quinta-feira, 31 de julho de 2014

Um crime inafiançável

Olívia de Cássia - jornalista

A violência cometida contra a mulher é um crime que vem se perpetuando na história da humanidade há muitos séculos. Parece que quanto mais as sociedades avançam no que diz respeito a estrutura, melhoria de vida e aprimoramento do saber, mais essa prática hedionda se avoluma.

Nem as campanhas que são feitas de conscientização contra esse tipo de crime parece que tem adiantado. É só dar uma percorrida no noticiário diariamente para perceber o quanto o ser humano tem sido cruel.
Ao longo dos séculos as mulheres e os movimentos sociais protestaram: nos ambientes de trabalho e na luta diária pela sobrevivência têm reclamado contra o atraso e a brutalidade de ações violentas cometidas contra elas.

Muitas mulheres foram mortas por lutarem por dias melhores e mais justos e outras conseguiram seu lugar na sociedade, mas nos dias atuais, cotidianamente, é comum o noticiário expressar toda a brutalidade dos companheiros contra as suas mulheres, numa demonstração de fraqueza e covardia insanas.

A violência contra as mulheres é uma atitude mesquinha, covarde e machista de homens que não evoluíram como seres humanos e permanecem na pré-história de suas consciências. Avaliam eles que as companheiras são objetos de sua propriedade com os quais podem manipular e dispor da forma que lhes cabe.

Apesar da aplicação da Lei Maria da Penha a violência contra a mulher vem crescendo de forma incontrolada também em Alagoas. Os assassinos têm o mesmo perfil, maridos, ex-maridos, namorados e companheiros inconformados com o fim do relacionamento. Estamos vivendo uma guerra desigual.

Segundo os últimos estudos realizados pelas instituições ligadas ao tema, aumentou o nível de preocupação com a violência doméstica em todas as regiões do País.

A violência contra as mulheres dentro e fora de casa foi apontada como o problema que mais preocupa a brasileira na atualidade.

Segundo o Mapa da Violência de 2013, as mulheres jovens são as principais vítimas de espancamentos e assassinatos.

O estudo aponta que, de 2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou . Só em 2011 mais de 4,5 mil mulheres foram assassinadas no país. Desse total, a taxa de mortes entre as mulheres jovens foi de 7,1 por grupo de 100 mil, enquanto na população não jovem, com idades abaixo de 15 e acima dos 24 anos, o índice foi de 4,1.


É preciso que fiquemos vigilantes diante desse grande problema que afeta a humanidade e que deve ser tema de muitos estudos nos próximos anos. Que a paz esteja presente em nossos corações. Boa tarde. 

Premiação do 4º Anuário Destaque Empresarial acontece nesta quinta, 31

Foto: Olívia de Cássia

Antono Pereira, presidente da Jorgraf. 
Evento vai homenagear empresários e gestores que se destacaram no Estado em 2013

Olívia de Cássia – Repórter

 Nesta quinta-feira, 31, no pátio do Museu Théo Brandão, na Avenida da Paz, no Centro de Maceió, acontece a cerimônia de premiação do 4º Anuário Destaque Empresarial, promovida pelo jornal Tribuna Independente, em homenagem aos empresários e gestores que se destacaram no ano de 2013. Mais de 30 empresas serão homenageadas no evento e também haverá algumas surpresas, segundo os organizadores do evento.

As áreas de atuação que vão ser agraciadas com o troféu Anuário Destaque Empresarial Alagoano 2014 são os segmentos: do comércio, indústria, imobiliário, agropecuário, moda, educação, saúde, esporte, cultura, gestão pública, gastronomia, entre outros.

Segundo Antonio Pereira, diretor-presidente da Jorgraf (Cooperativa de Jornalistas e Gráficos de Alagoas), a quarta edição do Anuário Destaque Empresarial é uma celebração da Tribuna Independente com o setor produtivo de Alagoas que muito contribuiu com o sucesso da Tribuna nesses sete anos.

“O sonho da Cooperativa Jorgraf a cada ano vem se consolidando: com o portal Tribuna Hoje,  que trabalha com o factual, procurando em tempo real colocar as notícias de forma direta e rápida, para chegar aos internautas na hora em que o fato acontece; o jornal Tribuna Independente, que completou sete anos em julho e o Anuário Destaque Empresarial, que é mais um produto da cooperativa”, explica o presidente.

Antonio Pereira destaca que o objetivo do Anuário é enaltecer os empresários e gestores que atuam para engrandecer o nome de Alagoas, em nível nacional e até internacional. “Mais um ano de conquistas se consolida, mais um ano de batalha, pela melhor posição no mercado. Tudo isso é um pouco fruto de todos os que serão homenageados nesta quinta-feira, e que fazem parte do nosso sucesso”, observou.

ESPAÇO ESTRATÉGICO

Segundo a diretora comercial Marilene Canuto, o Destaque Empresarial é um espaço estratégico de divulgação do crescimento econômico empresarial e da gestão pública em Alagoas, como também das empresas que estão se instalando no Estado, acreditando na economia local.

“O que a gente quis com a ideia do anuário foi oferecer um produtor diferente, que não caísse na mesmice. Estamos homenageando empresários que têm a oportunidade de sair com uma matéria da sua empresa e divulgar o seu produto dentro de uma publicação de qualidade: capa em papel couchê; o miolo todo em papel ecológico; dentro das normas do meio ambiente, fazendo com que tudo isso seja um produto diferenciado”, observa.


Segundo a diretora comercial, este ano a premiação terá duas novidades, são duas empresas que estão tendo ascensão no Estado: são empresários que chegaram de fora ou que já estão no mercado. “O reconhecimento e a participação dessas empresas vem de um trabalho de meses e todos que são homenageados tem algo a apresentar como mostrar o anuário, isso é uma honra para nós”, ressalta. 

Alagoano chega ao cargo de secretário de governo de Massachusetts

Graduado em jornalismo ele foi aperfeiçoar o inglês e resolveu ficar

Olívia de Cássia – Repórter

O alagoano Marcony Alex de Almeida Barros ou Marcony Almeida é graduado em jornalismo desde 1998, formado pela Universidade Católica de Pernambuco e foi para os Estados Unidos para melhorar o inglês. Natural de Maceió e com 38 anos, atualmente ocupa o cargo de secretário de governo em Massachusetts, nos Estados Unidos.

Quando ainda era estudante de Comunicação Social no Brasil, Marcony Almeida conta que recebeu uma premiação como Talento Universitário (em 1988), promovido pelo extinto jornal Tribuna de Alagoas. “A Tribuna lançou um prêmio de monografia onde estudantes ganhariam uma poupança da CAIXA (os três primeiros lugares) para a monografia com o título, O Papel Social da Imprensa em Alagoas. Eu participei com outras centenas de estudantes e ganhei o primeiro lugar”, observa.

O jornalista conta que ingressou na carreira acadêmica de jornalismo em Recife, e lá ganhou outros prêmios universitários. “Meu TCC foi um vídeo sobre doenças mentais e formas alternativas de tratamento; ganhei um prêmio em Porto Alegre como melhor vídeo, na PUC de lá”, destaca.

ATUAÇÃO

Solteiro, Marcony Almeida conta que no Brasil atuou como repórter de economia do Jornal do Commercio de Recife e colaborador do O Jornal, em Maceió. Por e-mail ele bate um papo com a reportagem e fala como foi galgar o cargo que hoje ocupa nos EUA.

Marcony Almeida relata o momento de quando foi morar no exterior e como se deu essa passagem. “Sempre tive vontade de aprender inglês e fazer um curso de especialização no exterior. Daí um amigo de faculdade que morava aqui em Boston com a namorada me convidou para vir estudar inglês”, explica.

Ele pontua que aprendeu a língua e depois ingressou na universidade. “Quando consegui meu primeiro estágio numa ONG, chamada Centro do Imigrante Brasileiro, em Boston, fui chamado para trabalhar não só na área de imprensa, mas de educação cívica, para os imigrantes que moram em Boston”, conta.

