sexta-feira, 30 de julho de 2010


Riacho Salgadinho agoniza

Olívia de Cássia – jornalista
(Foto de Adailson Calheiros)

Entra eleição e sai eleição e tudo continua na mesma com relação ao Riacho Salgadinho, que em épocas passadas, em Maceió, foi cartão postal e servia para o banho e a pesca. Este ano, provavelmente os candidatos vão retomar ao assunto, mesmo que não seja uma eleição municipal, prometendo aquilo que nunca cumprem: a despoluição do Salgadinho.
Na gestão da ex-prefeita Kátia Born , ingenuamente, por algum tempo, cheguei até a acreditar que isso pudesse acontecer e aquela outrora bonita paisagem fosse mesmo ser recuperada, tratada com amor e responsabilidade pelos nossos governantes. Mas tudo não passou de um lance de marketing político da então prefeita de Maceió, que à época foi candidata à reeleição tendo sido reconduzida ao cargo com a falsa promessa.
Ela tomou um banho de mar na Praia da Avenida, abrindo a praia à população depois de trinta anos sendo considerada imprópria para os banhistas. A iniciativa acabou gerando duas ações contra a candidata e a praia nunca voltou a ser própria para banho. Foi tudo um engodo e uma estratégia para ganhar a eleição de novo.
Nesse período, foram gastos rios de dinheiro na suposta despoluição que não se concretizou. Todos sabem que para que isso aconteça é necessário um trabalho de formiguinha de conscientização da população para que não jogue lixo e entulhos em seus rios e outras ações mais enérgicas de punição a quem poluir o riacho.
Na manhã desta sexta-feira, 30 de julho, a cena que se via por volta das nove horas da manhã era de dar pena e revolta no local. Chovia muito, uma lama preta escorria do riacho para dentro do mar da Praia da Avenida. Parecia que tinham jogado toneladas de lama ali dentro, associado a uma fedentina insuportável e a um monte de lixo e urubus.
Alheios a tudo isso, homens, mulheres e crianças, catadores de lixo de Maceió, se aglomeravam no local para procurar algum objeto que desse alguma renda. São os excluídos da sociedade que perambulam nas ruas da capital à procura de garrafas pet, papelão, alumínio ou outra peça que possam vender para levar o sustento de suas família.
É urgente que se faça alguma ação para conter a poluição dos nossos rios e lagoas. É necessário recuperar o meio ambiente destruído pelo avanço da cidade. Segundo os especialistas em meio ambiente, existem muitos projetos que criam medidas para a recuperação dos principais rios e lagoas do nosso Estado, mas falta ação dos nossos gestores públicos.
Além do trabalho de despoluição, segundo os estudos, é necessária a implantação de jardins, plantação de mudas de espécies nativas. O ambiente recuperado atrai animais como pássaros, répteis e mamíferos, que encontram no local um habitat ideal para seu desenvolvimento e reprodução. É necessário que se reveja essa questão com a maior brevidade possível.

quinta-feira, 29 de julho de 2010


O que querem o leitor e o eleitor

Olívia de Cássia – jornalista

O leitor nos dias de hoje quer uma informação rápida, que seja compreensível e que não tome muito o seu tempo. Enganam-se aqueles que pensavam que o assunto mais acessado na internet fosse política ou outros assuntos mais sérios.
Quem apostou nisso não teve tanto êxito assim, até agora. O povo gosta mesmo é de escândalo e de notícias que tenham grande repercussão como assassinatos e rompimento de relacionamentos entre os famosos. Assuntos mais sérios como política e economia ficam para quem milita no setor, grandes investidores, formadores de opinião, jornalistas e outros poucos interessados no ramo.
Segundo o portal Yahoo, as informações mais acessadas esta semana que passou, pela ordem, foram: a separação de Cláudia Raia e Edson Celulari, Horóscopo, Tatuagens, Lotomania, Shakira. Em sétimo lugar veio o programa do governo federal Minha Casa Minha Vida, em oitavo Lady Gaga, em nono CQC e em décimo lugar Bruna Surfistinha.
Segundo uma pesquisa divulgada no jornal Folha de São Paulo e reproduzida no site Comunique-se, a televisão é a principal fonte de informação do eleitorado. Talvez porque a informação na TV seja mais instantânea.
“Apesar da aposta dos partidos na comunicação pela internet, a TV é a principal fonte de informação dos eleitores brasileiros, indica pesquisa realizada pelo Datafolha. Dos entrevistados, 65% apontaram esta mídia como preferida para conhecer as propostas dos candidatos”, diz o site.
Os jornais aparecem em segundo lugar, e a internet e o rádio empatados em terceiro. Conversas com amigos e familiares são apontadas por 6%. Em 2008, nos EUA, a campanha presidencial pela internet teve destaque, principalmente na candidatura do presidente eleito, Barack Obama.
A web foi a principal fonte de informação de 20% do eleitorado do país. Mas a realidade brasileira é bem diferente da rotina americana, é bom que seja lembrado. O que se comenta nos links especializados sobre o tema é que o internauta quer é não perder tempo com nada que seja muito demorado e complicado.
“Os Internautas querem que você filtre a informação para eles, que você apresente de maneira inteligente e compreensível a informação, que você cumpra o que prometeu e que você mantenha-se em contato”, diz a pesquisa.
Os veteranos, que já têm hábitos de navegação estabelecidos, são cada vez mais exigentes. Já os iniciantes, para quem tudo é lindo e maravilhoso, são os que acabam abrindo arquivos de namoro e coisas do estilo, diz a pesquisa.
Segundo um estudo encomendado pela empresa de tecnologia Symantec, que fez uma radiografia dos hábitos de mais de sete mil internautas em oito países, os usuários de internet no Brasil são os que mais acessam sites de pornografia. De acordo com os dados apresentados, 55% dos internautas brasileiros visitam páginas com conteúdo pornográfico quando estão on-line. Uma pena isso.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Feijoada do EPA em União será dia 15

Olívia de Cássia – jornalista

No próximo dia 15 de agosto, a partir das 10 horas da manhã acontece a I Feijoada preparativa para o II EPA – Encontro de Palmarinos Ausentes, que este ano acontece dia 14 de novembro. A feijoada será no prédio do antigo Colégio Cenecista Santa Maria Madalena e os participantes terão direito ao almoço por apenas R$ 10, mas os drinques e petiscos são independentes, segundo Ladorvane Cabral, organizador do evento.
“Você é nosso convidado para saborear uma deliciosa feijoada e tomar seu drinque preferido, num clima inesquecível de companheirismo, com renda destinada à realização do 2º EPA”, disse Ladorvane.
Segundo ele, a feijoada será o pontapé inicial da Edição 2010 do EPA, “o maior acontecimento social de União dos Palmares, agendado para 14 de novembro”, observa.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Marina critica rótulo de ‘terrorista’ dado a Dilma

