Olívia de Cássia - jornalista
Minha Vó Nenen, madrasta do meu pai, foi morar na entrada da
Terra Cavada e fez amizade com dona Idalina, avó de Zé Maria do Alto Falante,
que eu chamava de vovó. Dona Idalina fazia umas cocadas de banana deliciosas e
quando voltamos a morar na Rua da Ponte, sempre íamos visitá-la quando
estávamos na casa da minha vó-madrasta, Nenen. Essa minha avó-drasta tinha um
papagaio que era muito safado e quando a gente chegava perto dele, desatava a
dizer palavrões. O papagaio não tinha nome e nós o chamávamos de “Meu Louro”.
Ele cantava as cantigas das beatas do padre Cícero e sabia
muitas delas. O papagaio foi levado por minha tia Renalva para o Rio de
Janeiro e morreu em 2002 ou 2003, não
lembro o ano exato, porque o segundo marido dela colocou veneno na casa e matou
o louro, que já estava com mais de 40 anos. Minha tia Renalva me disse, num dos
nossos telefonemas, que chorou muito quando viu o danado do papagaio morto, e
ficou com muita raiva do velho, que matou o papagaio, segundo ela avaliava, fez
por gosto.
Eu fui muito briguenta quando estudava no Rocha Cavalcanti,
contrastando com o meu jeito tímido e quase matuto de ser. Era muito inibida,
cabisbaixa, cabelo comprido de franja, e desconfiada. Mas, numa volta ou
noutra, estava eu de briga com minha amiga Gracinha Melo. Hoje, quando Gracinha
fala numa das rusgas que tivemos, tenho até vergonha.
Acho que eu era um pouco bicho do mato mesmo. Sentávamos na
mesma banca escolar e numa das nossas discussões, na troca de agressões, dei
uma mordida no braço da coitada da Gracinha que cheguei ao ponto de tirar um
pedaço da pele dela, tal qual uma canibal. Brigávamos por qualquer coisa, acho
que até por ciúmes da professora, de quem nos sentíamos donas ou com o direito
de ser mais querida por ela.
A professora Nese, esposa de um médico da cidade, o dr. José
Lima, tinha um jeito esquisito de tratar os alunos, não era como Nina Rosa ou a
professora Josefa e outras de quem aprendemos a gostar. Ela, por qualquer
coisa, nos batia com uma régua enorme que levava para as aulas. Certa vez me
bateu na cabeça com aquele instrumento e eu não contei história: peguei a régua
e quebrei em pedaços, o que me rendeu o castigo de ficar na frente dos colegas,
perto do quadro-negro, servindo de gozação. E como dizem os mais novos hoje em
dia, “paguei o maior mico”.
Eu morria de medo de apanhar com a palmatória, que era um
meio de tortura utilizado nas escolas daquele tempo. Se o aluno desobedecesse à
professora ou cometesse algum mal feito, apanhava com aquele pedaço de madeira
escura, pesado, de cabeça arredondada, e com um cabo, semelhante a uma colher
de pau. A quantidade de bolos (pancadas) que a vítima levava era a que a
professora determinasse, conforme a gravidade da malcriação. Mas, justiça seja
feita, que eu me lembre, felizmente, não cheguei a apanhar de palmatória.
Eu e Rosemary Veras criamos um verdadeiro pavor aos dias de
vacina na escola e dávamos escândalos com medo daquelas agulhas. Num dia de
vacinação no Grupo Escolar Rocha Cavalcanti quase que arrastamos as carteiras
da escola conosco, tal foi o medo que tivemos, quando os homens da saúde
chegaram para nos vacinar contra a rubéola, sarampo, catapora e outras doenças.
Nós nos agarrávamos às bancas escolares como se elas fossem nos proteger das
agulhas e daqueles homens, que nós detestávamos.
Na escola, gostávamos de brincar de mãe e filha. Nossas colegas mais velhas faziam o papel de nossas mães, na hora do recreio, quando não estávamos brincando de roda, amarelinha ou de pular corda. Seu Maurino Veras, pai de Rosemary, era proprietário do serviço de alto-falantes da cidade, pois na época não tinha rádios em União. Desta forma, a população costumava ouvir música por meio das cornetas que eram colocadas em locais estratégicos da cidade: nos postes ou árvores. Nos dias de festa, ele instalava o seu serviço de som na Praça Basiliano Sarmento e os jovens mandavam telegramas musicais e mensagens para seus pretendentes, namorados ou namoradas, e marcavam até encontros, tendo essa prática se tornado comum, naquela época.
Na escola, gostávamos de brincar de mãe e filha. Nossas colegas mais velhas faziam o papel de nossas mães, na hora do recreio, quando não estávamos brincando de roda, amarelinha ou de pular corda. Seu Maurino Veras, pai de Rosemary, era proprietário do serviço de alto-falantes da cidade, pois na época não tinha rádios em União. Desta forma, a população costumava ouvir música por meio das cornetas que eram colocadas em locais estratégicos da cidade: nos postes ou árvores. Nos dias de festa, ele instalava o seu serviço de som na Praça Basiliano Sarmento e os jovens mandavam telegramas musicais e mensagens para seus pretendentes, namorados ou namoradas, e marcavam até encontros, tendo essa prática se tornado comum, naquela época.
Nos anos 60 e 70 as músicas de Roberto Carlos foram
marcantes, para todos que viveram na cidade naqueles anos. No dia-a-dia do serviço de alto-falante de
seu Maurino Veras havia uma programação musical diferenciada: o horário das
músicas mexicanas, músicas nacionais, horário de Roberto Carlos e da Jovem
Guarda, músicas internacionais e serviços de utilidade pública. Eu costumava
frequentar a casa de seu Maurino, para estudar com Mary e ter aulas de
datilografia com dona Rosinha.
Quando fui estudar no Monsenhor Clóvis, depois que saí do
Rocha, desenvolvi uma aversão por matemática. Nunca fui boa em cálculos e na
quarta série primária ganhei uma nota vermelha nessa matéria. Quando cheguei em
casa, minha mãe, de posse do boletim escolar, me deu uma surra danada, me colocou de castigo e
eu nunca mais vi a disciplina com bons olhos: estava sempre me lembrando da
surra que tinha levado, por conta da nota baixa.
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