Com seu trabalho, ele pontua que foi homenageado pelo prefeito de Boston com o prêmio “Novo Bostoniano do Ano”, oferecido àqueles cujo trabalho tem impacto na vida dos imigrantes da cidade. Foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio. 

O jornalista alagoano radicado nos Estados Unidos explica que ficou na casa de um amigo assim que chegou ao exterior e foi estudar numa escola que encontrou quando chegou por lá.

Para se manter, jornalista trabalhou em restaurantes; foi garçom e caixa

Marcony Almeida fala também das atividades que desenvolveu para se manter nos Estados Unidos, antes do seu trabalho na ONG Centro do Imigrante Brasileiro, em Boston. “Trabalhei em cozinha de restaurante; fui garçom, caixa, até meu primeiro emprego na ONG. Sempre adorei política e procurei me envolver com isso aqui; sou editor de minha própria revista também, então sempre estou ligado no meio politico divulgando tudo”, destaca.

Segundo o jornalista, quando o atual governador Deval Patrick se candidatou, ele era diretor de uma das maiores ONGs de organização de direitos civis de Massachusetts. “Ajudei na campanha, e quando ele foi eleito me convidou para ser chefe de gabinete de uma das secretarias do Estado. Com a saída da secretária, fui convidado para assumir o posto”, explica.

O alagoano Macony Almeida diz que não há nada melhor na vida do que fazer o que gosta e fazer não só em prol de vocês mesmo, mas do próximo. “Estamos nesse mundo para servir um ao outro. Minha secretaria chama-se Office for Refugees and Immigrants. É um órgão com um orçamento de U$ 23 milhões e que financia projetos de integração social de imigrantes e refugiados no Estado”, argumenta.

Além disso, o jornalista é responsável pelo contato e promoção do governo entre os meios de comunicação de diferentes línguas, conhecidos no exterior como mídia étnica. Segundo ele, existem mais de 100 no Estado.

TRATAMENTO

 Marcony Almeida fala ainda sobre o tratamento que foi dado a ele como nordestino que conseguiu se firmar no exterior. “Já passei por tipos diferentes de tratamento aqui, desde gerente de restaurante limpando a mão suja na minha farda até estar na comissão VIP que organizou a visita da presidente Dilma ao Estado; o governador a recebeu e eu estava na equipe de mídia”, ressalta.

 O jornalista avalia que tudo o que se faz com determinação, humildade, fé e atos dignos, a vida só lhe oferece o melhor. “Às vezes paro e penso no dia que cheguei aqui no ano de 1999; sem falar inglês muito bem, trabalhando em restaurante para pagar meus estudos, e hoje estar na posição que cheguei me deixa muito feliz”, avalia.

Ele observa que o cargo não lhe sobe à cabeça: “Porque cargo hoje a gente tem mas amanhã pode não ter. O que importa é ser um homem decente e profissional respeitado onde quer que você esteja. Tem uma frase magnífica que conheço e acredito muito que diz: ‘floresça onde fores plantado’; é isso que tenho tentado fazer durante minha carreira e minha vida”, pontua.

O jornalista argumenta ainda que, apesar de ter sido discriminado no exterior isso não o abateu: “Faz parte do crescimento pessoal e profissional. Até aqueles tratamentos me fizeram ser o profissional que sou hoje; quando se é discriminado se aprende a não discriminar. Eu sempre procurei respeitar a todos e esperava respeito mútuo. Nunca tive sérios problemas de tratamento aqui. Acho que os outros geralmente lhe tratam pela forma como você se conduz. Claro, existem os ignorantes, mas até aqueles nos ajudam a aprender, a ter paciência, finaliza. 

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Meus animais de estimação

Olívia de Cássia - jornalista
               
Quando éramos crianças tínhamos lá em casa um cão de nome Navan, cachorro que meus pais trouxeram do sítio. Ele era um cão enorme, branco com umas manchas pretas na pelagem e quase morre numa das enchentes do Rio Mundaú. Foi tentar entrar na água e quase foi tragado pela correnteza. Ficamos todos aflitos.

Depois de Navan, nós possuímos o Dob, que era muito parecido com um bassê. Dob foi um presente de tio Antônio Paes, porque comia os ovos das galinhas do sítio. Mas deu um trabalho danado para ele se acostumar conosco, e quando menos esperávamos, ele fugia de volta à Barriguda. 

Dob ficou conosco até morrer, com quase quinze anos, sem dentes, cego e muito gordo. Foi nossa companhia das brincadeiras da infância, por muitos anos. Ficava deitado no calçamento da Rua da Ponte, sem ligar para os carros que podiam atropelá-lo. Ele era muito dócil e se dava bem como todos, principalmente as crianças.

Eu gostava de levar os gatos que pegava na rua para casa, mas mamãe tratava de descartá-los no dia seguinte. Encarregava meu irmão Paulinho de fazer isso, pois eu tinha e tenho asma alérgica, o conhecido puxado, e mamãe não queria me ver às voltas com os bichanos. Mas eu e Paulinho andávamos com uma corda na rua e, de vez em quando, trazíamos um cão vira-lata para casa. Numa dessas investidas, levamos o “Zé Black”, um cão vira-latas amarelo claro e mamãe consentiu que o criássemos.

Zé Black era muito dócil, mas, no mesmo mês em que vovó estava agonizando na casinha dos fundos, na Tavares Bastos, um vizinho deu carne moída com vidro para meu pobre cão e ele morreu de uma forma horrível. Enquanto minha avó dava os últimos suspiros em seu leito de morte, meu cão uivava de dor no quintal da casa sem que tivéssemos coragem de mandar sacrificá-lo. Era muito triste de se ver. Ele expelia do nariz uma secreção amarelada e purulenta e olhava pra nós com aqueles olhos tristes, como se tivesse nos pedindo para aliviá-lo daquelas dores. Chorávamos todos nós com aquele sofrimento.

Quando Zé Black morreu, o amigo Duerninho Wanderley, filho de doutor Duerno, me deu de presente a minha primeira cadela da raça Pequinês, a Kelly, filha de Meg, uma das cadelas da casa de Duerninho, que era muito paparicada por dona Dora. Quando Kelly estava com três meses, apareceram muitos carrapatos em seu pelo e mamãe resolveu matá-los com um veneno que se colocava nas formigas tipo saúva. Não deu outra. 

Num dia muito chuvoso, quando cheguei da escola no começo da noite, minha cadelinha estava sangrando pelo nariz e com dificuldade de respirar. Envolvi-a em toalhas velhas e saí chorando pelo meio da rua, em busca da ajuda de seu Toinho Mathias. No meio do caminho encontrei Natalete, filha de Toinho, e fomos até ele.  

No percurso eu percebi que a minha doce cadela já não respirava mais e desatei num pranto sem fim. Quando chegamos até seu Toinho ele me certificou da morte da cadela e disse-me que não poderia fazer mais nada. O veneno das formigas havia atingido seus pequenos pulmões. Eu fiquei desesperada, sem saber o que fazer e a trouxe para enterrar no quintal, da mesma forma que tínhamos feito com o Black.

Mas eu queria continuar tentando ter o meu animal de estimação e foi aí que dona Rosa, mãe das minhas amigas Roseane, Rosenilse e Rita me presenteou com outra, da mesma raça, que eu voltei a chamar de Kelly. Depois, seu Vicente barbeiro, pai do Joinha, me deu outra, a Baby, que mamãe se desfez, depois que eu arrumei um namorado que não era do seu gosto.

Ter um cão da raça Pequinês era a moda daquela época. Quando mudei para Maceió voltei a me interessar em criar animais. Já possui vários gatos, que morreram ou foram embora e cinco cães da raça Poodle. O primeiro foi o Tafarel, que eu comprei para dar de presente para meu companheiro, só com a ideia de que ele me deixasse criar meu cão.

A doce Juventina, uma gata vira-lata branca, me presenteada pelo meu primo Daniel, filho da minha prima Izabel, era um amor de doçura. Essa gatinha viveu comigo 13 anos; era muito companheira e carinhosa, só paria suas crias quando eu chegava para ajudar e sumiu no dia do segundo turno das eleições que elegeu Lula presidente. Minhas amigas da Secretaria de Educação brincavam comigo dizendo que a gata tinha desaparecido inconformada com o meu envolvimento na campanha de Lula à Presidência da República.