A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, condenou hoje, em entrevista ao portal Terra, o rótulo de “terrorista” dado à ex-ministra Dilma Rousseff, que na juventude participou de grupo político que lutou contra o regime militar. “Acho que ela lutou pela democracia, não acho correto ficar chamando ela de terrorista”, afirmou.
Marina disse ser contra o julgamento de militares que praticaram de tortura durante o regime militar, porque a “anistia foi para todos”. Ela, no entanto, é favorável à criação da Comissão da Verdade no Congresso Nacional para apurar os crimes políticos ocorridos na época.”Sou favorável a se tirar esses cadáveres do armário”, defendeu.
Perguntada por internautas sobre qual candidato apoiará no segundo turno, caso não continue no pleito, Marina disse que o assunto só será tratado no futuro. Marina afirmou que hoje não se sente mais próxima nem de Dilma, nem de Serra porque seus adversários têm um perfil gerencial e desenvolvimentista. “Os dois são muito parecidos, são muito eu, eu, eu, eu”, ironizou.
Na entrevista, feita no estúdio do portal em São Paulo, Marina afirmou que pretende fazer uma campanha sem agressões pessoais aos adversários e baseada em críticas aos programas de governo. (Fonte: MSN)

Drauzio Varella se diz “chocado” e vê “incompetência” depois da enchente

(LEIA ABAIXO TEXTO DO MÉDICO DRAUZIO VARELLA, PUBLICADO EM SUA COLUNA SEMANAL NA FOLHA DE S.PAULO) e reproduzido no blog do jornalista Célio Gomes, editor do jornal Gazeta de Alagoas

O pior está por vir. Fiquei com essa certeza depois de visitar as cidades inundadas pelo rio Mundaú, em Alagoas.
O Mundaú corre entre as montanhas que um dia abrigaram o quilombo de Zumbi, paisagem que enche os olhos de beleza. Várias cidades foram construídas no vale à beira do rio, como reza a tradição brasileira.
Plantações de cana e de laranja, um pouco de gado e nada mais; riqueza de alguns, pobreza e desemprego universal.
Um homem que tem a sorte de conseguir trabalho na colheita de laranjas nesta época do ano ganha R$ 40 por semana. Sai mais barato do que um escravo do século 18, com casa e comida por conta do fazendeiro.
No meio de junho choveu sem parar. No dia 18, as águas subiram ameaçadoras; mulheres, homens e as crianças graúdas se apressaram em levar os pertences para as partes mais altas das casas.
Entretidos nessa operação, de repente perceberam que desta vez a cheia não era como as anteriores: em cinco minutos as águas chegaram até a cintura. Não houve tempo para nada, só lhes restou agarrar os filhos e as pessoas de idade e fugir.
Poucos minutos mais, um tsunami passou por cima de tudo transformando ruas inteiras em montes de tijolos, ferros retorcidos, postes derrubados, árvores e coqueiros arrancados pela raiz. Saíram com a roupa do corpo. Nem documentos levaram.
As águas baixaram tão depressa como subiram, mas já não havia o que recuperar: 19 cidades estavam arrasadas; 80 mil pessoas ficaram sem ter para onde ir. Com os encanamentos destruídos, as ruas cobertas de lama se transformaram em esgoto a céu aberto, e a água potável desapareceu. Começaram os saques e os roubos; instalou-se o caos.
Aqueles com parentes e amigos em áreas mais seguras puderam ser acolhidos, ainda que de forma precária. Os demais foram encaminhados para igrejas, escolas e os poucos prédios públicos que resistiram à enxurrada.
Chegou o Exército para impor ordem, controlar a distribuição das doações e ajudar com máquinas a retirada do entulho. A Defesa Civil tratou de garantir o suprimento de água, alimentar e abrigar os que haviam perdido tudo. Os bombeiros do Rio de Janeiro montaram um hospital de campanha em Santana do Mundaú. O Ministério da Saúde tomou as primeiras providências para atender a população. A ajuda não tardou, mas foi insuficiente.

Semana passada, quando cheguei à região com uma equipe da TV Globo para chamar a atenção sobre as epidemias que se disseminam depois das enchentes, fiquei chocado: ao vivo, a devastação era mil vezes mais assombrosa do que as imagens dos telejornais. O drama humano, mais grave ainda.
Sem ter para onde ir, as pessoas perambulavam pelo que restou das ruas. Alguns cavocavam os escombros à procura de algum objeto utilizável, enquanto outros formavam fila nos centros de distribuição de alimentos e agasalhos.
Em Murici, cidade situada a 48 km de Maceió, a situação em que se encontram os desabrigados ilustra o despreparo das autoridades e a falta de solidariedade humana com que tratamos tragédias desse tipo em nosso país.
A maior parte dos que ficaram sem casa foi alojada em quatro galpões recém-construídos à beira da estrada que liga a Maceió. Para chegar a eles é preciso atravessar uma área enlameada, com lixo amontoado à espera de recolhimento, cachorros imundos e crianças brincando com os pés atolados no lodo contaminado.
Em cada galpão espremem-se cerca de cinquenta famílias, que delimitam seu espaço com lençóis, cobertores velhos e pedaços de cortinas. No interior desses cubículos, pessoas saudáveis, doentes e um mundo de crianças dormem amontoadas em colchões doados e camas imprestáveis.
Para as cinquenta famílias, apenas dois banheiros em condições indescritíveis, sem água corrente. Para dar a descarga, é preciso ir buscá-la com um balde nas caixas d’água dispostas na beira da estrada, abastecidas por caminhões-pipa.
No interior dos galpões, o cheiro azedo que adquirem as aglomerações humanas em ambientes mal ventilados. Já vi essa cena e senti o mesmo cheiro nas celas apinhadas da antiga Casa de Detenção. Com a diferença de que no Carandiru as cortinas delimitavam o espaço individual de cada ladrão, enquanto em Murici abrigam famílias inteiras, com cinco ou seis crianças.

