domingo, 18 de novembro de 2012

Escrevo o que penso

Olívia de Cássia – jornalista

A noite cai lá fora. Depois de um dia de praia e sol, felicidade que a vida nos dá, cá estou eu escrevendo de novo, lembrando de nós: de ti e muito de mim. As lembranças são de um tempo em que eu achava que tudo ia ser para sempre, ou que duraria até o fim dos nossos dias.

Braços dados num abraço fraterno e amoroso, cumplicidade; mãos entrelaçadas, planos para o futuro, chope com os amigos, ouvir nossas músicas preferidas, pegar aquele bronze na praia e ficar com o corpo todo ardendo por causa do sol; de noite dar boas gargalhadas com bobagens do dia.

Tudo isso fazia parte das nossas vidas. Ainda sinto o teu cheiro na nossa casa, não posso negar, mesmo depois de tantos anos passados. Mas, da mesma forma que eu lembro tudo isso eu também sei que é preciso passar uma borracha na memória e excluir esse pensamento.

Não posso ficar  o resto da minha vida lembrando de ti. Os bons momentos a gente não apaga da memória, mas para que isso seja adormecido no coração é preciso também avivar os maus bocados: é o que me aconselham; que para esquecer a gente tem que lembrar das coisas ruins para que a raiva chegue e a gente consiga se desapegar.

Eu não consigo ter raiva por muito tempo; ficaram apenas a tristeza e a solidão, companheiras inseparáveis, que tento não valorizar e abstrair da minha alma. Não quero tristeza dentro de mim, embora ela sempre bata à porta pedindo para entrar.

Depois de caso passado, aprendi a ver o mundo com mais humor, tentando colocar alegria nas mínimas coisas, ser otimista, apesar de tanto atropelo e buscar sempre coisas positivas para mim: amizades salutares e aproveitar cada segundo que me resta.  

Escrevo o que penso e esses pensamentos nem sempre são o que deveria ser, nem sempre são corretos do ponto de vista da emoção, como dizem por aí. Mas a minha escrita é uma forma de desabafo individual, de terapia, de produção intelectual, de fuga, vamos dizer assim.  

Alguém sabe responder o que seria de mim se não fosse essa capacidade de sonhar que eu tenho ainda¿ Não posso negar que sinto vontade de abraçar, para curar as tristezas da minha alma.

Sonho com um mundo melhor, com dias mais felizes, uma vida confortável, com bons momentos, com amigos que estão longe; sonho ainda com grandes viagens culturais para lugares históricos. Peço a Deus um pouco mais de saúde para que possa viver o que me resta com dignidade. 

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