Olívia de Cássia - jornalista
Abro os olhos lentamente, para ter a certeza de que tudo não
passou de uma miragem. Um instante translúcido. A luz pouco a pouco vai tomando
conta de tudo. Lá fora um calor abafado e modorrento toma conta do ambiente e
parece até que já é verão.
Respiro fundo e olho as quatro paredes do quarto para ter a
certeza de que não há mais ninguém ali, impressionada que fiquei com a cena
vivida. O azul das paredes se mescla dando uma coloração mais forte ao ambiente.
A cabeça dói e pesa, parece até que estou de ressaca. São
pensamentos que me vêm à memória no instante em que sobe no coletivo um
vendedor de doces e dá ‘boa tarde para não passar vergonha’.
O menino fala tão baixo e pausadamente e cita frases tão
decoradas e repetitivas que ninguém mais presta atenção ao que ele diz. Essa
modalidade de atuação nos coletivos já virou uma rotina e um meio de vida, mais
por conta do desemprego também, outros pedem dinheiro para comprar drogas mesmo.
O balanço do ônibus começa a me provocar sonolência. Sinto
que vou dar um cochilo e acordo sobressaltada: quase passo do ponto de parada
do coletivo. Boa tarde!
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