Mario Agra é sabatinado pela Fecomércio

O candidato do PSOL alfinetou campanhas milionárias ao governo


Nesta segunda-feira (26), o candidato ao Governo do Estado pelo PSOL, Mário Agra, foi sabatinado pela Federação do Comércio (Fecomércio). Entre os assuntos questionados, o candidato salientou a importância da Lei Ficha Limpa para reverter o panorama político em que o Brasil se encontra e se posicionou contra os orçamentos milionários das campanhas eleitorais.
Agra acredita que, diante da tragédia das enchentes que Alagoas enfrentou, é um absurdo que as três principais campanhas ao governo estejam orçadas em R$ 30, 15 e 9 milhões. O candidato questiona a procedência do dinheiro e que não acredita que o fundo venha dos próprios partidos.
O candidato do PSOL afirmou que alguns setores da sociedade estão financiando as campanhas e que lucrarão muito mais após as eleições. "É um desrespeito à população do Estado que R$ 54 milhões sejam investidos em campanhas", dispara.
Para Mário Agra, os candidatos que investem tal quantidade de dinheiro apenas na corrida ao pleito são indubitavelmente "Fichas Sujas". De acordo com o candidato, o orçamento de seu partido é imensamente inferior e foi construído com base no ideal do PSOL.
O candidato do PSOL falou ainda da necessidade emergencial de se realizar uma auditoria acerca das contas públicas do Estado, a fim de se averiguar tanto as dívidas quanto o que é devido. Agra também disparou contra o setor da indústria açucareira. "Não sei como o setor sucro-alcooleiro, força motriz da economia de Alagoas, contribui com tão pouco. Há mais de 30 anos a economia do Estado está comprometida e atrasada", alfineta, citando, como exemplo, o Produban. (Fonte: Site Melhor Notícia http://www.melhornoticia.com.br )

terça-feira, 20 de julho de 2010

Tudo como antes no presídio da Santa Fé




Olívia de Cássia – jornalista
(Texto e fotos)

Dois anos e um mês se passaram desde a primeira vez que estive no presídio desativado da Santa Fé, em União dos Palmares, para fazer a minha primeira reportagem sobre como vive aquela comunidade e foi possível constatar que tudo continua da mesma forma de antes.
Apenas uma modificação deu para ser percebida que foi a limpeza de um dos pavilhões que foi construído para ser um restaurante modelo e estava sendo usado como sanitário público da outra vez em que estive lá. Dessa vez o local foi limpo, colocaram tapumes dos lados e só tem homens morando lá, como mostra a foto acima. E só.
No mais, cerca de 110 famílias vivem em 21 pavilhões, são os esquecidos da sociedade que reclamam da falta de assistência do poder públi9co. Chegaram no local em 1989, fugidos de uma grande enchente do Rio Mundaú. Hoje vivem em condições subumanas, sem água encanada para suprir as necessidades básicas de higiene e da lida doméstica, sem banheiros e sem segurança.

Alguns pavilhões ainda têm as camas de cimento que foram construídas para os presos que nunca chegaram lá. Na comunidade, o único ponto de água para abastecer os 21 pavilhões é um chafariz que fica localizado em frente ao posto de saúde e à Escola Municipal Maria Mariá de Castro Sarmento e o Riacho Canabrava que passa por trás e é utilizado para o banho, lavagem de roupa e utensílios domésticos, misturados com cavalos que tomam banho no mesmo local.

No domingo (18) mulheres, jovens e crianças se aglomeravam num alvoroço só para receber donativos. Algumas moradoras não se aproximaram do tumulto e criticaram as colegas vizinhas de pavilhão pela atitude de partir pra cima das roupas e calçados, sem deixar margem para que outros também escolhessem alguma peça que lhe servissem. E assim aquela comunidade que tem cerca de 500 pessoas vai vivendo, esperando uma decisão do poder municipal de construir suas casas.

Na nossa visita de domingo encontramos a Jovem Maria Tamires, que à época da nossa primeira reportagem estava grávida de oito meses e tinha vinte anos. Hoje o bebê de Tamires está com dois anos, é um menino e ela tem mais duas crianças mais velhas uma de três e outra de quatro anos agora. Uma moradora conta que Tamires operou para não ter mais filho.

Junto com os demais moradores da Santa Fé, a jovem Tamires se aglomerava no domingo para ganhar alguma peça de roupa; chegou no presídio com cinco anos; hoje tem 22. À época da primeira matéria ela observou que chegou no local com os pais e uma irmã, porque não tiveram condições de pagar o aluguel na Vila Kennedy, em União.
Muita gente já chegou por ali e nem foi mais por conta da enchente. Tem famílias que estão lá há dez anos ou menos, a maioria sem empregos, vivendo de bicos, e veem no espaço uma alternativa de abrigo para não morarem nas ruas. Agora, com a liberação de verbas do governo federal para a construção de casas para os desabrigados das enchentes de 18 de junho passado, a esperança de ter um lar que traga dignidade reacende e muitos sonham com uma moradia onde possam ter a privacidade preservada e possam desfrutar de algum conforto.

segunda-feira, 19 de julho de 2010


Depois da tempestade

Olívia de Cássia – jornalista
(Texto e fotos)

Depois de um mês da enchente ocorrida em Alagoas e Pernambuco e dos primeiros socorros mais imediatos aos desabrigados do Estado, os problemas se acumulam nas cidades atingidas pela enxurrada do dia 18 de junho. Em Murici, as pessoas estão alojadas no terminal rodoviário e em dois armazéns que foram construídos há pouco tempo pela Prefeitura. No local, há muita sujeira, poucos banheiros, fedentina e desorganização com um amontoado de gente que aguarda as providências do poder público.

No sábado, 17, caminhões do Exército fizeram distribuição de donativos. A cidade ainda está muito suja; na área mais atingida, onde fica o comércio de Murici, parece uma cidade fantasma, dá pena de se ver. Casas foram destruídas e a cidade tem o maior número de desabrigados, segundo informações da Defesa Civil.
As reclamações de quem está dependendo da ajuda de terceiros são muitas. Em União dos Palmares, até este domingo, apenas a Escola Luiza de França foi desocupada para o início das aulas que estavam previstas para acontecer nesta segunda-feira, 19. Os desabrigados de União que estavam nessa escola são moradores da comunidade Vargem e retornaram para suas casas. A Vargem está localizada no bairro Roberto Correia, os Terrenos, que também foi atingido pela enchente.
Outras vinte e oito famílias que eram moradoras da Rua do Jatobá estão alojadas no ginásio de Esportes da cidade. Cada um com uma história mais triste de como sobreviveu à tragédia, ou de como perdeu algum bem. Emocionados eles falam de suas vidas e da incerteza de como será daqui pra frente.

