Lei é considerada um avanço pelos
movimentos sociais e foi aprovada
há pouco mais de um ano.
Foto Sandro Lima
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Olívia de Cássia – Repórter
O presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos do
Estado de Alagoas, José Ronaldo dos Santos, não acredita na regularização no
próximo mês de agosto da Proposta de Emenda Constitucional 72/13 (a chamada PEC
das Domésticas), que está parada na Câmara dos Deputados, há pouco mais de um
ano.
A lei que muda os benefícios desses trabalhadores foi assinada em abril de
2013 e estabelece regras para assegurar direitos trabalhistas a essa categoria,
como FGTS, férias e adicional noturno.
Os principais pontos a serem retomados são o pagamento do
FGTS (8%) e o direito ao seguro-desemprego para o trabalhador doméstico (de até
cinco meses) no mesmo percentual dos demais trabalhadores e a manutenção da
contribuição sindical.
Segundo José Ronaldo, esse é um benefício que já deveria ter
sido dado a esses trabalhadores há muito tempo. “O empregado doméstico torna-se
responsável não só por bens materiais do local onde trabalha, mas também dos
filhos e de todo o patrimônio da casa onde trabalha. Essa era uma lacuna que
faltava para ser reconhecida; a legislação -se for colocada em prática- vem
suprir uma necessidade que já existia”, observa.
O sindicalista lamenta que até agora não tenha sido
regularizada uma lei que foi assinada há pouco mais de um ano: “Os empregados
domésticos não têm todos os direitos que os demais e é preciso que a lei seja
regulamentada para que possamos exigir a sua aplicação”, observa.
Segundo José Ronaldo, existe um prazo em ano político para
aprovação de matérias que estão tramitando no Congresso “e eles (o Congresso
Nacional) estão dizendo que em agosto vão regulamentar, mas eu não acredito
nisso, pois eles tiveram o ano todo para fazê-lo”, ressalta.
A chamada PEC das Domésticas ainda não provocou mudanças
significativas no mercado de trabalho e não conseguiu aumentar a formalização
no setor, também em Alagoas. Segundo dados do IBGE, no segmento de empregados
domésticos no País não houve crescimento no que se refere à formalização no
mercado de trabalho, em 2013.
“O índice permaneceu estável – foi de 31,3% no último
trimestre de 2012 e de 31,1, no mesmo período e, 2013”, segundo a
pesquisa. Em Maceió, a empregada
doméstica Marlene Maria da Silva Santos
, residente na Rua Gilberto Marinho (Quadra B 5) n.62 do Conjunto Osman
Loureiro, acha que a lei vem facilitar a vida de quem trabalha no setor.
“Já trabalhei com carteira assinada em várias atividades,
mas como doméstica, duas vezes. Saí do emprego agora há pouco, por motivos
pessoais da minha patroa, mas tive todos os direitos garantidos; ela me avisou
que não ia pagar o FGTS porque não era obrigatório e também eu não tirei o
seguro-desemprego”, observa.
Advogado explica que
ao contratar um profissional do setor deve ser observada a legislação
O advogado Mirabel Alves pontua que os empregadores têm que
observar a legislação quando forem contratar um empregado ou empregada
doméstica, “para não deixarem de cumprir todas as exigências da lei e para que
seja evitada futuras complicações decorrentes do não pagamento dos direitos
trabalhistas”, destaca.
Entre esses direitos, Mirabel Alves orienta que o empregador
deve consultar um contador, para que seja efetivada, nos termos da lei, a
contratação. “Evite a violação da lei para não assumir as complicações do
processo trabalhista”, ensina.
Segundo o advogado, os direitos trabalhistas dos empregados
domésticos previstos na chamada PEC das domésticas serão ampliados, uma vez que
antes dessa emenda constitucional já
eram garantidos a assinatura da carteira profissional; salário mínimo; folgas em
feridos civis e religiosos; irredutibilidade salarial; décimo terceiro mês;
repouso semanal remunerado; férias de 30 dias; estabilidade no emprego em razão
da gravidez e licença gestante, sem prejuízo do salário.
“Com o advento da Emenda Constitucional aos direitos já
garantidos foram somados: jornada semanal de 44 horas (o que indica que se a
pessoa que trabalha como empregado doméstico
trabalhar além dessas horas previstas, passa a ter direito ao pagamento
de horas-extras), adicional noturno, FGTS, auxílio-creche e descanso para o almoço com tempo mínimo de
uma hora”, explica.
O seguro desemprego é outro direito garantido antes da
emenda constitucional, uma vez que todos os trabalhadores com vínculo
empregatício formalizado têm esse direito, segundo o advogado.