Juventina pariu 83 gatos, todos anotados por mim, em seus 13 anos de vida. Cada cria que ela paria eu dava nome aos gatinhos, antes de presenteá-los para alguém. A cada livro que eu lia, a cada novela ou filme que assistia escolhia um nome para dar aos meus gatos e cães. Essa é a minha ligação com os animais. De um carinho imenso que tenho por eles.

Meu segundo cão Poodle, que tinha nome de lorde, o Nestor. Morreu com oito anos, vítima de uma doença provocada pelo carrapato, dias depois do falecimento da minha mãe, no dia 27 de dezembro de 2001, quando eu estava muito abalada e deprimida. Hoje, quando conto para os amigos a cena do enterro de Nestor, todos riem porque lembram do enterro da cachorra do Auto da Compadecida, escrito por Ariano Suassuna.

Com Nestor morto nos braços eu saí pela rua, acompanhada do rapaz que eu paguei para enterrá-lo. O rapaz carregava uma enxada nas costas e fomos andando pela rua, procurando um lugar adequado para enterrá-lo, e as pessoas nos olhavam por onde passávamos. 

Quando chegamos nos fundos do Instituto Médico Legal - IML, de Maceió, onde enterramos o Nestor, enquanto o rapaz cavava o buraco, eu ligava para meus irmãos para dar a notícia do falecimento do meu cão. E todos riem quando conto essa história, mas para mim foi muito triste e doloroso, pois os meus animais são para mim os filhos que eu não tive. 

Passada a morte de Nestor, o veterinário que cuidava dele me deu de presente a Dalila, que se chamava Mel e eu troquei o nome.  Dalila me fez companhia por três anos e meio, era uma mocinha muito meiga. Confortava-me quando eu estava triste ou chorando, fazendo alegria com seu pedacinho de rabo cortado e me dando beijos molhados (lambidas).

Ela era um pouco estressada, por conta da falta de tempo para lhe dar atenção e de fazer-lhe carinho, mas nas horas em que eu estava em casa, era muito companheira. Chegou a amamentar meu gato Bono Vox até adulto e quando morreu, o Bono entrou em depressão e depois também morreu envenenado. Com a morte de Dalila e abatida com todos os acontecimentos da minha vida entrei em depressão novamente.

Foi aí que meu primo Edvaldo Siqueira, sabedor da morte da minha cadela, me fez uma proposta que eu procurasse outro animalzinho que ele depositaria o dinheiro na minha conta. Seria um presente seu. Assim o fiz e comprei a Malu, uma Poodle Toy que já fez nove anos e nunca me deu “netinhos” porque precisou ser operada. Além da Malu e do Otto eu tenho agora sete gatos que me fazem companhia nessa minha vida um tanto quanto atrapalhada. Boa noite.

domingo, 27 de julho de 2014

Sindicato não acredita na regulamentação da PEC das Domésticas em agosto

Lei é considerada um avanço pelos
 movimentos  sociais e foi aprovada
 há pouco mais de um ano. 
Foto Sandro Lima

Olívia de Cássia – Repórter

O presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos do Estado de Alagoas, José Ronaldo dos Santos, não acredita na regularização no próximo mês de agosto da Proposta de Emenda Constitucional 72/13 (a chamada PEC das Domésticas), que está parada na Câmara dos Deputados, há pouco mais de um ano. 

A lei que muda os benefícios desses trabalhadores foi assinada em abril de 2013 e estabelece regras para assegurar direitos trabalhistas a essa categoria, como FGTS, férias e adicional noturno. 
Os principais pontos a serem retomados são o pagamento do FGTS (8%) e o direito ao seguro-desemprego para o trabalhador doméstico (de até cinco meses) no mesmo percentual dos demais trabalhadores e a manutenção da contribuição sindical.

Segundo José Ronaldo, esse é um benefício que já deveria ter sido dado a esses trabalhadores há muito tempo. “O empregado doméstico torna-se responsável não só por bens materiais do local onde trabalha, mas também dos filhos e de todo o patrimônio da casa onde trabalha. Essa era uma lacuna que faltava para ser reconhecida; a legislação -se for colocada em prática- vem suprir uma necessidade que já existia”, observa.

O sindicalista lamenta que até agora não tenha sido regularizada uma lei que foi assinada há pouco mais de um ano: “Os empregados domésticos não têm todos os direitos que os demais e é preciso que a lei seja regulamentada para que possamos exigir a sua aplicação”, observa.

Segundo José Ronaldo, existe um prazo em ano político para aprovação de matérias que estão tramitando no Congresso “e eles (o Congresso Nacional) estão dizendo que em agosto vão regulamentar, mas eu não acredito nisso, pois eles tiveram o ano todo para fazê-lo”, ressalta.

A chamada PEC das Domésticas ainda não provocou mudanças significativas no mercado de trabalho e não conseguiu aumentar a formalização no setor, também em Alagoas. Segundo dados do IBGE, no segmento de empregados domésticos no País não houve crescimento no que se refere à formalização no mercado de trabalho, em  2013.

“O índice permaneceu estável – foi de 31,3% no último trimestre de 2012 e de 31,1, no mesmo período e, 2013”, segundo a pesquisa.  Em Maceió, a empregada doméstica Marlene  Maria da Silva Santos , residente na Rua Gilberto Marinho (Quadra B 5) n.62 do Conjunto Osman Loureiro, acha que a lei vem facilitar a vida de quem trabalha no setor.

“Já trabalhei com carteira assinada em várias atividades, mas como doméstica, duas vezes. Saí do emprego agora há pouco, por motivos pessoais da minha patroa, mas tive todos os direitos garantidos; ela me avisou que não ia pagar o FGTS porque não era obrigatório e também eu não tirei o seguro-desemprego”, observa.

Advogado explica que ao contratar um profissional do setor deve ser observada a legislação 

O advogado Mirabel Alves pontua que os empregadores têm que observar a legislação quando forem contratar um empregado ou empregada doméstica, “para não deixarem de cumprir todas as exigências da lei e para que seja evitada futuras complicações decorrentes do não pagamento dos direitos trabalhistas”, destaca.

Entre esses direitos, Mirabel Alves orienta que o empregador deve consultar um contador, para que seja efetivada, nos termos da lei, a contratação. “Evite a violação da lei para não assumir as complicações do processo trabalhista”, ensina.

Segundo o advogado, os direitos trabalhistas dos empregados domésticos previstos na chamada PEC das domésticas serão ampliados, uma vez que antes dessa emenda  constitucional já eram garantidos a assinatura da carteira profissional; salário mínimo; folgas em feridos civis e religiosos; irredutibilidade salarial; décimo terceiro mês; repouso semanal remunerado; férias de 30 dias; estabilidade no emprego em razão da gravidez e licença gestante, sem prejuízo do salário.

“Com o advento da Emenda Constitucional aos direitos já garantidos foram somados: jornada semanal de 44 horas (o que indica que se a pessoa que trabalha como empregado doméstico  trabalhar além dessas horas previstas, passa a ter direito ao pagamento de horas-extras), adicional noturno, FGTS, auxílio-creche  e descanso para o almoço com tempo mínimo de uma hora”, explica.

O seguro desemprego é outro direito garantido antes da emenda constitucional, uma vez que todos os trabalhadores com vínculo empregatício formalizado têm esse direito, segundo o advogado.

Diaristas são a opção encontrada por algumas donas de casa

Alguns empregadores, para escapar da obrigatoriedade do registro em carteira ou porque pesou mais no orçamento doméstico a obrigatoriedade da assinatura da carteira dos trabalhadores desse setor, estão preferindo a contratação de diaristas. É o caso de Maria Eduarda Magalhães, residente da Ponta Grossa, em Maceió, que disse reconhecer justa a medida, mas que não tem condições de assinar a carteira da sua auxiliar.

“Reconheço a justeza da lei para as domésticas; trabalho os três horários e não tenho tempo de arrumar casa todo dia, muito menos de fazer as refeições em casa. Não tenho como pagar um salário justo para uma pessoa trabalhar diariamente em minha casa e por isso optei por uma diarista que vem agora uma vez ou duas por semana para fazer a limpeza mais pesada, dependendo da minha demanda”, argumentou.

