domingo, 23 de maio de 2021

Japaratinga-AL- De 16 a 18 de Maio de 2021

 

























Fotos: Olívia de Càssia e Nathalya B.  de Cerqueira.

Sobre o medo (Republicação)

Por Olívia de Cássia Cerqueira

 

Por causa do medo que eu tinha de tomar iniciativas que eu queria e precisava tomar, eu perdi algumas oportunidades de crescer e me realizar profissionalmente e pessoalmente, da maneira que sempre sonhei. O medo é uma limitação que nos aprisiona.

Dizem que ter medo de reconhecer erros é abdicar de todo potencial que pode ser descoberto após transcendê-los. Sonhei com muitas viagens, com reconhecimento profissional, em cobrir conflitos externos e em ser uma pessoa melhor.

Sempre fui uma sonhadora, idealista e luto por um mundo melhor para todos. No momento de agora, mais cética diante da atual conjuntura, não deixo de lutar pelos meus ideais, embora eu tenha mais paciência para determinadas situações. Ninguém é perfeito.

Agora na maturidade e fora do mercado de trabalho por conta da aposentadoria, estou em paz. Não pensei que fosse me acostumar tão logo afastada do trabalho, da reportagem, que sempre foi o meu sonho. Agora não adianta arrependimentos e frustrações.

Ninguém quer ter um problema de saúde grave, para se afastar do trabalho. A ataxia vai nos limitando, roubando os nossos movimentos, nos tornando mais frágeis. Mas ainda quero viver muitas situações de prazer pessoal, conhecer outras culturas e espero que não seja tarde demais.

Que ainda me seja dada uma oportunidade de melhorar, uma prorrogação, para que eu possa desfrutar o momento de agora. Talvez a psicologia explique o motivo de eu ter tanto medo e ter me libertado desse sentimento que vai nos consumindo e acabando com a autoestima.

Minha saudosa mãe, no seu cuidado e vigilância dobrada com a minha pessoa, àquela época, me dava muitos conselhos, à sua maneira e me fazia muito medo de tudo, para que eu não caísse em tentações da vida, por conta das amizades que eu tinha.

Ela preferia acreditar no que os outros diziam do que confiar em mim; muitas vezes entrávamos em conflito, por conta da nossa divergência de ideias; desses medos dela que depois eu absorvi com o tempo, mesmo sendo rebelde a maior parte do tempo, o que não me ajudou muito.

Foram momentos tensos, divergências de pensamentos, ideias e objetivos, deparando-nos com situações de conflito. Quando meu pai e minha mãe se foram passei a me questionar a respeito de várias questões interiores e a me perguntar se tinham me perdoado pelas minhas atitudes.

Agora compreendo que não foi por falta de amor que eles, principalmente minha mãe, agiam daquela forma comigo. Era a sua maneira de amar, com rusticidade, que eu não entendia. Com o tempo a gente vai desvendando os mistérios da alma.

Que todos possam ter essa compreensão da vida a tempo de redimir-se diante de nós, diante da vida.

A escolha de Sofia (Republicação)

 

Por Olívia de Cássia Cerqueira


Quando Sofia nasceu, não teve festa, nem muita alegria. O pai estava trabalhando; a mãe pariu sozinha e quando a parteira chegou ela já tinha vindo ao mundo. A mulher atravessou o rio e veio correndo; cuidou apenas dos procedimentos necessários a uma recém parida e seu bebê.

 Naquele tempo de poucos recursos, casar e procriar era o destino de toda mulher, mais que uma obrigação. Os pais de Sofia vieram da roça e mal sabiam ler, mas ensinaram para ela e os outros filhos que tiveram, os conceitos mais preciosos que formam uma família.

Sofia foi crescendo livre, rebelde, não pensava em casamento e queria viajar e conquistar um futuro promissor. Vivia livre, no meio daquela comunidade carente de políticas sociais e foi entendendo certas nuances da vida. Ela não se contentava com o chamado destino que os mais velhos falavam. Avaliava que poderia mudar tudo aquilo, se preciso fosse.

