segunda-feira, 7 de julho de 2014

Astronauta sem lua

Olívia de Cássia - jornalista

Hoje, enquanto estava dentro da máquina fazendo o exame de ressonância magnética do crânio, passou um filme na minha cabeça. Comecei a rezar todas as orações que lembrava: Pai Nosso; Santa Maria; Ave Maria; lembrei do meu irmão Petrônio; do meu pai, da minha mãe e de todas as nossas histórias de vida.

É a segunda vez em três anos que faço esse exame, para ver o nível de atrofiamento do meu cerebelo. Não é dolorido o exame; apenas um pouco estranho ficar dentro daquela máquina, como se fosse um astronauta prestes a embarcar para a lua.

Tem que ficar imóvel, não mover nem um músculo, para que o exame dê certo e ouvir aquele barulhinho várias vezes. Teve uma hora que o médico disse: “A senhora moveu a cabeça; não pode”. Não percebi que tivesse feito qualquer movimento. Depois ele disse: “Não abra e nem mexa a boca”. Eu também não o percebi.  

Em algum momento, hoje à tarde, me deu vontade de chorar; angústia e desalento eram os sentimentos que afloravam mais fortes dentro de mim, principalmente quando tive que preencher um questionário, fazendo uma autorização para o exame e a moça disse: peça a alguém para lhe ajudar, como se eu não tivesse capacidade de fazê-lo.

Expliquei para ela que não era analfabeta; falei da minha profissão, mas expliquei meu problema e as dificuldades que estava passando, mas tive que engolir aquele sentimento: eu ainda não estou só. Contei com a bondade de minha sobrinha Nathalya, que passou a tarde toda pra cima e pra baixo, de clínica em clínica comigo.

Pensei comigo que, apensar de tudo, de toda a situação, eu tenho que agradecer a Deus. Não estou de todo sozinha; preciso me conter e ser forte diante dos meus sentimentos, diante da vida, da possibilidade de algum dia chegar à invalidez e não ter mais opção de vida.

Mas enquanto eu tiver essa possibilidade eu vou lutar; com unhas, garras, dentes e seja lá o que for. Eu não posso desanimar diante do primeiro, do segundo ou do terceiro obstáculo: serão muitos ainda os que terei que enfrentar, eu sei e tenho consciência do problema. Mas eu não vou desanimar, embora que às vezes as dificuldades pareçam ser bem maiores e mais difíceis. Boa noite.

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