Maria Eduarda disse também que da mesma forma que mora sozinha, agora almoça na rua, por não ter tempo de preparar a refeição em casa, já que trabalha em tempo integral. “Decidi por essa forma de organização, já que trabalho em dois empregos e chego muito tarde em casa”, explica.

 Foto: Olívia de Cássia
Secretária da Mulher da CUT avalia que conquistas precisam ser consolidadas

A secretária da Mulher da Central Única dos Trabalhadores em Alagoas (CUT\AL), Girlene Lázaro, avalia que a regulamentação da Proposta de Emenda Constitucional 72/13 vai ser uma batalha no Congresso Nacional, devido ao perfil conservador da maioria dos parlamentares e observa que as conquistas precisam ser consolidadas.

Segundo ela, é necessária uma discussão mais aprofundada sobre a ocupação dos espaços públicos pelas mulheres e a CUT tem se preocupado com isso. “Existe uma expectativa em torno da regularização da PEC; a CUT defende que cada vez mais essas conquistas sejam consolidadas”, destaca.

A possibilidade de a mulher ir para o espaço público, segundo Girlene Lázaro,  ela tem que ter a garantia de outra mulher em casa para assumir o papel que historicamente se convencionou que era feminino. “Na verdade a gente precisa discutir a divisão sexual do trabalho; com homens e mulheres trabalhando em casa, dividindo as tarefas domésticas”, explica.

Girlene Lázaro observa também que se a regulamentação não acontecer, “vai sempre ficar naquela coisa opcional e não como uma obrigação. A lei é um marco histórico: primeiro a garantia de direitos para nós que somos mulheres, pois a maioria dos trabalhadores domésticos é mulher e a gente sabe que ainda existe aquela relação de subserviência, de opressão, de invisibilidade, como se o trabalho doméstico não tivesse nenhum valor”, destaca.

A CUT ainda não tem índices a respeito de possível desemprego na categoria doméstica por conta da legislação. Segundo a secretária, vai haver uma plenária e um curso (em âmbito nacional)  e depois dessas atividades devem sair os índices estatísticos sobre a questão.

Motoristas, jardineiros e caseiros, que desempenhem suas funções em residências estão incluindo na Proposta de Emenda Constitucional 72/13, mas a maioria só poderá desfrutar dos benefícios da lei, quando for regulamentada, apesar de alguns empregadores já estarem colocando isso em prática. 

Encargos sociais podem ser usados como desculpa para descumprimento da lei

Segundo Girlene Lázaro, a argumentação do aumento dos encargos sociais pelos patrões para não quererem aplicar a lei ou desempregarem seus trabalhadores pode ser um dos empecilhos encontrados pelo movimento sindical. “Antigamente se trazia uma pessoa do interior, geralmente meninas menores de idade, para dar uma oportunidade a elas; na verdade essas meninas nem iam para a escola e nem tinham ajuda: era exploração mesmo; com o avanço na lei, isso muda”, pontua.

Determinadas instâncias da sociedade, segundo a diretora da CUT, defendem a implantação de creches públicas; lavanderias; restaurantes públicos; mecanismos que possam facilitar a vida da parcela feminina, para que ela tenha tempo para o trabalho e para sua formação. “Mas há outros setores que discordam: a classe média discorda; nem todo mundo reconhece o trabalho doméstico, não veem a atividade como uma tarefa profissional, que as pessoas têm que ter horário, salário, folgas semanais, proteção social e garantias”, avalia.


Girlene Lázaro observa ainda que é um ganho social a pessoa trabalhar, ser reconhecida como trabalhadora, ter sua carteira profissional para que possa ser reconhecida como pessoa, cidadã, ter horário definido e seus direitos reconhecidos. “Avalio que a PEC é uma conquista que precisa ser regulamentada; uma oportunidade de as mulheres que trabalham no setor possam ter os direitos garantidos e terem a oportunidade de ter um tempo para elas , de ficarem em casa, é mais uma possibilidade de ela pensar em voltar a estudar, de crescer”, acrescenta.  

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Será uma guerra?

Olívia de Cássia - jornalista

Nesse tempo em que se avizinha o processo eleitoral, com a campanha chegando às ruas e às mídias sociais, já deu para se ter um extrato de como serão os dias daqui para frente até chegar o 5 de outubro.

As pesquisas de intenção de voto oscilam, mas mesmo assim dão a vitória à presidente Dilma ou a levam para o segundo turno em primeiro lugar, causando revolta aos opositores de plantão.

Alguém comentava comigo outro dia que estamos numa guerra, ‘uma guerra pelo poder e pela permanência de quem está nele’. Será uma campanha eleitoral de muita ‘sujeira’ diria um analista político.

Nas redes sociais, principalmente no Facebook, as agressões pessoais já dão a mostra de como tudo será; tem gente até desejando a morte da presidente e do ex-presidente Lula, numa demostração de ódio e intolerância; mas é bom que essas pessoas fiquem atentas, porque a Justiça eleitoral está de olho nas ofensas pessoais e quem pensa que as páginas do Face ou de outra rede são particulares se enganam: é um serviço público e estão sujeitos às barras da lei. 

A baixaria é uma atitude que já se vislumbra por aqui. "Há esse risco no horizonte" e muitos políticos não terão o constrangimento de, 'com uma das mãos fazer o jogo sujo e, com a outra, denunciar o jogo sujo dos adversários, reivindicando, assim, licença para enlamear ainda mais o processo’, diria outro colunista de uma revista de oposição ao governo.

E assim nós vamos trilhando caminhos que nem sempre são muito seguros. O governo tem a seu favor várias políticas sociais que foram implantadas para os menos favorecidos ao longo desses anos de gestão. Claro que isso não quer dizer que tenhamos chegado à perfeição e que não aconteceram irregularidades, ninguém é ingênuo, mas é preciso reconhecer as melhorias que aconteceram nesse governo. 

Não adianta o esperneio de quem é contra as cotas para os negros nas universidades, que resgatam uma dívida histórica com quem ajudou a enriquecer esse país, sendo açoitados e tratados feito bichos pelos senhores de engenho; a  criação de várias extensões das universidades federais pelo país a fora entre outros programas. 

O Bolsa Família, que é um programa de transferência de renda, o maior já visto, seja ele uma continuação ou não de uma política do PSDB; o pagamento da dívida externa e o livramento do pais das garras do Fundo Monetário Internacional (FMI), entre outras conquistas que elencamos aqui para não ser muito longa na citação.

Todas essas políticas têm sido alvo de críticas, muitas vezes infundadas de opositores de plantão, que nem se quer procuram se aprofundar a respeito, pois o importante é criticar e ser do contra, mesmo que não se saiba nem o que é, apenas porque é do governo.

Em recente entrevista numa TV portuguesa o cantor Ney Matogrosso, de quem sou muito fã desde a adolescência,  fez críticas ao programa Bolsa Família, mas bem se viu que ele nem conhece direito as diretrizes do projeto, que exige que a criança esteja na escola para que a família tenha direito ao benefício.

Vi um comentário em uma rede social de uma pessoa que não vota no PT e nem nos governos dele, mas que disse: “Há muita hipocrisia de nossos políticos em torno do quanto pior melhor; são de oposição apenas por ser... O importante é ser contra. Isso em nada ajuda”, disse o internauta.

E não estou dizendo aqui que sou contra quem é de oposição e nem quem pensa ao contrário, pois o contraditório faz parte da democracia, mas é de bom alvitre que sejamos honestos e justos pelo menos, coisa que falta no mundo da política.

Por que a pessoa não é honesta e diz: ‘sou contra essa ou aquela política de favorecimento aos mais pobres, porque é contra minha formação e ao que penso, pois não poderei suborná-lo com dez reais em determinada situação e nem explorá-lo o quanto eu puder’?, me dizia outro dia um amigo.  