Uma senhora idosa contou que tinha acabado de fechar um negócio por cinco mil reais e guardou o dinheiro debaixo do colchão, que foi levado pela enchente. Emocionada ela chora sua perda, pois tem um marido bem mais idoso que ela e bem mais debilitado. Outra moradora conta que tinha acabado de fazer um empréstimo no banco, de sete mil e quinhentos, para comprar a casa, na Rua do Jatobá, que o rio levou.
São histórias de vida que comovem e que nos levam a refletir sobre nossas próprias vidas. Na Escola Monsenhor Clóvis Duarte os desabrigados estão preocupados porque foram informados que terão que sair para as barracas, que alguns avaliam inapropriadas porque têm idosos na família ou pessoas com necessidades especiais que não podem dormir em colchões colocados no chão. Precisam de camas para ser cuidados e trocados.
No domingo, 18 de julho, visitei um dos locais onde estão sendo armadas 200 barracas doadas pela ONG americana Shelterbox, do Rotary Club Internacional. O terreno estava alagadiço. John Cordell, responsável pela entidade e que está pessoalmente coordenando os trabalhos, disse por intermédio do intérprete Tarcísio José que a Shelterbox se responsabiliza apenas pela doação e instalação das barracas e que a questão do terreno é com as prefeituras dos municípios onde elas serão colocadas.

Ele observou que a ONG pretende doar mais 400 unidades para União dos Palmares e que depende do governo dizer se o local está disponível. John explicou também que a única exigência que a entidade fez é que apenas uma família seja instalada em cada unidade, por conta de o espaço não comportar muita gente e que a prioridade seja para os idosos, gestantes e crianças.

Ele disse também que antes de o grupo ir embora e ser substituído por outro vai deixar uma lista de exigências. A cozinha para os desabrigados que vão ser instalados nas barracas será comunitária, segundo John. Os municípios de Murici, Branquinha e Santana do Mundaú também serão contemplados com as mesmas barracas da Shelterbox, que é a mesma entidade que fez doação de 20 mil unidades para os desabrigados do terremoto do Haiti.
Além dessas barracas doadas pela ONG, o governo do Estado, por meio do Governo Federal, também está disponibilizando outras barracas para que as famílias sejam instaladas, até que sejam construídas novas casas com os recursos que já foram disponibilizado e que dependem agora da aquisição dos terrenos.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Reconstrução

Olívia de Cássia – jornalista

Reconstruir, recomeçar, reorganizar. Assim como na vida emocional, na vida prática refazer um caminho é sempre mais doloroso, em todos os sentidos da nossa existência. Chico Xavier disse em uma das suas obras que “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode fazer um novo fim”. Às vezes os sentimentos se misturam, se confundem.
Segundo Eunice Ferrari, o novo sempre nos causa algum temor, por mais desejosos, por mais que tenhamos pedido o novo em nossas vidas, há um estranhamento diante da nova situação. “Os sentimentos se misturam, se confundem e muitas vezes não conseguimos identificá-los. Daí, o coração se fecha e a cabeça começa a querer dar conta de uma questão que não lhe pertence. Começa o curto circuito emocional”, explica.
Os relacionamentos são difíceis, é muito complicado conviver em sociedade e na vida a dois muito mais. A rotina desgasta qualquer relação, principalmente quando as diferenças são marcantes. Conviver com as diferenças é um desafio que nem sempre conseguimos superar. Pensei que fosse mais fácil, mas não é e estou vivenciando situação parecida.
Em uma das provas do ENEM, a proposta de redação para os alunos foi o tema “O Desafio de conviver com as diferenças”. Nesse caso o tema poderia descambar para várias vertentes, tanto essa dos relacionamentos afetivos, quanto a questão da diferença social, racial, ideológica ou outra vertente a ser abordada. O tema dá margem a diversas interpretações.
O Brasil é o país da diversidade. São raças, religiões, ideologias e situações econômicas. Apenas para citar alguns fatores que comprovem tal afirmação. Quando pensamos em diferenças, é impossível não destacar as diferenças econômicas como fator marcante que rege nossa sociedade. Essas diferenças, quando não são respeitadas geram muitos conflitos e esses conflitos podem acabar prejudicando a nossa rotina.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Os carnavais de antigamente

Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira – bancário (*)

Já que a Copa do Mundo de Futebol acabou, vamos aqui lembrar outra festa, mesmo que não esteja na época dela e todos os brasileiros gostam. Vocês sabiam que antigamente, em União dos Palmares, até escola samba existia, muito antes da Unidos da Ponte? Que antigamente se fazia Corso? Que antigamente as pessoas se mascaravam e saiam pelas ruas em turmas? Que, em vez de trios elétricos, os bailes carnavalescos eram em clubes? Isso era na década de 60, do século passado.
Pois é. Isso é que era Carnaval. Era isso que antigamente em União existia. Sabe em quantos clubes de União tinham bailes? Tínhamos na Rua da Ponte o Bangu; na Rua do Jatobá Maria Bão; na Avenida tinha a Palmarina e na Praça Benon Maia Gomes, que era o local da sede do Zumbi. Quanto aos foliões de antigamente, esses sim. Esses sabiam brincar mesmo. Brincadeiras sadias.
União tinha uma turma que brincava carnaval, que hoje no mínimo, deveria existir uma praça em homenagem a esses quatro homens. Quatro homens de bela grandeza, quatro homens que eram só alegria para o nosso município. Pode até ser que tenham existido outros, mas na minha memória lembro-me desses quatro. Dr. Paulo Sarmento (pai de Silvio Sarmento), Sr. Ivo Caldas (que morava na Avenida, perto dos Correios e Vizinho de Bira Cassaco), Edvar da Lojinha e Tonho Matias, o único remanescente.
O Ivo Caldas era funcionário da Usina Laginha, e nos dias de festas carnavalescas, colocava em cima de um caminhão Chevrolet amarelo, dois tonéis cheio d'água, e saía pelas portas dos comerciantes dando banho em todos que encontrava pela frente.
A Escola de Samba era de Edval Lessa, filho de Sr. Manoel Felix. Tinha mais ou menos uns 70 integrantes, todos de vermelho e bailavam por toda cidade tocando as belas músicas de antigamente (não tinha reboleixo na época). O corso, esse é para os mais ricos. Carro naquela época não era pra qualquer um. Mercury, Sincas Chambort, Aero Wllys, Rurais e Jeep’s faziam os desfiles todos enfeitados e cheios de gente cheirando a “rodoro” (lança perfume da época), e que não era proibida.
Os clubes, esses nem se fala. Era só animação. Era festa pra todo mundo. Pra classe rica, média e pobre. Quem não podia ir à Palmarina, ia pro Zumbi, Bangu, ou Maria Bão. Maria Bão era realizado no Armazém do Seu Durval Vieira, no começo da Rua do Jatobá. Contratava-se um piston, um trombone de vara e um tarol; pronto, estava feito o baile.
Nessa época, meu pai trancava todas as portas de casa, era mesmo que um retiro espiritual, só participávamos de carnaval se fizessem como eu, fugindo pelo quintal, atravessava o Rio Mundaú. Para meu pai, Carnaval era festa do Satanás, não era nem pra ser visto. (* meu irmão mais velho)

