Olívia de Cássia – jornalista
Tento afastar a agonia da falta de respiração com uma caneca
quente de chá de limão e várias especiarias, neste fim de noite. É sufocante
essa sensação de aperto, espirros e tais. Hoje o dia foi de expectativa, um pouco de
angústia e sentimento pesado em meu coração.
Aquele aperto no peito que às vezes faz uma lágrima escorregar, descuidadamente e você
de repente se sente perdida na multidão, sozinha e sem direção,
desequilibradamente. Estranhamentos que fazem parte da minha vida tão dividida.
Ninguém sabe quanto tempo vai ficar nesse plano e nem de que
forma, mas quando a gente sabe que terá mais limitações que outras pessoas, isso nos deixa um pouco inseguros diante do
que virá pela frente.
Nessas horas é muito mais presente a lembrança do meu pai e
do meu irmão; a gente começa a se colocar no lugar deles e em como devem ter
sofrido durante o tempo da invalidez, de introspecções e inquietações. No caso do meu pai 14 anos e do meu irmão
cerca de oito, aproximadamente.
Peço a Deus que não me deixe fraquejar, que não me permita
ficar na dependência total de terceiros. Não quero ser um peso na vida de
ninguém. Falta-me equilíbrio, literalmente, as penas fraquejam, mas quero ter
muito ainda para viver, aproveitar o que me resta de positivo, transmitir o
pouco que sei e deixar algum fruto plantado na terra, já que não tive filhos.
A perspectiva de vir a perder os movimentos não é uma coisa
que seja fácil, para ninguém; não se deseja para outro semelhante uma
anormalidade assim. Olho a vida, como uma janela que vai ficando para trás,
cheia de recordações, de lembranças de tudo o que foi vivido e do muito que
ainda poderia me aguardar e me aguarda.
Mas não posso me entregar a um sentimento mais doloroso e
pesado; é preciso que eu não me deixe levar e abater pela angústia de uma
possibilidade, pois a vida está aí para ser vivida, encantada em cada amanhecer
que me resta, em cada dia que eu ainda possa dominar meus movimentos.
Meus sonhos serão mais reduzidos daqui por diante, se já os
tinha muito poucos, eu sei, mas quero ainda viver e sonhar, para ter uma razão
de ainda viver; a cada dia poder
levantar e ter o prazer de ver o dia raiando, pássaros cantando e dando vivas à vida.
É fim de noite. As emoções tomam conta da gente, sentimentos
profundos que querem se esparramar por aí, vontade de gritar para o mundo que
eu quero e preciso de forças, quero vida, quero paz e bem querer. Eu amo a vida
e quero celebrá-la enquanto eu puder.
Não permitirei um só instante que esses sentimentos
negativos me abatam e me derrotem. Eu já fui assim um dia, mas hoje eu sou e
serei mais forte que isso: um sentimento que às vezes atormenta a minha alma,
muitas vezes abatida por tanta inquietação.
A calma se faz lá fora a natureza dorme, já adormecem os
pássaros, os bichos descansam seu sono tranquilo para renascerem e celebrarem
um novo dia amanhã; um dia de esperanças que promete ser cheio de bons fluídos
e boas vibrações. Boa noite!
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