Diaristas são a opção
encontrada por algumas donas de casa
Alguns empregadores, para escapar da obrigatoriedade do
registro em carteira ou porque pesou mais no orçamento doméstico a
obrigatoriedade da assinatura da carteira dos trabalhadores desse setor, estão
preferindo a contratação de diaristas. É o caso de Maria Eduarda Magalhães,
residente da Ponta Grossa, em Maceió, que disse reconhecer justa a medida, mas
que não tem condições de assinar a carteira da sua auxiliar.
“Reconheço a justeza da lei para as domésticas; trabalho os
três horários e não tenho tempo de arrumar casa todo dia, muito menos de fazer
as refeições em casa. Não tenho como pagar um salário justo para uma pessoa
trabalhar diariamente em minha casa e por isso optei por uma diarista que vem
agora uma vez ou duas por semana para fazer a limpeza mais pesada, dependendo
da minha demanda”, argumentou.
Maria Eduarda disse também que da mesma forma que mora
sozinha, agora almoça na rua, por não ter tempo de preparar a refeição em casa,
já que trabalha em tempo integral. “Decidi por essa forma de organização, já
que trabalho em dois empregos e chego muito tarde em casa”, explica.
Secretária da Mulher
da CUT avalia que conquistas precisam ser consolidadas
A secretária da Mulher da Central Única dos Trabalhadores em
Alagoas (CUT\AL), Girlene Lázaro, avalia que a regulamentação da Proposta de
Emenda Constitucional 72/13 vai ser uma batalha no Congresso Nacional, devido
ao perfil conservador da maioria dos parlamentares e observa que as conquistas
precisam ser consolidadas.
Segundo ela, é necessária uma discussão mais aprofundada
sobre a ocupação dos espaços públicos pelas mulheres e a CUT tem se preocupado
com isso. “Existe uma expectativa em torno da regularização da PEC; a CUT
defende que cada vez mais essas conquistas sejam consolidadas”, destaca.
A possibilidade de a mulher ir para o espaço público,
segundo Girlene Lázaro, ela tem que ter
a garantia de outra mulher em casa para assumir o papel que historicamente se
convencionou que era feminino. “Na verdade a gente precisa discutir a divisão
sexual do trabalho; com homens e mulheres trabalhando em casa, dividindo as
tarefas domésticas”, explica.
Girlene Lázaro observa também que se a regulamentação não
acontecer, “vai sempre ficar naquela coisa opcional e não como uma obrigação. A
lei é um marco histórico: primeiro a garantia de direitos para nós que somos
mulheres, pois a maioria dos trabalhadores domésticos é mulher e a gente sabe
que ainda existe aquela relação de subserviência, de opressão, de
invisibilidade, como se o trabalho doméstico não tivesse nenhum valor”,
destaca.
A CUT ainda não tem índices a respeito de possível
desemprego na categoria doméstica por conta da legislação. Segundo a
secretária, vai haver uma plenária e um curso (em âmbito nacional) e depois dessas atividades devem sair os índices
estatísticos sobre a questão.
Motoristas, jardineiros e caseiros, que desempenhem suas
funções em residências estão incluindo na Proposta de Emenda Constitucional
72/13, mas a maioria só poderá desfrutar dos benefícios da lei, quando for
regulamentada, apesar de alguns empregadores já estarem colocando isso em
prática.
Encargos sociais
podem ser usados como desculpa para descumprimento da lei
Segundo Girlene Lázaro, a argumentação do aumento dos
encargos sociais pelos patrões para não quererem aplicar a lei ou desempregarem
seus trabalhadores pode ser um dos empecilhos encontrados pelo movimento
sindical. “Antigamente se trazia uma pessoa do interior, geralmente meninas
menores de idade, para dar uma oportunidade a elas; na verdade essas meninas nem
iam para a escola e nem tinham ajuda: era exploração mesmo; com o avanço na
lei, isso muda”, pontua.
Determinadas instâncias da sociedade, segundo a diretora da
CUT, defendem a implantação de creches públicas; lavanderias; restaurantes
públicos; mecanismos que possam facilitar a vida da parcela feminina, para que
ela tenha tempo para o trabalho e para sua formação. “Mas há outros setores que
discordam: a classe média discorda; nem todo mundo reconhece o trabalho
doméstico, não veem a atividade como uma tarefa profissional, que as pessoas
têm que ter horário, salário, folgas semanais, proteção social e garantias”,
avalia.
Girlene Lázaro observa ainda que é um ganho social a pessoa
trabalhar, ser reconhecida como trabalhadora, ter sua carteira profissional
para que possa ser reconhecida como pessoa, cidadã, ter horário definido e seus
direitos reconhecidos. “Avalio que a PEC é uma conquista que precisa ser
regulamentada; uma oportunidade de as mulheres que trabalham no setor possam
ter os direitos garantidos e terem a oportunidade de ter um tempo para elas ,
de ficarem em casa, é mais uma possibilidade de ela pensar em voltar a estudar,
de crescer”, acrescenta.
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