 E foi com esse objetivo que começou a se interessar pelos estudos, conviver com pessoas ligadas à arte, a música e aprendeu com elas a ter bom gosto. A mãe de Sofia, dona Mércia, não entendia o motivo de a filha viver com a cara nos livros, gostar de hobbies caros como escrever todos os dias para os amigos, a fotografia e colecionar coisas.

Internet e tecnologias nem sonhavam em existir no Brasil dos anos 60, 70, quando Sofia nasceu e viveu sua adolescência. Ela gostava de poesia e personalizou seu quarto com painéis de poesias, colagens tapeçarias e almofadas, coisas que ela produzia na adolescência para deixar seu quarto de um jeito adequado ao seu mundo. Era ali que ela gostava de passar horas a fio.

Já na adolescência vieram os primeiros problemas ‘sentimentais’. Sofia era do tipo romântica e se ‘apaixonava’ com facilidade por qualquer garoto, mesmo que nem se importassem com ela. Passou a ter baixa autoestima por isso. Se achava muito feia e desengonçada e foi esse complexo de inferioridade que a levou quase à depressão profunda, já àquela época.

Dona Mércia passou a fazer intervenções fortes e cotidianamente na vida de Sofia. Jogava remédios sem receita que a filha tomava para emagrecer, mesmo sendo magra. Colocava os irmãos e rapazes amigos da família para vigiar a filha rebelde.

Acreditava mais nos mexericos das beatas fofoqueiras do que na filha e assim castigava a menina a cada comentário maldoso que ouvia sobre ela, sem antes nem saber se era verdade. Primeiro batia. Foram várias surras que Sofia levou.

E quanto mais ela apanhava, mais se rebelava contra o sistema, que para ela significava a proibição, o veto à sua liberdade. E Sofia começou a ler e ler mais, até que um dia chegou a vez de fazer vestibular, escolhendo um curso que não era do gosto de sua mãe.

Os pais, naquela época, queriam filhos ‘doutores’ e fazer uma escolha fora da Medicina e dos cursos nobres era uma afronta à família. E mais uma vez Sofia se mostrou firme na sua escolha; queria escrever, ser escritora, poeta, jornalista. Não adiantaram as críticas negativas: foi em frente e seguiu o seu destino.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Cheiro de Memórias

 

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Já está no prelo meu terceiro livro Cheiro de Memórias, que tem a Edição e revisão da jornalista e amiga Fátima Almeida. 

O livro é uma compilação de  meus textos que foram publicados na página de Opinião da Tribuna Independente, até 2015, quando saí de benefício por motivos de saúde e republicados em meu blog, que ano passado completou dez anos na atual plataforma, mas que não teve festa comemorativa, por conta da pandemia do coronavírus.

Cheiro de Memórias é dedicado a todos aqueles que lutam por um mundo melhor e por justiça social e por oportuno posso dizer que este não tem nenhuma pretensão maior.

Posso concordar que em alguns capítulos há uma semelhança com Mosaicos do Tempo, meu primeiro livro impresso em gráfica, lançado em 3 em agosto de 2018, no Museu da Imagem e do Som (Misa), em Maceió, e em 23 de agosto do mesmo ano, em União dos Palmares, por meio de um financiamento coletivo de campanha, feito por iniciativa dos amigos Odilon Rios e Ana Cláudia Laurindo.

Percebo que nos meus escritos tenho uma verve mais memorialista, não fossem alguns relatos do cotidiano ou avaliações políticas. Agora, aposentada por invalidez ou incapacidade permanente, tenho meu blog como espaço para os desabafos opinativos e também as redes sociais: Facebook, Instagram e  Twitter,  agora publicados em forma de livro. 

