Olívia de Cássia – jornalista
Não é só o lixo material que a gente acumula em casa que
deva ser jogado fora. Todo aquele sentimento que não constrói e que não nos faz
evoluir também deve ser sacudido. Passei muito tempo acumulando ‘lixos
interiores’, sentimentos profundos, mas não correspondidos e isso me fez muito
mal.
Durante a minha adolescência acumulei problemas os mais
variados e seria um exemplar indicado para os terapeutas. Dos conflitos existências;
problemas da adolescência até os familiares que se acentuavam a cada dia, era
um prato cheio para quem quisesse estudar o ‘fenômeno’.
Eu era uma adolescente complicada e problemática; cheia de
vontade e desejos de mudar o mundo, com uma ânsia profunda de aprender, viajar
e lutar para que meus amigos fossem felizes.
Acreditava que as minhas amizades, meus livros e meus discos eram a maior riqueza que eu tinha, além de alguns
familiares.
Nunca tive ânsia de acumular bens materiais; era uma jovem
muito sonhadora: gostava de fazer e ler poesia, de conversar com os amigos
sobre meus conflitos pessoais e me colocava transparente para todos: nunca
discriminei nenhum deles, não percebia malícia em nenhum; era como se fôssemos
todos uma grande família.
Na União dos Palmares das décadas de 1970 e 1980, período da
minha pré-adolescência e juventude, eu passei por muitos caminhos, me desviei
de outros e fui alvo de muitos comentários; a maioria deles infundados.
Analisando o comportamento dos jovens de hoje com o que eu
fazia percebo que fui ‘revolucionária’ do meu tempo. Eu contestava o sistema,
já àquela época, não admitia intromissões em minha vida, muito embora meus pais
tivessem razão quando se preocupavam com algumas situações que eu estava
vivendo.
Mas apesar da minha rebeldia eu sempre tive a cabecinha no
lugar, muito embora muitas vezes parecesse ser uma ‘porra louca’ ou doidivanas. Era a minha forma de contestação. Tudo
o que eu fazia, avalio eu agora, depois da maturidade, era para que eu fosse
ouvida e compreendida de alguma forma.
Queria que meus familiares entendessem as minhas
inquietações de menina curiosa e inconformada com as injustiças. E foi por amar demais e achar que aquele
sentimento pudesse transformar o mundo, que muitas vezes passei por situações
complicadas, vexatórias, para não falar palavra mais forte.
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