terça-feira, 13 de julho de 2010


Diálogo do encorajamento

Olívia de Cássia – jornalista

É inverno em meu coração, estou triste nessa madrugada. A chuva cai lá fora, faz frio. Já é terça-feira, 13 de julho de 2010. Faz tempo, Diário, que não dialogamos. Somos tão cúmplices, tão passionais e nem assim eu te procurei mais cedo, com mais freqüência, como fazia nos velhos tempos da adolescência e juventude, para falar do que vai em mim, no meu coraçãozinho tolo, tão frágil, dos meus sentimentos mais puros, que tu sabes, às vezes são dilacerados.
Não preciso de muita coisa para ser feliz, só quero o suficiente. Estou com medo da violência diária que a gente vê e ouve nos meios de comunicação. É tudo muito assustador. Tanta coisa a dizer que nem sei como vou começar a te confessar, meu amigo Diário.
Eu não queria magoar ninguém, já fui tão magoada, tão desprezada e abandonada que não queria fazer isso com outra pessoa. Uma despedida é sempre dolorida, quando se tem algum sentimento bom dentro da gente, mesmo que esse sentimento seja de carinho e respeito pela outra pessoa de quem estamos nos despedindo.
Às vezes, Diário, a gente tem que procurar outro caminho, outra direção. Agora eu sei, eu tenho certeza, se não for isso, a gente perde o respeito dos outros e da gente mesmo. Vejo como é difícil tomar uma decisão e não magoar quem está por perto de nós. Sempre tive esse medo de magoar os outros, de dizer não. Acabo sempre ferida por ser assim.
A partida é dolorosa, para quem vai e para quem fica também. Não deveria ser assim doído. Cada um deve ir pro seu lado e pronto. A vida poderia ser assim tão fácil e prática, sem rodeios, sem subterfúgios, sem vínculos, sem dor, sem mágoas. Mas não há nada na vida que a gente faça que não tenha conseqüências, aprendi isso com a idade já passada.
São poucas as pessoas que tiram ensinamentos das adversidades. Quando não existe maturidade de um dos lados, sempre a corda arrebenta do lado mais fraco mesmo, como diz o velho dito popular, já tão desgastado pelo uso, arrebenta lá onde há mais fragilidades e sempre com muito impacto.
Quando existem tantas diferenças entre duas pessoas, tantos estranhamentos, fica difícil a gente tornar esse relacionamento maduro e às vezes a gente toma atitudes que até desconhece a força que tem, como os elefantes. Acho que a minha felicidade é a minha liberdade. Não tenho medo de ficar sozinha, a solidão me alimenta a alma, para que eu possa tirar dela bons ensinamentos, boas leituras e bons textos.
Preciso desse tempo para mim, para minha solidão interior, para me encontrar, me reciclar e voltar à vida com mais vigor. E só posso fazer isso quase sempre quando estou só com meus pensamentos e lamentos. Sempre lutei com unhas e dentes por essa liberdade que tanto professei e é em nome dessa liberdade, Diário, que recomeço de agora em diante uma nova vida, que espero, seja mais serena, de paz, harmonia e felicidade.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Brutalidade e barbárie

Olívia de Cássia – jornalista

A sociedade brasileira assiste chocada e estarrecida ao desfecho do assassinato, com requintes de crueldade, de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo. O caso chocou até a Polícia Civil mineira, cujo delegado deu depoimento emocionado, em coletiva à imprensa, de como tudo aconteceu. Segundo ele, Eliza foi torturada e morta e depois seu corpo foi desossado e dado a cachorros da raça rotwailler; os ossos foram concretados no local onde foi morta.
Segundo o depoimento do menor de 17 anos, que depôs confessando participação no desaparecimento da jovem, Bruno estava no sítio, viu Eliza com a cabeça ferida pelas coronhadas, acompanhou a ida da jovem para o sacrifício, e, dos envolvidos, era o mais tranquilo. A atitude do goleiro Bruno envergonha a nós flamenguistas e tanto ele quanto seus comparsas precisam pagar por essa barbaridade, se tudo isso for realmente a verdade como está parecendo.
Sou cristã, contra a violência e a pena de morte, mas nesses casos fico reavaliando minhas opiniões e meus conceitos. O crime é mais um nas estatísticas da violência contra a mulher, que aumenta assustadoramente a cada dia que passa no nosso país. São mulheres que, inadvertidamente, ou em busca de fama, se envolvem com homens, comprometidos, violentos ou com ligação com o tráfico de drogas e acabam sendo vítimas de suas escolhas erradas.
Segundo o jornal Última Hora, em dez anos, dez mulheres foram assassinadas por dia no Brasil. Esses dados são apenas um extrato do estudo Mapa da Violência no Brasil 2010, com base no banco de dados do Sistema Único de Saúde (Datasus).
O Ceará é o 22º Estado no número de registro de homicídios de mulheres com taxa que ficam perto de três assassinatos em 100 mil mulheres. Elas morrem em número e proporção bem mais baixos do que os homens, mas o nível de assassinato feminino no Brasil fica acima do padrão internacional.
O índice se mantém em patamares quase constantes nos últimos anos, apesar de registrar ligeira queda em 2006 e baixou para 3.772 em 2007, segundo esse estudo. As estatísticas indicam que as taxas de assassinatos femininos no Brasil são mais altas do que as da maioria dos países europeus, mas ficam abaixo de nações que lideram a lista, como África do Sul e Colômbia.
Em Alagoas os casos de violência contra a mulher não fogem a esses índices. Todos os dias na grande imprensa são noticiados fatos como esses e apesar da aplicação da Lei Maria da Penha, a violência contra a mulher vem crescendo de forma incontrolada, na capital e também no interior do Estado. Além dos casos de espancamentos, assassinatos, há também os casos de violência psicológica que são inúmeros.
As vítimas são, em sua maioria, jovens que residem em bairros da periferia, mas as que residem em locais menos violentos não estão livres dessa ação. Os crimes geralmente acontecem, segundo a polícia, depois de discussões proporcionadas pelo consumo de álcool e drogas pesadas e têm cunho passional na maioria das vezes.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Preciso decidir

