quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Cai de novo, mas estou bem

 




Olívia de Cássia Cerqueira

(08-07-2023)

 Cai de novo e isso não é mais novidade na minha existência. Vivo relutando em ter cuidadora, às vezes me aborreço quando alguém (familiar) sugere a situação, mas sou teimosa, sei que vou passar perrengues financeiros e pessoais.

Preservo muito a minha individualidade. Não me sinto só.  Sempre sonhei em morar sozinha, desde adolescente rebelde. Hoje sei que a minha rebeldia não me levou a nada, ou a quase nada. Minha mãe deve estar dizendo, onde estiver: “Eu avisei e você não entendeu”.

Desde a aposentadoria que não escrevo mais em bloquinhos, de quando fazia minhas entrevistas iniciais, porque depois ganhei um gravadorzinho porreta, que veio pelo correio.

O gravador digital e pequeno, vindo do Rio de Janeiro, presente do meu primo Edvaldo Siqueira, também portador da famigerada Ataxia (DMJ), me ajudou muito, porque antes de pendurar a chuteira no jornalismo, não conseguia acompanhar a fala dos entrevistados e reportar com clareza o que diziam.

Comentando por e-mail com Edinho, quando ele ainda conseguia usar a tecnologia, me fez o carinho do presente. Hoje perdi o contato com ele e soube que está muito debilitado, pelos sintomas da doença.

Não costumo adotar negatividade por ter herdado esse problema, que me limita a cada dia e me leva a chamar palavrões quando caio (é libertador), mesmo que em seguida peço perdão aos anjos de luz, a Deus e às entidades que me protegem até agora, me livrando de uma quebra de bacia ou de outro membro.

Não tenho luxos, vivo uma vida simples. Penso que apesar dos pesares, meu anjo da guarda está de plantão, ininterruptamente, e comentei outro dia com alguém próximo que não lembro quem, que ele deve reclamar dos apelos dessa velha chata, há,há.

E por falar em velhice, avalio que ainda não me caiu a ficha. Não me reconheço quando me olho no espelho. Cadê aquela menina sonhadora e juvenil, que nunca se aceitou porque se achava muito feia (hoje repenso isso) que ainda gosta de Rock e da boa música?

Quase não saio mais de casa, apenas para supermercados, farmácias, médico  e uma vez no mês ao shopping, sempre acompanhada, coisa que eu estava fazendo com frequência antes. Ia com a amiga Iranei Barreto;  nos conhecemos em 2004, numa pós-graduação. Íamos toda semana ao cinema, às exposições, restaurantes.

Não fiz mais pequenas viagens, por conta de limitações e de implante dentário protocolo que fiz e de alguns e empréstimos consignados, me limitando ao saldo líquido da aposentadoria...

Ontem resolvi ir num salão cortar o cabelo e fazer as unhas, que estavam um horror. Fui com minha cunhada Sônia. Passei o final de semana sem sentir dores e até comentei que no sábado eu não havia ingerido medicamento para dor. Me limito muito para ir a médicos.

Quando voltei do salão já estava com dores, de cabeça e no corpo inteiro e caí de novo na cozinha. Me arrisquei a tomar uma dose forte de um remédio para dores, neurológicas, pois novamente o joelho esquerdo ficou dolorido. Ainda estou mais bêbada ainda do remédio…

Escuto as notícias dos ídolos que estão indo para outro plano. Me entristeço, pois nossa cultura está mais pobre a cada dia. Gal, Elis Rita Lee e tantos outros artistas que se foram e estão indo, por problemas de saúde, drogas, e pela idade.  É a vida.

Não tenho medo da morte, mas fico pensando que terei uma dor muito forte quando, ela vier me buscar e me preocupo. Depois que fui diagnosticada com Ataxia, oficialmente, pelo médico (eu já sabia que era portadora), dr. Fernando Gameleira, neurologista dos bons, me receitou Fluoxuetina, para ansiedade, Lomitrogina, para cãimbras.

Fora isso controlo a pressão com Enalapril, receitado pelo cardiologista (disse que o exame cardiológico  deu ok, apenas um problema tolo que não me disse qual era), remédio para o colesterol, e para alergia, quando tenho crises

Tomo por conta própria um complexo vitamínico, alguns analgésicos que tomo quase diariamente e alguns que pego com alguém.

Não é fácil conviver com Ataxia, mas ocupo meu tempo de aposentada com leituras vorazes: quando termino uma, já pego outro livro; com palavras cruzadas e vendo séries; ou fazendo tarefas domésticas que hoje em dia procuro fazer para não atrofiar logo.

Quando jovem, não gostava de fazer tarefas domésticas, sempre achei que elas ocupavam o tempo das leituras e do bater pernas na rua, com  as amigas. Sou uma péssima dona de casa, me apavoro quando surge um problema, que preciso resolver: entupimentos, vazamentos, problemas na energia.

Nessas horas eu lamento não ter uma pessoa em casa, que resolva isso. A laje da casa apesenta problemas de infiltração, precisa cobrir com telhas impermeáveis. Hoje quebrei um prato com o ovo que preparei para o café da manhã. Nem meus pets quiseram o ovo no chão. Acho que não gostaram do sabor.

Também estou teclando “catando milho” para não errar tanto na digitação. Mas agradeço sempre por ainda poder realizar pequenas tarefas em casa. Resta lembrar da minha juventude e das pequenas aventuras, que participei na infância e juventude: ”poderia ter aproveitado mais”.

Resta me redimir dos pecados e pedir a Deus e aos anjos de luz, para quando aquela senhora sinistra quiser me levar para outro plano, que não me deixe acamada e precisando de alguém para me fazer higiene ou me transportar de vez, pois atualmente já saio acompanhada.

E hoje resolvi deixar a preguiça de lado e voltar a fazer minhas confissões, já que só tenho psicóloga dia 15. Mas hoje não vou poder postar no blog, porque deu problema na parte de cima da casa e a internet do computador não está funcionando. Fui. Até a próxima.

2 comentários:

DILERMArtins disse...

Oi Olivia, que bom ler teu texto, hoje ainda escutei um amigo que mantém uma rádio no Facebook, falando sobre velhice e na hora rebati dizendo; como falou Mario Quintana: "Envelhecer é um privilégio" Por outro lado as limitações que algumas doenças nos empõe são bem pesadas, mas te digo, outro dia estava conversando com uma prima que fez transplante de rim.. Ela contando que tinha uma colega de enfermaria que ficava constrangida de ter a higiene intima feita por uma enfermeira, enquanto ela, minha prima, ria e dizia; ainda bem que tem alguém pra me limpar, pior se não tivesse! Já estou com 73 anos, tive um infarto em 2012, deixei de fumar e vou indo. Meu exercício é cuidar de uns bichos, 2 ca~es, alguns coelhos e algumas galinha e patos. Assim mesmo sem academia faço uns 40 minutos de exercícios por dia. Cai enda não, mas sou freguês de esquecer torneiras abartas. kkkkkkkkkkk Quando quiser trocar uma ideia. conta comigo. Boa noite guria.

Anônimo disse...

Obrigada .

Olivia

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