terça-feira, 20 de julho de 2010

Tudo como antes no presídio da Santa Fé




Olívia de Cássia – jornalista
(Texto e fotos)

Dois anos e um mês se passaram desde a primeira vez que estive no presídio desativado da Santa Fé, em União dos Palmares, para fazer a minha primeira reportagem sobre como vive aquela comunidade e foi possível constatar que tudo continua da mesma forma de antes.
Apenas uma modificação deu para ser percebida que foi a limpeza de um dos pavilhões que foi construído para ser um restaurante modelo e estava sendo usado como sanitário público da outra vez em que estive lá. Dessa vez o local foi limpo, colocaram tapumes dos lados e só tem homens morando lá, como mostra a foto acima. E só.
No mais, cerca de 110 famílias vivem em 21 pavilhões, são os esquecidos da sociedade que reclamam da falta de assistência do poder públi9co. Chegaram no local em 1989, fugidos de uma grande enchente do Rio Mundaú. Hoje vivem em condições subumanas, sem água encanada para suprir as necessidades básicas de higiene e da lida doméstica, sem banheiros e sem segurança.

Alguns pavilhões ainda têm as camas de cimento que foram construídas para os presos que nunca chegaram lá. Na comunidade, o único ponto de água para abastecer os 21 pavilhões é um chafariz que fica localizado em frente ao posto de saúde e à Escola Municipal Maria Mariá de Castro Sarmento e o Riacho Canabrava que passa por trás e é utilizado para o banho, lavagem de roupa e utensílios domésticos, misturados com cavalos que tomam banho no mesmo local.

No domingo (18) mulheres, jovens e crianças se aglomeravam num alvoroço só para receber donativos. Algumas moradoras não se aproximaram do tumulto e criticaram as colegas vizinhas de pavilhão pela atitude de partir pra cima das roupas e calçados, sem deixar margem para que outros também escolhessem alguma peça que lhe servissem. E assim aquela comunidade que tem cerca de 500 pessoas vai vivendo, esperando uma decisão do poder municipal de construir suas casas.

Na nossa visita de domingo encontramos a Jovem Maria Tamires, que à época da nossa primeira reportagem estava grávida de oito meses e tinha vinte anos. Hoje o bebê de Tamires está com dois anos, é um menino e ela tem mais duas crianças mais velhas uma de três e outra de quatro anos agora. Uma moradora conta que Tamires operou para não ter mais filho.

Junto com os demais moradores da Santa Fé, a jovem Tamires se aglomerava no domingo para ganhar alguma peça de roupa; chegou no presídio com cinco anos; hoje tem 22. À época da primeira matéria ela observou que chegou no local com os pais e uma irmã, porque não tiveram condições de pagar o aluguel na Vila Kennedy, em União.
Muita gente já chegou por ali e nem foi mais por conta da enchente. Tem famílias que estão lá há dez anos ou menos, a maioria sem empregos, vivendo de bicos, e veem no espaço uma alternativa de abrigo para não morarem nas ruas. Agora, com a liberação de verbas do governo federal para a construção de casas para os desabrigados das enchentes de 18 de junho passado, a esperança de ter um lar que traga dignidade reacende e muitos sonham com uma moradia onde possam ter a privacidade preservada e possam desfrutar de algum conforto.

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