Olívia de Cássia - jornalista

Boa noite, meus queridos leitores internautas. Não ando muito positiva por esses dias e desde ontem tenho tido crises sérias de angústia, tristezas e começo de depressão. Não é uma coisa boa a depressão, já tive umas três vezes isso; você se sente a pior pessoa do mundo nessas horas, a autoestima vai pra baixo. Mas eu não sou a pior pessoa do mundo e tenho consciência disso. Sou apenas um ser humano em busca de suas realizações, em busca de dias melhores.
Meu grande problema é amar os outros demais e me amar de menos. Parece que meu sexto sentido pressente quando está para acontecer algo, de bom ou ruim, triste ou alegre. Não sou sensitiva, mas sempre quando algo está para acontecer eu me ponho inquieta, afobada e agoniada. É sempre assim. Estou assim há alguns dias e isso vem me incomodando. Será que preciso voltar pra terapia?
Nesse momento acho que se eu chegasse lá a médica ia me dizer: “Eu não disse que você ainda não tinha ficado boa e que a depressão ia voltar?” Mas eu relutei muito e fui fazer minha própria terapia e tenho agora que ser forte e não deixar que esse sentimento negativo tome conta de mim de novo.
Recomeçar não é tarefa fácil em situação nenhuma. Recomeço é uma palavra misteriosa. Ando devagar, introspectiva, chorosa, pedindo a Deus que me dê discernimento, força e coragem para prosseguir nesse meu caminhar.
Não é fácil tomar uma decisão. Tenho dificuldade em dizer não, em ser firme diante das coisas. A vida é muito dura às vezes com a gente. Sinto muita saudade de antes, da vida que eu tinha e que se foi e que agora vejo cada dia mais distante de mim.
Por que tem que ser assim? Por que em determinada fase da vida a gente passa a viver de lembranças do passado e das coisas boas que se viveu? Será que uma mulher da minha idade não pode ser feliz, não pode alcançar a felicidade merecida? Onde está essa felicidade tão sonhada? O que é a felicidade? Por que não consigo ser uma pessoa completa, cheia de sonhos ? São tantas indagações nesse momento de angústia!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Futebol

Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira – bancário (*)

O assunto que quero aqui dissertar é sobre o futebol. Mas, o assunto nesta época, já é tão explorado, tão comentado, que com certeza, aquilo que escreverei tende a parecer um bocado de bobagens.
Vive-se futebol, alimenta-se futebol, respira-se futebol, assiste-se futebol pela manhã, pela tarde, pela noite e pela madrugada adentro.
Se Karl Marx vivo estivesse não diria o que antes disse: -que a religião é o ópio do povo, com certeza diria que o ópio do povo é o futebol.
O fanatismo em relação ao esporte bretão tomou rumos nunca antes imaginados. Torcidas “organizadas” (se é que se pode chamar isso de organização) se digladiam em estádios com tamanha violência que integrantes morrem em confrontos.
Pais de família que antes aproveitavam as tardes de domingo para irem aos estádios, nos dias de hoje já relutam.
Tudo no País nos dias que a seleção joga, tende a direcionar-se pelo horário dos jogos. Trabalho, estudo, descanso, viagem, e, até quem sabe, para morrer, tem que esperar pelo jogo da seleção. Como dizia Nelson Rodrigues (torcedor fanático do fluminense), é o País de chuteiras.
A seleção perdeu. Perdemos todos. É assim no Brasil. Esperaremos mais quatro anos e tudo começa de novo. Mas, temos um tempero enquanto esperamos pela copa do Mundo;
CAMPEONATO BRASILEIRO: Série A, B, C; TAÇA LIBERTADORES DA AMÉRICA(FINAL) CAMPEONATOS ESTADUAIS, COPA AMÉRICA(DAQUI A DOIS ANOS). UFA!
É assim mesmo, afinal o mundo é uma bola!!!!!!!!!!!! (Meu irmão mais velho)

Política: A partir de hoje: TSE libera propaganda política para as eleições de outubro - TUDO NA HORA - O portal de notícias de Alagoas

Política: A partir de hoje: TSE libera propaganda política para as eleições de outubro - TUDO NA HORA - O portal de notícias de Alagoas

segunda-feira, 5 de julho de 2010

POVOADO MUQUÉM

Sobreviventes da cheia do Mundaú recebem barracas e caixas d’água

Olívia de Cássia – jornalista
(Texto e fotos)

A comunidade do Muquém, em União dos Palmares, recebeu no fim de semana 20 barracas, banheiros químicos e 20 caixas d’água, provenientes de recursos do governo federal para ajuda nas ações mais imediatas aos desabrigados da enchente do Rio Mundaú, ocorrida no dia 18 de junho. Treze famílias dessa comunidade, cujas casas caíram ou foram danificadas, estão abrigadas no prédio do posto de saúde do local que ainda está em construção.
Além dessas treze famílias, outros moradores do local estão passando dificuldades. Contam que estão recebendo cestas básicas, mas reclamam que falta a mistura (a carne). Outra reclamação é com relação à distribuição de pessoas nas barracas: duas famílias para cada uma, com um ponto de luz e uma caixa d’água.
O Muquém é uma comunidade quilombola do município cujos moradores ficaram isolados durante a enchente. Os moradores do povoado são quase todos da mesma família, têm como arte a confecção de panelas de barro, bonecos e outras peças de artesanato feitas de argila.
Aproveitando o domingo de sol para lavar roupas e utensílios domésticos, após quinze dias da enchente que destruiu quase tudo no local, eles tentam seguir suas rotinas e contam emocionados como sobreviveram à fúria das águas, em cima de uma jaqueira e de uma mangueira, até que as águas do rio baixassem e pudessem descer com segurança.
Maria Rosimeire, a Meire, conta que ficou na árvore com seus três filhos mais a cadela de estimação chamada Filó, que ficou o tempo todo em suas costas. Ela diz que Filó virou celebridade e já foi fotografada e filmada várias vezes como heroína por jornalistas que foram documentar a tragédia. “Filó chorava o tempo todo e eu falava com ela, dava bolachas, conversava”, disse Meire.