Não pense o leitor que eu tenha alguma pretensão maior com minhas publicações; estes textos podem ser definidos como um diário de bordo de uma sexagenária, dando asas à sua imaginação.

Posso dizer que minhas memórias afetivas ficaram lá atrás, nas brincadeiras da infância, na saudosa Rua da Ponte, no pé da Serra da Barriga, ou nas aventuras da juventude, na terra natal, a Terra da Liberdade. Minhas raízes são de lá.

Nasci na Rua da Ponte, de onde veio esse jeito meio atabalhoado, estranho para algumas pessoas, mas sempre com força de lutar pela vida. A força de Zumbi e de Dandara está no nosso sangue. 

Embora Cheiro de Memórias não verse sobre minhas peripécias em  União dos Palmares, trago-a sempre na memória e no coração. União é terra que tem histórias para se contar, personagens interessantes e intensos. De dona Irineia Nunes a nosso poeta maior, Jorge de Lima, que é estudado e conhecido lá fora, mas pouco se fala nele, no município, da mesma forma que  Povina Cavalcanti, que dá nome ao terminal rodoviário da cidade.

Da professora e educadora Olympia, à professora Salomé Barros, entre outros personagens mais populares que permearam a imaginação e as ruas da cidade e que fizeram a história do local e mereciam destaque. Arrisco-me a dizer que a cultura palmarina está na UTI e urge que seja resgatada.

Mas esse texto era pra falar do meu terceiro livro e espero que gostem.

sábado, 8 de maio de 2021

O despertar

Olívia de Cássia Cerqueira

 

Amanheceu. Olhei-me no espelho e tive um susto. Quem é essa mulher, tão envelhecida pelo tempo? Com manchas e rugas na cara, cujo semblante eu desconheci?

Onde foram parar minha juventude e suposta saúde, me perguntei? Os tombos e as quedas promovidos pela falta de coordenação, já não me assustam e até são motivos de piadas: minhas e dos outros.

Em tempos de pandemia também somos obrigados a nos recolher, a não ver os amigos, restringir saídas e a fazer reflexões; sejam elas curtas ou não. E isso vai nos consumindo aos poucos.

O tempo vai nos modificando e nos deixando várias marcas: no corpo e na alma. E do ano passado para cá, muitas perdas irreparáveis. E lá se vão mais de 400 mil mortes no Brasil, muito mais do que numa guerra civil.

Me inquieto e me revolto com tudo isso, mas preciso resguardar o pouco que ainda me resta de lucidez e caminhar. Eu diria que o coronavírus vai mudar nossas vidas de forma permanente. Depois que isso tudo passar, nunca mais seremos os mesmos.

“Em muitos países, as escolas estão fechadas. O mesmo vale para teatros, cinemas, bares e restaurantes. Recomenda-se não viajar, seja por lazer ou por trabalho. Muitas fronteiras estão fechadas”, diz um texto no site da BBC Brasil, de Johann Fortwengel, em 27 março 2020.

Ele afirma que “a maioria das pessoas pode imaginar que todas essas medidas para combater o vírus são temporárias e que em algum momento — em dois, seis ou talvez doze meses — a vida voltará ao normal”, mas na avaliação dele, isso não vai acontecer.

Muitas mudanças podem ser permanentes: sistemas sociais, a maneira de nos relacionar.

“Às vezes, essa janela de oportunidade é propositadamente conduzida para mudar o curso das coisas”, escreve, acrescentando que após o desastre de Fukushima, no Japão, em 2011, a chanceler alemã, Angela Merkel, decidiu, sem pensar muito, que a Alemanha deixaria de confiar na energia nuclear.

“Em outros casos, mudanças revolucionárias ocorrem quase por acidente, como foi o caso da queda do Muro de Berlim”, analisa. E fica a reflexão para nós: como será?

Semana Santa

Olívia de Cássia Cerqueira (Republicado do  Blog,  com algumas modificações)   Sexta-feira, 29 de abril, é Dia da Paixão de Cristo. ...