A gente também sabe que muita gente que criticava em outras épocas tais e tais políticos estão agora todos juntos, ‘comungando dos mesmos ideais’, ou para melhor dizer, no mesmo palanque, mas isso, todos sabem, faz parte do jogo da política. Estamos numa guerra? Fica a reflexão, boa tarde.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Inquietações da minha alma

Olívia de Cássia – jornalista

Tento afastar a agonia da falta de respiração com uma caneca quente de chá de limão e várias especiarias, neste fim de noite. É sufocante essa sensação de aperto, espirros e tais.  Hoje o dia foi de expectativa, um pouco de angústia e sentimento pesado em meu coração.

Aquele aperto no peito que às vezes faz  uma lágrima escorregar, descuidadamente e você de repente se sente perdida na multidão, sozinha e sem direção, desequilibradamente. Estranhamentos que fazem parte da minha vida tão dividida.

Ninguém sabe quanto tempo vai ficar nesse plano e nem de que forma, mas quando a gente sabe que terá mais limitações que outras pessoas,  isso nos deixa um pouco inseguros diante do que virá pela frente.
Nessas horas é muito mais presente a lembrança do meu pai e do meu irmão; a gente começa a se colocar no lugar deles e em como devem ter sofrido durante o tempo da invalidez, de introspecções e inquietações.  No caso do meu pai 14 anos e do meu irmão cerca de oito, aproximadamente.

Peço a Deus que não me deixe fraquejar, que não me permita ficar na dependência total de terceiros. Não quero ser um peso na vida de ninguém. Falta-me equilíbrio, literalmente, as penas fraquejam, mas quero ter muito ainda para viver, aproveitar o que me resta de positivo, transmitir o pouco que sei e deixar algum fruto plantado na terra, já que não tive filhos.

A perspectiva de vir a perder os movimentos não é uma coisa que seja fácil, para ninguém; não se deseja para outro semelhante uma anormalidade assim. Olho a vida, como uma janela que vai ficando para trás, cheia de recordações, de lembranças de tudo o que foi vivido e do muito que ainda poderia me aguardar e me aguarda.

Mas não posso me entregar a um sentimento mais doloroso e pesado; é preciso que eu não me deixe levar e abater pela angústia de uma possibilidade, pois a vida está aí para ser vivida, encantada em cada amanhecer que me resta, em cada dia que eu ainda possa dominar meus movimentos.

Meus sonhos serão mais reduzidos daqui por diante, se já os tinha muito poucos, eu sei, mas quero ainda viver e sonhar, para ter uma razão de ainda viver;  a cada dia poder levantar e ter o prazer de ver o dia raiando, pássaros cantando e dando vivas  à vida.

É fim de noite. As emoções tomam conta da gente, sentimentos profundos que querem se esparramar por aí, vontade de gritar para o mundo que eu quero e preciso de forças, quero vida, quero paz e bem querer. Eu amo a vida e quero celebrá-la enquanto eu puder.

Não permitirei um só instante que esses sentimentos negativos me abatam e me derrotem. Eu já fui assim um dia, mas hoje eu sou e serei mais forte que isso: um sentimento que às vezes atormenta a minha alma, muitas vezes abatida por tanta inquietação.

A calma se faz lá fora a natureza dorme, já adormecem os pássaros, os bichos descansam seu sono tranquilo para renascerem e celebrarem um novo dia amanhã; um dia de esperanças que promete ser cheio de bons fluídos e boas vibrações. Boa noite!


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Perdoa-me...

Olívia de Cássia Correia de Cerqueira

Perdoa-me, se eu te perdoo.
Não me culpo se eu sou assim,
Cheia de afeto e de bem querer...
Querendo ser justa se amo demais
Ou injusta se amo de menos.
Tu não mereces que eu te ame.
Não preciso me perdoar,
Eu sou assim de vez em quando.
Sem nexo, sem fim...
Complexos de mim...
Eu não quero o teu perdão,
Eu não fiz nada para pedir perdão.  
É o fim; adeus.

Os valores se modificaram

Olívia de Cássia - Jornalista

Numa das redações dos  vestibulares que prestei durante meu tempo de secundarista o tema se reportava basicamente ao seguinte argumento: que “os heróis que adotamos, tudo aquilo que construímos e amamos fazem parte daquilo que somos”. 

Esses conhecimentos que nos foram passados, que adquirimos e que carregamos desde o nascimento são fundamentais para a construção da personalidade e do bom caráter do ser humano. Era mais ou menos esse o mote da redação.

Tenho observado que esses valores que tanto preservamos e que carregamos conosco estão se modificando conforme o tempo vai avançando. Os pais já não têm mais controle sobre seus filhos, não têm autoridade como antigamente. A cada dia o que se observa é que o ter vale mais do que o ser: ter um carro importado ou de alto valor, ter muito dinheiro e esbanjar futilidades valem mais do que ser boa gente e ter uma formação humanista. Isso é muito triste.

Não fui educada com luxo, ostentação e nem com muita etiqueta, pois meus pais eram originários da roça e tiveram educação simples, mas as boas regras da educação sempre me foram ensinadas. Meu pai e minha mãe, apesar da origem camponesa, sempre nos ensinaram que a honestidade é fundamental e que para a pessoa ser respeitada tinha que ser honesta acima de tudo.

Seu João e dona Antônia ensinaram-me a não atrapalhar a conversa dos adultos, a obedecer nem que fosse à base do cinturão;  saber conviver nos ambientes; não fazer com os outros o que eu não quisesse que fizessem comigo (não tomar namorado da amiga); ser leal, não ser enxerida, principalmente para o lado de homem casado, essas coisas que mãe e pai ensinavam para os filhos; ensinamentos que carregamos para o resto da vida. “Minha filha, a gente tem que saber entrar e sair nos lugares”, dizia minha mãe.

Tem gente que até para arrumar emprego ou se apegar ao que já tem é bem capaz de fazer “de um tudo”, como diria minha amiga Carlinha. Até perder a vergonha e deixar de lado seus princípios éticos e morais, se é que os tem. É bem verdade que nos dias de hoje está difícil entrar no mercado de trabalho e a gente tem que deixar de lado algumas particularidades, mas até para isso é necessário obedecer algumas regras básicas de comportamento e dignidade.

Minha mãe vivia implicando comigo porque não gostava da minha profissão e tudo o que dizia respeito a ser jornalista era motivo de crítica por parte dela. Dona Antônia não queria que eu fizesse esse curso porque dizia que jornalista era tudo doido, era profissão que não dava dinheiro, “profissão de maluco e de maconheiro”, dizia ela.

Um dia, de tanto reclamar que eu não ganhava o suficiente para ter uma vida “tranquila” na minha profissão, me chamou e começou a dizer que a filha de uma amiga dela, “que não tinha nem um curso universitário”, com o emprego no serviço público tinha carro do ano, casa da mãe mobiliada por ela e roupas chiques. E que eu, como jornalista, nem um carro ainda possuía. Fiquei pensando naquela opinião da minha mãe durante muito tempo, porque, para se ter um carro do ano não se tinha tanta facilidade como nos dias de hoje.

Mas da mesma forma que eu não tinha muita paciência com dona Antônia, coisa que hoje me arrependo bastante depois que ela foi para outro plano, devo admitir que cometia minhas indelicadezas com ela e perguntei então se ela queria que eu usasse do mesmo expediente que a moça para levar a minha vida profissional.

Ciente do que a moça fazia para gozar de tanta regalia, ela então deu a mão à palmatória e parou mais de criticar a minha profissão de jornalista e talvez, a partir daí tenha começado a ver com outros olhos a profissão que escolhi com muito amor, dedicação e carinho.  

Eu já tive um grande amor...

Olívia de Cássia Correia de Cerqueira

Eu já tive um grande amor,
Não pense que na minha idade
eu não tive um grande amor,
que ele não existiu...
Amor de verdade,
aquele sentimento único,
profundo, mesmo inventado,
sofrido, sonhado, 
com gosto de quero mais,
eu tive poucos, mas eu já tive 
um grande amor...

Eu tenho lado e quero respeito

Olívia de Cássia - jornalista

Eu até que no começo simpatizava com a candidatura de Eduardo Campos à presidência do País, mas com o passar dos dias tenho observado que ele está perdido no caminho do tempo. Está cuspindo no prato que comeu durante anos e não tem sido coerente com isso. 