Ela observa que passaram muito frio, muita sede e fome. “Fizemos promessa, teve uma companheira que desmaiou e passamos o tempo todo ali, com medo que a jaqueira caísse pois a correnteza e a força da água eram violentas e a jaqueira balançava”, conta. Meire disse que teve moradora do Muquém que subiu num coqueiro e outra na torre de energia. “A sorte é que a energia estava desligada e ela não morreu de um choque”.
Seu Cícero Nunes tem 70 anos, está operado de uma hérnia, anda com dificuldade e conta como sobreviveu na enchente do Rio Mundaú. “Fui colocado por uma vizinha em cima de uma casa, com muito sacrifício, pois estou operado de hérnia. Ficamos quatro pessoas lá; foi muito difícil”, diz ele.
Quase todas as casas do Muquém foram danificadas ou destruídas pela enchente. A artesã Irinéia Rosa Nunes da Silva, 61 anos, é uma das moradoras do local, também remanescente do Quilombo dos Palmares e foi considerada, em 2005, patrimônio vivo da cultura alagoana.
Ela transforma barro em esculturas de pessoas e animais e durante a enxurrada o ateliê dela ficou debaixo de água; cerca de mil peças de cerâmica foram levadas pelas águas do Mundaú. Com medo de que a tragédia volte a acontecer ela diz que não tem mais vontade de ficar no Muquém. “Não tenho mais vontade de ficar por aqui”, disse dona Irinéia.
Poucos objetos foram salvos das enchentes no povoado quilombolda do Muquém, junto com uma reportagem da Tribuna Independente colocada em um quadro que está exposta em cima de uma mesa, depois de ter sido molhada pela água do Mundaú.
“Perdi quase mil peças que iam para o forno, que foram destruídas pelas águas. Os moradores colocaram os móveis no galpão onde eram feitas as peças pensando que não seriam atingidos, mas perderam tudo. Um morador, três dias depois, encontrou os documentos, o cartão e cerca de 500 reais nos entulhos”, conta dona Irinéia.
RUA DA PONTE
Nos escombros da Rua Demócrito Gracindo (a Rua da Ponte), quinze dias depois da enchente, alguns moradores ainda procuram por algum objeto que possa ser aproveitado. Segundo o secretário de Meio Ambiente do município, Manoel Bernardo, o Maninho, as máquinas pararam de fazer o aterro no restante da rua, “por que os moradores solicitaram para procurar algum fio, tijolo ou telha que possam ser aproveitados”.
No local será impossível construir alguma casa. A Rua da Ponte tinha cerca de 500 casas que desapareceram arrastadas pela força das águas do Rio Mundaú. Até a década de 70, era a rua de acesso à entrada de União e por onde escoava toda a produção.
Na manhã de domingo, um ônibus da empresa Real Alagoas levou várias pessoas para visitarem o que sobrou dos escombros das ruas destruídas. Segundo os moradores do município, está virando ponto turístico de curiosos que vão ver o que sobrou no local.

domingo, 4 de julho de 2010


UNIÃO DOS PALMARES

Sociedade civil se reúne para discutir ações sobre as enchentes do Mundaú

Olívia de Cássia - jornalista
(Texto e fotos)

Vinte representantes da sociedade civil organizada do município de União dos Palmares se reuniram na noite de sábado, 3, no auditório Padres Donald, Emílio e Les, na sede da Associação dos Deficientes Físicos de União dos Palmares – Adefup, no bairro Roberto Correia, Os Terrenos, que também foi afetado pela enchente ocorrida no dia 18 de junho último.
A reunião das entidades, segundo as lideranças, foi para discutir os problemas que vêm enfrentando os desabrigados da cheia, que destruiu várias ruas da cidade, bem como se engajar nas tarefas que estão sendo distribuídas, fiscalizar o que está sendo feito pelo Executivo e propor ações junto às autoridades do município.
Depois de várias discussões sobre as ações pós-enchente para ajudar os desabrigados, as lideranças tiraram algumas propostas, como a da confecção de uma carta-aberta à população ou um manifesto, que serão encaminhadas na segunda reunião do grupo, que acontece na próxima sexta-feira, 9, quando será tirada uma comissão para acompanhar a distribuição de cestas básicas, roupas e a assistência prestada aos desabrigados da enchente.
Segundo José Carlos, líder do MST, foi feita uma reunião com a associação (dos moradores do bairro Roberto Correia) “e resolvemos ampliar o leque de participação, convidando vários atores da sociedade civil para discutir ações”, observou. Segundo as lideranças, algumas denúncias chegaram à Associação de Moradores do bairro (Terrenos) de que as cestas básicas enviadas pelo governo federal não estariam sendo distribuídas como deveriam.
José Carlos sugeriu que o grupo não deve partidarizar a discussão, “deve juntar todo mundo e ajudar na reconstrução da cidade, discutindo como fazer para agir no caso das denúncias que estamos recebendo”, disse ele, acrescentando que a comunidade precisa se organizar, “para não passar mais 20 anos na mesma situação” (dos desabrigados que estão no presídio da Santa Fé, desde 1989).
A assistente social Nádia Seabra disse que passada a fase crítica do socorro imediato aos desabrigadas, vem a preocupação com a vida dessas pessoas. “O prefeito disse em uma rádio da cidade que apenas receberiam as casas os proprietários e os inquilinos (que são a maioria) não vão receber”, reclamou.
Ela discorda dessa proposta e disse que o gestor municipal (o prefeito Areski Freitas, o Kil- PTB) precisa ser ouvido sobre essa questão. “A gente tem que saber do gestor a informação oficial, para poder se posicionar publicamente, saber quantas casas foram destruídas realmente e fiscalizar se os recursos do governo federal vão ser aplicados realmente na construção dessas casas e nas ações a que foram destinados”, disse Seabra.
Participaram da reunião as seguintes entidades: MST, Adefup, Pastoral da Criança, agentes de saúde, Associação dos Moradores do Bairro Roberto Correia, Associação dos Deficientes Físicos, Sindicato dos Servidores Públicos do Município e o padre Francisco que precisou se ausentar logo que a reunião começou porque teve um compromisso que já estava agendado anteriormente.

