Olívia de Cássia - jornalista
Quando
éramos crianças tínhamos lá em casa um cão de nome Navan, cachorro que meus
pais trouxeram do sítio. Ele era um cão enorme, branco com umas manchas pretas
na pelagem e quase morre numa das enchentes do Rio Mundaú. Foi tentar entrar na
água e quase foi tragado pela correnteza. Ficamos todos aflitos.
Depois de
Navan, nós possuímos o Dob, que era muito parecido com um bassê. Dob foi um
presente de tio Antônio Paes, porque comia os ovos das galinhas do sítio. Mas
deu um trabalho danado para ele se acostumar conosco, e quando menos
esperávamos, ele fugia de volta à Barriguda.
Dob ficou conosco até morrer, com quase quinze anos, sem dentes, cego e
muito gordo. Foi nossa companhia das brincadeiras da infância, por muitos anos.
Ficava deitado no calçamento da Rua da Ponte, sem ligar para os carros que
podiam atropelá-lo. Ele era muito dócil e se dava bem como todos,
principalmente as crianças.
Eu
gostava de levar os gatos que pegava na rua para casa, mas mamãe tratava de
descartá-los no dia seguinte. Encarregava meu irmão Paulinho de fazer isso,
pois eu tinha e tenho asma alérgica, o conhecido puxado, e mamãe não queria me
ver às voltas com os bichanos. Mas eu e Paulinho andávamos com uma corda na rua
e, de vez em quando, trazíamos um cão vira-lata para casa. Numa dessas
investidas, levamos o “Zé Black”, um cão vira-latas amarelo claro e mamãe
consentiu que o criássemos.
Zé Black era muito dócil, mas, no mesmo mês em que vovó
estava agonizando na casinha dos fundos, na Tavares Bastos, um vizinho deu
carne moída com vidro para meu pobre cão e ele morreu de uma forma horrível.
Enquanto minha avó dava os últimos suspiros em seu leito de morte, meu cão
uivava de dor no quintal da casa sem que tivéssemos coragem de mandar
sacrificá-lo. Era muito triste de se ver. Ele expelia do nariz uma secreção
amarelada e purulenta e olhava pra nós com aqueles olhos tristes, como se
tivesse nos pedindo para aliviá-lo daquelas dores. Chorávamos todos nós com
aquele sofrimento.
Quando Zé Black morreu, o amigo Duerninho Wanderley, filho de doutor Duerno, me deu de
presente a minha primeira cadela da raça Pequinês, a Kelly, filha de Meg, uma
das cadelas da casa de Duerninho, que era muito paparicada por dona Dora.
Quando Kelly estava com três meses, apareceram muitos carrapatos em seu pelo e
mamãe resolveu matá-los com um veneno que se colocava nas formigas tipo saúva.
Não deu outra.
Num dia muito chuvoso, quando cheguei da escola no começo da
noite, minha cadelinha estava sangrando pelo nariz e com dificuldade de
respirar. Envolvi-a em toalhas velhas e saí chorando pelo meio da rua, em busca
da ajuda de seu Toinho Mathias. No meio do caminho encontrei Natalete, filha de
Toinho, e fomos até ele.
No percurso eu
percebi que a minha doce cadela já não respirava mais e desatei num pranto sem
fim. Quando chegamos até seu Toinho ele me certificou da morte da cadela e
disse-me que não poderia fazer mais nada. O veneno das formigas havia atingido
seus pequenos pulmões. Eu fiquei desesperada, sem saber o que fazer e a trouxe
para enterrar no quintal, da mesma forma que tínhamos feito com o Black.
Mas eu queria continuar tentando ter o meu animal de
estimação e foi aí que dona Rosa, mãe das minhas amigas Roseane, Rosenilse e
Rita me presenteou com outra, da mesma raça, que eu voltei a chamar de Kelly.
