segunda-feira, 19 de julho de 2010


Depois da tempestade

Olívia de Cássia – jornalista
(Texto e fotos)

Depois de um mês da enchente ocorrida em Alagoas e Pernambuco e dos primeiros socorros mais imediatos aos desabrigados do Estado, os problemas se acumulam nas cidades atingidas pela enxurrada do dia 18 de junho. Em Murici, as pessoas estão alojadas no terminal rodoviário e em dois armazéns que foram construídos há pouco tempo pela Prefeitura. No local, há muita sujeira, poucos banheiros, fedentina e desorganização com um amontoado de gente que aguarda as providências do poder público.

No sábado, 17, caminhões do Exército fizeram distribuição de donativos. A cidade ainda está muito suja; na área mais atingida, onde fica o comércio de Murici, parece uma cidade fantasma, dá pena de se ver. Casas foram destruídas e a cidade tem o maior número de desabrigados, segundo informações da Defesa Civil.
As reclamações de quem está dependendo da ajuda de terceiros são muitas. Em União dos Palmares, até este domingo, apenas a Escola Luiza de França foi desocupada para o início das aulas que estavam previstas para acontecer nesta segunda-feira, 19. Os desabrigados de União que estavam nessa escola são moradores da comunidade Vargem e retornaram para suas casas. A Vargem está localizada no bairro Roberto Correia, os Terrenos, que também foi atingido pela enchente.
Outras vinte e oito famílias que eram moradoras da Rua do Jatobá estão alojadas no ginásio de Esportes da cidade. Cada um com uma história mais triste de como sobreviveu à tragédia, ou de como perdeu algum bem. Emocionados eles falam de suas vidas e da incerteza de como será daqui pra frente.

Uma senhora idosa contou que tinha acabado de fechar um negócio por cinco mil reais e guardou o dinheiro debaixo do colchão, que foi levado pela enchente. Emocionada ela chora sua perda, pois tem um marido bem mais idoso que ela e bem mais debilitado. Outra moradora conta que tinha acabado de fazer um empréstimo no banco, de sete mil e quinhentos, para comprar a casa, na Rua do Jatobá, que o rio levou.
São histórias de vida que comovem e que nos levam a refletir sobre nossas próprias vidas. Na Escola Monsenhor Clóvis Duarte os desabrigados estão preocupados porque foram informados que terão que sair para as barracas, que alguns avaliam inapropriadas porque têm idosos na família ou pessoas com necessidades especiais que não podem dormir em colchões colocados no chão. Precisam de camas para ser cuidados e trocados.
No domingo, 18 de julho, visitei um dos locais onde estão sendo armadas 200 barracas doadas pela ONG americana Shelterbox, do Rotary Club Internacional. O terreno estava alagadiço. John Cordell, responsável pela entidade e que está pessoalmente coordenando os trabalhos, disse por intermédio do intérprete Tarcísio José que a Shelterbox se responsabiliza apenas pela doação e instalação das barracas e que a questão do terreno é com as prefeituras dos municípios onde elas serão colocadas.

Ele observou que a ONG pretende doar mais 400 unidades para União dos Palmares e que depende do governo dizer se o local está disponível. John explicou também que a única exigência que a entidade fez é que apenas uma família seja instalada em cada unidade, por conta de o espaço não comportar muita gente e que a prioridade seja para os idosos, gestantes e crianças.

Ele disse também que antes de o grupo ir embora e ser substituído por outro vai deixar uma lista de exigências. A cozinha para os desabrigados que vão ser instalados nas barracas será comunitária, segundo John. Os municípios de Murici, Branquinha e Santana do Mundaú também serão contemplados com as mesmas barracas da Shelterbox, que é a mesma entidade que fez doação de 20 mil unidades para os desabrigados do terremoto do Haiti.
Além dessas barracas doadas pela ONG, o governo do Estado, por meio do Governo Federal, também está disponibilizando outras barracas para que as famílias sejam instaladas, até que sejam construídas novas casas com os recursos que já foram disponibilizado e que dependem agora da aquisição dos terrenos.

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