Em sabatina realizada pelo site Uol e Folha de São Paulo, declaradamente partidários de Aécio Neves, ele não convenceu em vários argumentos, entre eles, "quando tentou explicar — e não explicou — a frenética campanha que fez para que sua mãe, Ana Arraes, integrasse o TCU. E ele estava no comando de um governo de Pernambuco.  É, na verdade, uma prática muito velha", diz o jornalista Reinaldo Azevedo, em artigo na tendenciosa e escabrosa revista Veja.

Segundo o jornalista, ele teve a sorte de ter pouco tempo na TV porque não terá o que dizer. "Não deixa de ser uma sorte o presidenciável do PSB ter tão pouco tempo na TV. Terá menos trabalho para achar o que dizer. Até agora, não entendi qual é a tese de Campos nem o que ele pretende", diz ele.
Muito se fala em corrupção do governo do PT, nas falcatruas do Mensalão de outras ‘coisitas’ mais que não vou aqui citar. Não digo e nem defendo a tese de que não teve irregularidades no governo e sempre critiquei todas elas.

Condeno todas as falhas que possam ser comprovadas, contra o patrimônio e contra o erário,  teve gente que quando assumiu o poder, a arrogância falou mais alto e agora está posando de bom-moço, mas tem outros que  se aproveitam disso, como se nos governos anteriores não tivesse havido corrução.

E como teve corrupção, só que muita coisa foi abafada, tipo cuscuz: “Operação Abafa”. Se os casos de corrução e irregularidades estão sendo divulgados agora, não é porque toda a corrupção do mundo tenha acontecido nesse governo, mas é que ela está sendo mostrada para a população.

Não pense nenhum de nós que haja a purismo em política e  santidade, mas a gente tem que escolher de que dado vai ficar; qual o projeto mais interessa para nós e para a sociedade mais carente. Também nãp sou ingênua achando que a luta seja apenas de projetos. É pelo poder mesmo e isso já está claro como água cristalina.

Mas a classe média, da qual faço parte, sendo que sou a média mais baixa, não gosta dos avanços que aconteceram para os menos favorecidos do Brasil, embora não tenham sido por bom mocismo, porque isso não existe na política.

Essa gente não aceita que pobre frequente aeroporto; que frequente universidade, que coma melhor, que frequente shopping. E não venham com esparrelas de que isso não tem acontecido, porque tem;  relembrem o caso do advogado de bermuda que estava no aeroporto e foi alvo de discriminação nas redes sociais.

Eu reconheço os erros que foram cometidos diferente de muita gente que tenta negá-los, e não sou burra ao ponto de propalar que não houve; mas eu tenho um lado, eu tenho bandeiras, eu sempre defendi propostas democráticas, sempre estive ao lado daquilo que se assemelhava com meus valores e com o que eu apreendi com as minhas leituras e o pouco tempo de militância e não vou abrir mão dos meus ideais, muito embora eu tenha consciência que muita gente na politica só visa o poder e a ostentação.

Por pior que seja o momento político, tenhamos a decência de refletir que já foi muito pior; é necessário que a gente se mostre e diga que projeto defende, de que lado vai estar, embora eu seja contra e sempre fui a muitas alianças que aconteceram ao longo dos anos e que foram motivos para que esse estado de coisas tenha acontecido.

O Brasil viveu 20 anos de ditadura militar; todos os governos, inclusive o de Fernando Henrique, o professor-doutor  esclarecido e reverenciado pela Sorbone, foram corruptos.  E não tenho nada de pessoal contra FHC e nem contra “o bebê” Aécio Neves, mas eu tenho um lado e não abro mão dele, muito embora esteja vigilante e cética e exijo respeito, da mesma forma que tenho respeito a quem votará ao contrário das minhas escolhas.

domingo, 20 de julho de 2014

Balanço ...

Olívia de Cássia - jornalista

O domingo vai terminando e com ele a certeza de que estou tranquila com a minha consciência, apesar de um sentimento saudoso no coração e vontade de ter alguém para abraçar e falar das minhas dores. Tarde de plantão e a vida vai seguindo, mas devo ter deixado de fazer um ‘zilhão’ de coisas que deveria ter feito na vida, mas não deu, não foi possível, não tive aporte para isso.

 Às vezes a gente tem momentos de introspecção e reflexão sobre a vida e isso tem acontecido muito comigo, principalmente agora, pela falta de saúde e de outros itens essenciais à vida. Quando a gente chega à idade que eu cheguei, começa a fazer balanços do que viveu e do que deixou de viver.

Não sei mensurar se isso é bom ou prejudicial, mas acontece comigo. Parece que foi ontem que tudo começou e já se perdeu no tempo: a infância, a juventude, os amigos; muitos já se foram e outros se distanciaram. A vida vai levando a gente por caminhos diversos e hoje eu dizia isso para uma amiga. 

Engraçado é que quando somos muito jovens queremos atingir a maioridade, ser dono do próprio nariz, ter liberdade para fazer o que acha que deve, ter responsabilidades e assumi-las. Pelo menos era o que eu e boa parte da minha geração pensávamos, mas naquela época tínhamos outros valores, outros conceitos, outras vivências. 

Pois bem. Não digo que eu tenha me arrependido de qualquer que seja a burrice que eu tenha cometido; e devo ter feito muita besteira na vida e  tenha dado tropeços maiores do que devia e que devo, mas todos eles me serviram e me servem de lições, como a gente costuma dizer.

Dos amores que eu tive eu posso dizer que foram pouquíssimos e todos eles trouxeram experiências doloridas; deixaram marcas e talvez não tenham se estruturado a contento. Eu era uma menina tola, ingênua, não sabia nada da vida.

Mas ouvi certa vez de uma pessoa que é tolice dizer que esse ou aquele relacionamento não deu certo. Ela me disse: ‘deu certo enquanto durou’. Talvez eu tenha que rever meus conceitos e comece a pensar assim.

Sou de uma geração ‘rebelde’, que queria mudar o mundo; a rebeldia fazia parte de nossas vidas, em todos os sentidos: fosse para contestar o que queriam nossos pais, fosse para contestar o que tivesse estabelecido pela sociedade. Para nós o importante era discordar; tínhamos que quebrar as regras e esse meu comportamento e modo de ver a vida me custou algumas situações dolorosas.

Eu vivia às turras com minha saudosa mãe; uma mulher guerreira e lutadora, que não aceitava aquilo de uma menina e na sua simplicidade queria dominar tudo: não se conformava com aquela garota rebelde, queria os filhos, o marido, a casa e qualquer situação sob a sua guarda, tutela e vontade.  E na maioria das vezes ela foi  vencedora em seus anseios.

Eu avalio agora, quando chegada a maturidade que as nossas desavenças não passavam de provas de amor. Minha mãe amava tanto os filhos que queria que todos vivessem segundo suas regras, seus costumes, maneira de ver o mundo e fosse qual fosse a sua filosofia de vida que ela tivesse.

Não percebia que já naquela época o mundo começava a mudar. Muitas vezes, além do preconceito que era muito marcante na personalidade de mamãe, ela se colocava autoritária ao extremo e queria que entendêssemos as suas razões por aqueles meios muitas vezes não tão democráticos e nem politicamente corretos, se é que eu posso dizer assim do seu comportamento. Com meu pai o relacionamento era sempre mais ameno.

Ai que saudade que eu tenho deles, meu Deus. E nessas horas aflitas, de pequenas inquietações e muita carência afetiva, sinto falta daquele jeito deles, dos cuidados redobrados para que eu não fizesse tanta besteira e na sua simplicidade sabiam o que queriam para a família e para o bem dela. Boa noite com saudades!!

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Violência e drogas...

Olívia de Cássia - Jornalista
        
“Bertolt Brecht lamentava: ‘pobre do país que precisa de heróis’. O nosso precisa de democracia substantiva e desarmamento, justiça social e paz. Menos racismo, exclusão e desigualdade, mais cidadania e tolerância”, diz Luiz Eduardo Soares, em resenha sobre o tema da violência no jornal Folha de São Paulo.