quinta-feira, 1 de julho de 2010



A vida de Maria

Olívia de Cássia – jornalista

Ontem, no ônibus que me levaria até o jornal Tribuna Independente, fui pensando numa história para escrever. Comecei a construir a história de Maria, das muitas mulheres chamadas Maria que existem por aí a fora. Essa Maria da minha história é um misto de todas elas. Das que sofrem mais ou daquelas que conseguiram se estabilizar na vida.
Maria é uma daquelas moças do interior, criada com toda a educação e carinho e com os rigores que os tempos antigos exigiam para a formação de uma mulher. Casou virgem e conheceu Abelardo numa das festas da cidade. Ficou encantada com aquele moço bonito, peitoral largo, olhos profundos, viajado e muito matreiro.
Maria logo se apaixonou por aquele Abelardo. Começaram a se conhecer, a conversar sobre a vida, sobre música, literatura, poesia e pintura. Ela apreciava as artes e com a sua formação de professora começou a lecionar em uma das escolinhas do município.
Mas a família de Maria logo se colocou contra esse namoro e ela viu sua vida transformada: começou a ser vigiada dia e noite para que não caísse na besteira de cair na conversa de Abelardo e a ele se entregar, como se dizia antigamente. E quanto mais Maria era perseguida e observada, mas crescia o seu amor por Abelardo e a aversão pelas atitudes de seus familiares.
Um dia resolveu realizar o seu sonho de viver com seu príncipe encantado e provocou a ira, decepção e aversão de todos os seus familiares. Mas Maria queria seguir seu destino, dele ninguém foge; ninguém se livra. Ela e Abelardo casaram e logo de imediato ela percebeu que ele não era a pessoa com quem sonhava viver a vida inteira.
Nos primeiros meses de sua gravidez ela se viu sozinha. Ele saía na calada da noite e ia ter com amigos e mulheres, em lugares nem sempre bem recomendados de União dos Palmares. E Maria chorava todo o seu desencanto, sozinha, sem ter com quem desabafar e com quem falar de todas as suas amarguras, sonhos desfeitos e arrependimento.
Por que não escutara os mais velhos e mais sábios? Por que não procurou conhecer melhor aquele homem por quem se encantara de imediato e entregara toda a sua pureza, toda a sua vida?
Agora estava grávida; grávida de uma menina que poderia ou não ter o seu mesmo destino, mas não era isso que sonhara a vida inteira. Maria começou a rememorar os belos dias da sua infância; os dias livres no campo, os passeios no fim da tarde com seu pai, a família unida que tinha e de repente sentiu saudade daquela infância distante, dias que não mais voltariam.
Abelardo não tinha emprego certo, vivia de bicos e ainda reclamava quando Maria chegava tarde da escola onde trabalhava. Era ela quem supria a casa do principal e nem assim ele era compreensivo. Tornou-se um homem rude, ignorante, preconceituoso. Vivia a dar ouvidos às conversas que escutava na rua e não dava importância ao trabalho da sua mulher.
Numa das farras, Abelardo bebeu muito, perdeu a conta de seu limite e saiu em alta velocidade no carro emprestado de um amigo, acompanhado de uma garota de programa. Não viu uma carreta que vinha em contramão e bateu de frente.
Abelardo e a mulher morreram na hora e seus corpos foram esmagados ficando quase irreconhecíveis. Triste fim de Abelardo por causa da sua irresponsabilidade. Não conheceu a filha que estava prestes a nascer e quase matou Maria, que quando soube da notícia correu o risco de perder a criança. Ficou em pânico, em estado de choque por vários dias.
Quando Maria saiu do hospital, faltava apenas um mês para sua filha nascer. A filha que a faria companhia pro resto da vida e que teria um futuro bem melhor, disso ela tinha certeza. Desse dia em diante, ela resolveu enfrentar a vida de peito aberto, por Maria Clara, que nasceria com saúde e pesando quatro quilos e meio na Maternidade Santa Catarina, do Hospital São Vicente, em União dos Palmares, no ano de 1975.
A solidariedade não tem preço

Olívia de Cássia – jornalista

Solidariedade humana não tem preço. É uma palavra que nem todo mundo conhece; pode estar escondidinha dentro de cada um e diante de uma tragédia como a da enchente que aconteceu em Pernambuco e Alagoas, último dia 18, ela se faz presente.
Uma verdadeira rede social, de mutirões e de ajuda fraterna se formou para ajudar os desabrigados, que guardadas as devidas proporções, deveria existir um pouco durante o ano todo. Tem muita gente passando dificuldades no País, apesar da diminuição da miséria, segundo os dados do IBGE.
De toda a parte do País e até do exterior temos recebido respostas: seja de governos ou da população. Muita gente encaminhando donativos, como roupas, colchões, alimentos, água potável. O governo Lula também está fazendo a sua parte e já destinou recursos para o que se fizer necessário, digam o que quiserem os nossos oposicionistas.
Prefeituras como a de Guarulhos e outras pessoas de estados distantes do nosso, como Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também estão mandando ajuda. Tem gente que está fazendo questão de vir até o local para ver de perto o estrago que a devastação da enchente do Rio Mundaú, Paraíba, afluentes e córregos fizeram.
O significado da solidariedade humana não é possível a gente dimensionar. Nessa hora, eu avalio, temos que deixar de lado as nossas diferenças, nosso modo de pensar de outra forma do nosso próximo, nos despir de qualquer sentimento de raiva ou de rancor de outros e apenas nos disponibilizar para contribuir de alguma forma, tentando minimizar tanto sofrimento.
Não é possível dimensionar o que foi aquilo que aconteceu, no caso da minha terra natal, União dos Palmares. No meio do desespero a gente fica se perguntando o motivo de tudo aquilo ter acontecido. Por que o nosso querido Rio Mundaú se tornou tão furioso e Maria Madalena, nossa santa padroeira, deixou que tudo isso acontecesse?
Mas a voz da razão sabe que o meio ambiente vem sofrendo muitos maus-tratos ao longo de décadas e a cada enchente o estrago é ainda maior. O ser humano vem se preocupando pouco com a natureza, maltratando rios, assoreando, desmatando e poluindo e acha que isso não vai ter retorno.
Em União dos Palmares, cerca de 110 famílias sobrevivem num presídio desativado da Santa Fé, pessoas que foram para lá depois da enchente de 1989 e que hoje vivem de pequenos bicos e de favores da comunidade.
Em junho de 2008 eu fiz uma reportagem que foi publicada na Tribuna Independente mostrando a realidade daquelas pessoas que aguardam uma definição do poder público para suas vidas. A rotina daquele povo não é fácil.
A Rede Globo exibiu no programa Profissão Repórter dessa semana, sobre a enchente devastadora dos dois estados, imagens e histórias de como vivem. Mas apenas um extrato da verdadeira situação que aquele povo passa. Se todos nós tirássemos um pouco do nosso tempo para exercer a cidadania e ser solidários com pessoas que vivem em situação de risco, talvez o nosso mundo fosse melhor.

Vai melhorar

Olívia de Cássia Cerqueira   Todos os dias, procuro repetir esse mantra. “Vai melhorar, tem que ter fé”. Sei que pode ser clichê para mu...