Caminho sem direção, desequilibrada, meus tombos já são visíveis
e inevitáveis. Olho ao meu redor e não encontro mais ninguém. Daqui a algum
tempo não poderei mais ficar sozinha em casa e vou precisar de alguém para me
auxiliar nas tarefas mínimas que sejam. Tomara que isso demore a acontecer, ou
que não aconteça comigo, como se fez com meus familiares.
Chego do trabalho em casa e arrumo algumas coisas que estão
na bagunça feita pelos meus gatos. Eles fazem a festa, correm pela casa toda,
derrubam tudo e o galo da Estação canta lá adiante. É madrugada de sábado e há
quase silêncio na rua.
Sigo pensando na vida; tem horas que isso é inevitável.
Procuro espantar um pensamento que seja de pesar, de tristeza e não pensar no
pior, porque já adotei um comportamento de positividade e motivação em minha
vida. Apesar das dificuldades, eu não
vou reclamar.
Não posso deixar que a tristeza apareça e me abata; eu
preciso ser feliz, aproveitar o que a vida ainda tem para me oferecer de melhor
e mais bonito. Preciso disso com a maior urgência. Sou parte de um todo confuso
e desfocado.
Já passa da meia noite. O tempo lá fora é bom. A previsão é
de chuva no fim de semana. Se se confirmarem as avaliações meteorológicas,
teremos um fim de semana de tempo fechado. Tomara que isso não atrapalhe o
processo eleitoral de domingo.
Olho nos quatro cantos da minha casa e constato o quanto de
desarrumação está no local. Parece até que perdi o gosto de arrumar e deixar
tudo no seu lugar. Faz tempo que não me dedico à minha casa.
Não nasci para ser do lar.
É tão difícil para mim essa
tarefa que às vezes eu avalio que sou de outro mundo, de outra galáxia. Talvez
um extraterrestre suburbano que não aprendeu a viver ainda. Não fui treinada
para isso, para ser uma dona-de-casa.
Às vezes penso que nasci numa época errada, porque ainda
quero desfrutar de coisas da juventude. Gosto de festas, de passeios, de mar. ‘O
mar que é das gaivotas, que nele sabem voar’.
Que seria de nós se não houvesse o mar?
De repente alguns sabores me vêm à memória. Tem coisa que
não sai da mente da gente, feito uma tatuagem daquelas bem destacadas e
chamativas. Engraçado o que acontece comigo: tem comida que tem sabor da
infância, outras têm os da adolescência e por aí vai nosso pensamento, voando
distante, até chegar na direção que a gente deseja.
Desejos e sonhos, vontades contidas pela voz da razão. Às
vezes a gente cria situações na nossa memória e vai dando corpo àquelas que
mais nos atraem. Às vezes são histórias impossíveis de se tornarem reais e
fazem parte apenas da nossa imaginação fértil e de uma vida cheia de carências
afetivas.
Nossos quereres de hoje são bem diferentes dos de ontem, mas
muitas vezes eles se confundem e nos confundem também. Penso na utopia do
sonho, no desejo do corpo e nos quereres da alma. Vida que segue sem respostas. Boa madrugada!
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