Olívia de Cássia - Jornalista
Numa das redações dos vestibulares que prestei durante meu tempo de
secundarista o tema se reportava basicamente ao seguinte argumento: que “os
heróis que adotamos, tudo aquilo que construímos e amamos fazem parte daquilo
que somos”.
Esses conhecimentos que nos foram passados, que adquirimos e que
carregamos desde o nascimento são fundamentais para a construção da
personalidade e do bom caráter do ser humano. Era mais ou menos esse o mote da
redação.
Tenho observado que esses valores que tanto preservamos e
que carregamos conosco estão se modificando conforme o tempo vai avançando. Os
pais já não têm mais controle sobre seus filhos, não têm autoridade como
antigamente. A cada dia o que se observa é que o ter vale mais do que o ser:
ter um carro importado ou de alto valor, ter muito dinheiro e esbanjar
futilidades valem mais do que ser boa gente e ter uma formação humanista. Isso
é muito triste.
Não fui educada com luxo, ostentação e nem com muita
etiqueta, pois meus pais eram originários da roça e tiveram educação simples,
mas as boas regras da educação sempre me foram ensinadas. Meu pai e minha mãe,
apesar da origem camponesa, sempre nos ensinaram que a honestidade é
fundamental e que para a pessoa ser respeitada tinha que ser honesta acima de
tudo.
Seu João e dona Antônia ensinaram-me a não atrapalhar a
conversa dos adultos, a obedecer nem que fosse à base do cinturão; saber conviver nos ambientes; não fazer com os
outros o que eu não quisesse que fizessem comigo (não tomar namorado da amiga);
ser leal, não ser enxerida, principalmente para o lado de homem casado, essas
coisas que mãe e pai ensinavam para os filhos; ensinamentos que carregamos para
o resto da vida. “Minha filha, a gente tem que saber entrar e sair nos
lugares”, dizia minha mãe.
Tem gente que até para arrumar emprego ou se apegar ao que
já tem é bem capaz de fazer “de um tudo”, como diria minha amiga Carlinha. Até
perder a vergonha e deixar de lado seus princípios éticos e morais, se é que os
tem. É bem verdade que nos dias de hoje está difícil entrar no mercado de
trabalho e a gente tem que deixar de lado algumas particularidades, mas até
para isso é necessário obedecer algumas regras básicas de comportamento e
dignidade.
Minha mãe vivia implicando comigo porque não gostava da
minha profissão e tudo o que dizia respeito a ser jornalista era motivo de
crítica por parte dela. Dona Antônia não queria que eu fizesse esse curso
porque dizia que jornalista era tudo doido, era profissão que não dava
dinheiro, “profissão de maluco e de maconheiro”, dizia ela.
Um dia, de tanto reclamar que eu não ganhava o suficiente
para ter uma vida “tranquila” na minha profissão, me chamou e começou a dizer
que a filha de uma amiga dela, “que não tinha nem um curso universitário”, com
o emprego no serviço público tinha carro do ano, casa da mãe mobiliada por ela
e roupas chiques. E que eu, como jornalista, nem um carro ainda possuía. Fiquei
pensando naquela opinião da minha mãe durante muito tempo, porque, para se ter
um carro do ano não se tinha tanta facilidade como nos dias de hoje.
Mas da mesma forma que eu não tinha muita paciência com dona
Antônia, coisa que hoje me arrependo bastante depois que ela foi para outro
plano, devo admitir que cometia minhas indelicadezas com ela e perguntei então
se ela queria que eu usasse do mesmo expediente que a moça para levar a minha
vida profissional.
Ciente do que a moça fazia para gozar de tanta regalia, ela
então deu a mão à palmatória e parou mais de criticar a minha profissão de
jornalista e talvez, a partir daí tenha começado a ver com outros olhos a
profissão que escolhi com muito amor, dedicação e carinho.
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