quarta-feira, 16 de julho de 2014

Lixo interno...

Olívia de Cássia – jornalista

Não é só o lixo material que a gente acumula em casa que deva ser jogado fora. Todo aquele sentimento que não constrói e que não nos faz evoluir também deve ser sacudido. Passei muito tempo acumulando ‘lixos interiores’, sentimentos profundos, mas não correspondidos e isso me fez muito mal.

Durante a minha adolescência acumulei problemas os mais variados e seria um exemplar indicado para os terapeutas. Dos conflitos existências; problemas da adolescência até os familiares que se acentuavam a cada dia, era um prato cheio para quem quisesse estudar o ‘fenômeno’.

Eu era uma adolescente complicada e problemática; cheia de vontade e desejos de mudar o mundo, com uma ânsia profunda de aprender, viajar e lutar para que meus amigos fossem felizes.  Acreditava que as minhas amizades, meus livros e meus discos eram a  maior riqueza que eu tinha, além de alguns familiares.

Nunca tive ânsia de acumular bens materiais; era uma jovem muito sonhadora: gostava de fazer e ler poesia, de conversar com os amigos sobre meus conflitos pessoais e me colocava transparente para todos: nunca discriminei nenhum deles, não percebia malícia em nenhum; era como se fôssemos todos uma grande família.

Na União dos Palmares das décadas de 1970 e 1980, período da minha pré-adolescência e juventude, eu passei por muitos caminhos, me desviei de outros e fui alvo de muitos comentários; a maioria deles infundados.

Analisando o comportamento dos jovens de hoje com o que eu fazia percebo que fui ‘revolucionária’ do meu tempo. Eu contestava o sistema, já àquela época, não admitia intromissões em minha vida, muito embora meus pais tivessem razão quando se preocupavam com algumas situações que eu estava vivendo.

Mas apesar da minha rebeldia eu sempre tive a cabecinha no lugar, muito embora muitas vezes parecesse ser uma ‘porra louca’ ou  doidivanas. Era a minha forma de contestação. Tudo o que eu fazia, avalio eu agora, depois da maturidade, era para que eu fosse ouvida e compreendida de alguma forma.

Queria que meus familiares entendessem as minhas inquietações de menina curiosa e inconformada com as injustiças.  E foi por amar demais e achar que aquele sentimento pudesse transformar o mundo, que muitas vezes passei por situações complicadas, vexatórias, para não falar palavra mais forte.  

Depois de anos passados, algumas terapias, muitas leituras e muito sofrimento vivido, cheguei à conclusão que a melhor coisa da vida é a gente se livrar do medo; do medo de ter medo, medo de viver, nos livrar do lixo interno que  acumulamos ao longo da vida e procurar encarar os fatos com discernimento e suavidade. Boa tarde!

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