Esse tema é inesgotável. Muito já se falou sobre ela e suas causas, mas a cada dia que passa ela aumenta e preocupa. A causa maior da violência  é a certeza da impunidade; não precisa ir muito longe para se perceber isso. Os nossos direitos não são respeitados, a intolerância faz parte das ruas.

Nosso país precisa da presença pública e eticamente inspiradora, “transitando entre diásporas políticas” e convivendo harmonicamente na sociedade. É preciso paz, é preciso respeito pelos idosos, pelos animais e pelo meio ambiente que pede socorro. 

O tema da violência não se esgota, por mais que se fale sobre isso, ela se alastra não só em Maceió, está em toda parte. Na minha União dos  Palmares querida, já não se pode andar nas ruas tranquilamente, a cidade incorporou as mazelas das grandes metrópoles.

Muito se mata e muitos jovens têm morrido por conta do envolvimento com o tráfico de drogas, que não perdoa uma dívida nem de dois reais, tal é a miséria da situação. São jovens no começo da idade que se envolvem com drogas pesadas, que os levam para o fundo do poço.  

Mata-se ali e aqui por qualquer besteira. As pessoas estão perdendo o norte das coisas e não param para analisar nenhuma questão com mais amenidade. É muita intolerância e querem logo resolver tudo à base do chicote, da bala e da vingança pessoal.  Está faltando solidariedade entre as pessoas, políticas de educação para tirar jovens e crianças da ociosidade e ainda mais: falta de fé em Deus.

Sem hipocrisia nenhuma, os valores da juventude já não são mais os mesmos que fomos criados baseados no respeito aos mais velhos, ao próximo e aos nossos pais. Filho mata pai e mãe, pai mata filho e vira tudo uma bola de neve.

Não se sabe onde tudo isso vai parar se não houver uma ação mais enérgica das autoridades constituídas, das instituições religiosas e da escola.  Vejo a proposta da escola integral como a solução para a maioria dos problemas causados pela violência, pois mentes ocupadas não têm espaço para o mal.

Quando uma família vive o drama de ter um filho envolvido em droga não tem um lugar apropriado para colocá-lo, no sentido de que haja um tratamento. Em Alagoas é preciso um olhar especial para essas famílias também. Não é fácil conviver com isso. Uma pena que a juventude esteja desperdiçando suas vidas em troca de nada. 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ainda a infância...

Olívia de Cássia - Jornalista

Minha mãe se preocupava com a quantidade de piolhos que eu adquiria na escola, pois, da mesma forma que meu cabelo era muito grande, abaixo da cintura, ficava difícil dizimar aquelas criaturas. Eu morria de vergonha quando sentava em algum lugar que caía um piolho. Mamãe colocava Baygon, álcool e amarrava minha cabeça com um pano branco, para matar os miseráveis.

Depois fazia uma verdadeira sessão de catação, com o pente fino, para tirar aquelas criaturas nojentas, que estavam mortas. Eu não entendia o motivo de eu pegar tanto piolho, já que tomava tanto banho e mamãe tinha tanto cuidado com a nossa higiene, mas com tanto aglomerado e sentando com outros coleguinhas nas bancas escolares ficava fácil a transmissão.

Nas passeatas comemorativas à Emancipação Política de União dos Palmares, fui escalada para sair de baliza, por quatro vezes, representando a escola, o que me rendeu de Antônio Matias a alcunha de “Baliza”. E toda vez que eu passava em frente a casa dele, ele gritava: “Baliza!”. Eu não acredito que eu tivesse desenvoltura, nem beleza, como eu via nas minhas amigas, além de ser muito pequena, para sair de pelotão em frente das bandas de fanfarra. Eu era muito sem jeito e dava meus tropeços, mas dona Lalinha ia lá em casa pedir a mamãe e ela deixava eu desfilar, ainda agora não entendo o motivo.

Além dessas participações em frente às bandas de fanfarra das escolas, fui porta-aliança  de quatro casamentos na cidade: o de meu tio Antônio com tia Hermínia (eu e a prima Rita), o de dona Carminha Leão e Anselmo, o Nininho (novamente a mesma dupla),  o de tia Renalva com Zequinha (idem),  além de ter sido, também, dama de outra moça da rua do Jatobá, que já não lembro mais quem foi.

Eu era muito desajeitada, desastrada e quando estava aprendendo a andar de bicicleta, caía muito. Quando Rosemary Veras ganhou sua primeira Monark eu pedi emprestado para dar uma voltinha. Era nova em folha, vermelha, e fui andar na rua do “Cangote”.  Mas para desviar de uma carroça, fiz uma manobra tão maluca que levei uma bruta queda, me arranhei toda, amassei e empenei o novo brinquedo de Mary. Coitada da minha amiga, não sei  qual  foi a desculpa que deu quando chegou em casa com  sua bicicleta  toda destroçada, mas eu fiquei envergonhada.

Minhas traquinagens de criança arteira chegavam ao fim quando mamãe descobria que eu estava tomando banho no Rio Mundaú, quase ao meio dia, com minhas amigas de infância, Maria José e Marisa, irmãs de Quitério Matias. Levava umas boas sovas com o cinturão de meu pai, que mamãe guardava atrás da porta do quarto.  E assim eu ia desobedecendo às ordens da minha mãe, ao contrário do meu querido irmão Petrônio, que era sempre muito obediente e terminou sendo chamado por nós, os outros filhos, de o “queridinho da mamãe”.

Nas festas de Santa Maria Madalena papai, que era devoto fervoroso da santa, nos levava ou ia às nove noites para o evento. Era quando a gente cometia os excessos: da gula, com os tira-gostos que mamãe fazia, e tomávamos bastante refrigerantes, além de comer pipoca, amendoim e tudo o que pudéssemos consumir, além das voltinhas na roda-gigante, corridas nos barcos, que faziam parte das nossas pequenas realizações infantis.

Nossa casa ficava cheia de visitas, dos parentes e dos amigos dos meus pais. Eu ficava contente porque sabia que mamãe não ia me bater, caso cometesse algum deslize, e que ela ia preparar comidas diferentes. Eu sempre fui muito comilona. Mamãe nunca teve problema com a minha alimentação, porque sempre comi de tudo. Mas quando eu adoecia, não queria comer nada e ela me adulava, oferecendo as comidas que eu mais gostava. Se eu ficasse sem comer, era porque não estava bem, era o primeiro sinal de que estava doente.

Meu padrinho Durval Vieira ia me buscar, todos os domingos, na Rua da Ponte, para passear de jipe. Íamos para a fazenda Sete Léguas, de propriedade dele, onde comíamos muitas frutas e tomávamos banho no açude. Na Semana Santa, meu padrinho mandava represar o açude que transbordava de tão cheio, para que fosse feita a pescaria. Entrávamos ali, eu e Luciana Medeiros, sobrinha de madrinha Nenzinha, esposa de padrinho Durval, junto com os empregados do sítio, para observarmos os peixes que eram pescados. Eu adorava aqueles passeios com o meu padrinho, que só me trazia para casa na hora do almoço. Tinha muita afeição por ele e por minha madrinha Nenzinha que ainda vive em União.

Minha avó e meu pai queriam que eu seguisse a carreira religiosa e me tornasse feira. Eu dizia para minha avó que nunca iria me casar e que adotaria uma criança, quando ficasse mais velha. Eu sempre repetia isso: que não queria ter filhos porque tinha medo de parir. Dizia também que não queria casar porque, logo cedo, desenvolvi uma aversão pela instituição oficial do casamento, como se eu já estivesse prevendo o que iria me acontecer no futuro.

Eu não queria, assim como muitas mulheres da minha família, casar apenas por casar, por uma obrigação, ou por determinação dos meus pais. Eu ouvia muitas histórias de primas e primos que tinham se casado porque os pais os obrigaram, ou para não ficarem solteiros. Eu queria me unir com alguém que gostasse de mim, que me amasse, pois sempre fui muito sonhadora e utópica, talvez influenciada pelos livros que lia e pelas novelas que assistia. Mas a vida da gente vai dando voltas e voltas e nem sempre o que a gente sonha é o que acontece.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Lixo interno...