Depois, seu Vicente barbeiro, pai do Joinha, me deu outra, a Baby, que mamãe se
desfez, depois que eu arrumei um namorado que não era do seu gosto.
Ter um cão da raça Pequinês era a moda daquela época. Quando
mudei para Maceió voltei a me interessar em criar animais. Já possui vários
gatos, que morreram ou foram embora e cinco cães da raça Poodle. O primeiro foi
o Tafarel, que eu comprei para dar de presente para meu companheiro, só com a
ideia de que ele me deixasse criar meu cão.
A doce Juventina, uma gata vira-lata branca, me presenteada
pelo meu primo Daniel, filho da minha prima Izabel, era um amor de doçura. Essa
gatinha viveu comigo 13 anos; era muito companheira e carinhosa, só paria suas
crias quando eu chegava para ajudar e sumiu no dia do segundo turno das
eleições que elegeu Lula presidente. Minhas amigas da Secretaria de Educação
brincavam comigo dizendo que a gata tinha desaparecido inconformada com o meu
envolvimento na campanha de Lula à Presidência da República.
Juventina pariu 83 gatos, todos anotados por mim, em seus 13
anos de vida. Cada cria que ela paria eu dava nome aos gatinhos, antes de
presenteá-los para alguém. A cada livro que eu lia, a cada novela ou filme que
assistia escolhia um nome para dar aos meus gatos e cães. Essa é a minha ligação
com os animais. De um carinho imenso que tenho por eles.
Meu
segundo cão Poodle, que tinha nome de lorde, o Nestor. Morreu com oito anos,
vítima de uma doença provocada pelo carrapato, dias depois do falecimento da
minha mãe, no dia 27 de dezembro de 2001, quando eu estava muito abalada e
deprimida. Hoje, quando conto para os amigos a cena do enterro de Nestor, todos
riem porque lembram do enterro da cachorra do Auto da Compadecida, escrito por
Ariano Suassuna.
Com Nestor morto nos braços eu saí pela rua, acompanhada do
rapaz que eu paguei para enterrá-lo. O rapaz carregava uma enxada nas costas e
fomos andando pela rua, procurando um lugar adequado para enterrá-lo, e as
pessoas nos olhavam por onde passávamos.
Quando chegamos nos fundos do Instituto
Médico Legal - IML, de Maceió, onde enterramos o Nestor, enquanto o rapaz
cavava o buraco, eu ligava para meus irmãos para dar a notícia do falecimento
do meu cão. E todos riem quando conto essa história, mas para mim foi muito
triste e doloroso, pois os meus animais são para mim os filhos que eu não
tive.
Passada
a morte de Nestor, o veterinário que cuidava dele me deu de presente a Dalila,
que se chamava Mel e eu troquei o nome.
Dalila me fez companhia por três anos e meio, era uma mocinha muito
meiga. Confortava-me quando eu estava triste ou chorando, fazendo alegria com
seu pedacinho de rabo cortado e me dando beijos molhados (lambidas).
Ela era um pouco estressada, por conta da falta de tempo
para lhe dar atenção e de fazer-lhe carinho, mas nas horas em que eu estava em
casa, era muito companheira. Chegou a amamentar meu gato Bono Vox até adulto e
quando morreu, o Bono entrou em depressão e depois também morreu envenenado.
Com a morte de Dalila e abatida com todos os acontecimentos da minha vida
entrei em depressão novamente.
Foi aí que meu primo Edvaldo Siqueira, sabedor da morte da
minha cadela, me fez uma proposta que eu procurasse outro animalzinho que ele
depositaria o dinheiro na minha conta. Seria um presente seu. Assim o fiz e
comprei a Malu, uma Poodle Toy que já fez nove anos e nunca me deu “netinhos”
porque precisou ser operada. Além da Malu e do Otto eu tenho agora sete gatos
que me fazem companhia nessa minha vida um tanto quanto atrapalhada. Boa noite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário