior, que muitas vezes não sabemos explicar. Você amadurece com o sofrimento, com experiências e as vivências…Isso é maturidade.

A menina que existia em mim não morreu, mas foi se amoldando ao tempo; aprendeu a conviver com as complicações que vão surgindo. Quando falta a saúde, tudo o mais se descontrola, mas a gente tenta administrar o que a gente não pode mudar. O tempo passou e eu nem percebi.

 

(Texto publicado no blog do site tribunahoje.com, em 13 de fevereiro de 2017, com alguns ajustes)

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...