Olívia de Cássia – jornalista

Não é só o lixo material que a gente acumula em casa que deva ser jogado fora. Todo aquele sentimento que não constrói e que não nos faz evoluir também deve ser sacudido. Passei muito tempo acumulando ‘lixos interiores’, sentimentos profundos, mas não correspondidos e isso me fez muito mal.

Durante a minha adolescência acumulei problemas os mais variados e seria um exemplar indicado para os terapeutas. Dos conflitos existências; problemas da adolescência até os familiares que se acentuavam a cada dia, era um prato cheio para quem quisesse estudar o ‘fenômeno’.

Eu era uma adolescente complicada e problemática; cheia de vontade e desejos de mudar o mundo, com uma ânsia profunda de aprender, viajar e lutar para que meus amigos fossem felizes.  Acreditava que as minhas amizades, meus livros e meus discos eram a  maior riqueza que eu tinha, além de alguns familiares.

Nunca tive ânsia de acumular bens materiais; era uma jovem muito sonhadora: gostava de fazer e ler poesia, de conversar com os amigos sobre meus conflitos pessoais e me colocava transparente para todos: nunca discriminei nenhum deles, não percebia malícia em nenhum; era como se fôssemos todos uma grande família.

Na União dos Palmares das décadas de 1970 e 1980, período da minha pré-adolescência e juventude, eu passei por muitos caminhos, me desviei de outros e fui alvo de muitos comentários; a maioria deles infundados.

Analisando o comportamento dos jovens de hoje com o que eu fazia percebo que fui ‘revolucionária’ do meu tempo. Eu contestava o sistema, já àquela época, não admitia intromissões em minha vida, muito embora meus pais tivessem razão quando se preocupavam com algumas situações que eu estava vivendo.

Mas apesar da minha rebeldia eu sempre tive a cabecinha no lugar, muito embora muitas vezes parecesse ser uma ‘porra louca’ ou  doidivanas. Era a minha forma de contestação. Tudo o que eu fazia, avalio eu agora, depois da maturidade, era para que eu fosse ouvida e compreendida de alguma forma.

Queria que meus familiares entendessem as minhas inquietações de menina curiosa e inconformada com as injustiças.  E foi por amar demais e achar que aquele sentimento pudesse transformar o mundo, que muitas vezes passei por situações complicadas, vexatórias, para não falar palavra mais forte.  

Depois de anos passados, algumas terapias, muitas leituras e muito sofrimento vivido, cheguei à conclusão que a melhor coisa da vida é a gente se livrar do medo; do medo de ter medo, medo de viver, nos livrar do lixo interno que  acumulamos ao longo da vida e procurar encarar os fatos com discernimento e suavidade. Boa tarde!

Em busca de mim mesmo (*)

Olívia de Cássia - Jornalista

Com o meu afastamento de Franklin (nome fictício), passei a me refugiar na leitura e a escrever com mais freqüência; apesar de amar a minha mãe, eu não entendia  por que ela sempre agia comigo com agressividade, sempre se colocando contrária a tudo o que eu gostava de fazer, e a tudo o que eu pensava. Poucas vezes me procurava calmamente para conversar e quando o fazia, eu já estava tão angustiada e nervosa que terminávamos sempre brigando, tornando a nossa convivência difícil a cada dia. 

Acredito que não fosse por maldade, mas ela se vingava de mim, quando tinha raiva de algo que eu fazia, me tirando o que eu mais gostava, a exemplo de meus animais, ou cortando a minha mesada, porque ela sabia como me atingir, de alguma forma. Era como se tivesse medo de que algo viesse a me acontecer, mas não sabia se expressar, nem explicar, no sentido de que eu compreendesse a sua preocupação. 

Às vezes mamãe agia comigo como se em algum lugar do passado eu a tivesse feito sofrer algum trauma, ou a tivesse magoado muito. Era a maneira que ela falava comigo que me dava revolta. Dessa forma, tentava fazer com que eu compreendesse seus motivos me batendo, me xingando e me dizendo coisas grosseiras e indevidas para o momento, ou me tirando coisas materiais. 

E quando minhas tias chegavam em União dos Palmares ela contava o que tinha feito comigo, rindo e dando gargalhadas; quando eu escutava aquelas palavras, ficava revoltada. Ela sabia que estava me fazendo sofrer e ria de mim para meus familiares. Ria da minha inocência, da minha tolice e dos meus sentimentos, que ela achava bobos, e aquilo me magoava muito. 

Hoje eu entendo que tudo o que minha mãe fez foi tentando me preservar do sofrimento, foi pensando no meu bem-estar, mas ela não sabia como demonstrá-lo e acabava metendo os pés pelas mãos, principalmente quando me agredia. Era como se tivesse se vingando de um inimigo do passado. Coisa que eu tentei entender na terapia, ou conversando com alguns colegas espíritas. Mesmo eu tendo acabado o meu relacionamento com Franklin, que foi apenas um amor quase platônico, meus problemas não acabaram, muito pelo contrário.

Comecei a usar algumas roupas largadas, estilo meio hippie, calças jeans que eu adaptava para ficar um pouco do meu jeito. Reformei uma das minhas calças compridas, retirei o coes de uma delas, deixei como se usa agora, abaixo do umbigo, que eu usava com uma camisa tamanho cinco, do meu pai, bem larga. Gostava de usar aquelas roupas, para esconder a minha gordura, pois sempre fui muito complexada. Era como se eu usando aqueles trajes um pouco masculinizados e sem beleza plástica nenhuma, eu pudesse esconder a minha feiura e os meus defeitos físicos, que eu achava, eram muitos.

Achava-me gorda, mal feita e feia, completamente fora dos padrões que a sociedade exigia para uma mulher. Foi aí quando comecei a tomar remédio para emagrecer, escondido da minha mãe; quando ela os achava, jogava tudo no lixo. Ela acreditava que eu estivesse usando aquelas roupas, influenciada pelo meu ex-namorado e para imitá-lo. E não teve dúvidas: rasgou e queimou quase tudo, me deixando apenas algumas poucas peças no meu guarda-roupa. 

Nos livros que eu lia, eu procurava explicação para toda aquela forma de agir. Lia a Bíblia, o Evangelho segundo o espiritismo, todos os diários que foram publicados à época, inclusive o de Anne Frank, uma menina judia que tinha sido posta no campo de concentração durante o nazismo. Lia livros de psicologia e de comportamento, romances de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Machado de Assis, temas políticos e sociais e o que me caísse às mãos. Foi quando, na minha busca interior, tentei enveredar pela pintura, pela poesia, culinária, mas nada dava certo, eu não conseguia me encontrar.

Aqueles complexos e sentimentos negativos me perseguiam. Sentimentos reprimidos que me impediam de crescer, como se eu estivesse presa a uma teia de acontecimentos passados, que impediam que eu fosse adiante, que progredisse a minha criatividade e a minha intelectualidade. E como a “Cinderela” descrita por Colete Dowling, eu ainda esperava por algo externo, que viesse transformar minha vida, como num passe de mágica. (* Outro capítulo do  meu livro Mosaicos do Tempo)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Meus sonhos


Por Olívia de Cássia Correia de Cerqueira

Vão ficando
mais distantes
a cada dia...

Me desespero
porque
vejo que
eles estão
se dissipando...
feito areia do mar
em minhas
mãos...

E me questiono
E me desespero
E espero
E quero
viver...

Viver cada minuto
que me resta,
cada segundo
que se apaga
como fagulha
de fogueira

Inquietude


Por Olívia de Cássia Correia de Cerqueira

Essa minha inquietude
vem da minha alma
insatisfeita e
confusa...

Essa minha rebeldia
vem da minha inquietação
da minha
inconformação...

Sou um ser errante.
Penso que posso
melhorar o mundo
e me aprofundo
em meus pensamentos
e lamentos
incompreendidos...

Vai melhorar

Olívia de Cássia Cerqueira   Todos os dias, procuro repetir esse mantra. “Vai melhorar, tem que ter fé”. Sei que pode ser clichê para mu...