sábado, 18 de dezembro de 2010

Radioamadorismo em Alagoas ainda não é valorizado

Foto de Olívia de Cássia

Categoria oferece serviço de voluntariado à sociedade, se destacou na ajuda aos desabrigados da enchente do mês de junho, mas reclama da falta de conhecimento sobre a atividade


Olívia de Cássia – Repórter

O radioamadorismo existe no Brasil desde 1920 e em Alagoas desde o ano de 1940. A atividade é regulamentada por lei federal e a categoria presta serviços de voluntariado na área de comunicação via rádio à sociedade. O radioamadorismo não tem fins lucrativos e os integrantes da LABRE – Liga de Amadores Brasileiros de Radio Emissão reclamam que o trabalho ainda é pouco conhecido e não é valorizado na sociedade alagoana.

O radioamadorismo é um hobby científico com diversas modalidades. “O radioamador é a pessoa que procura manter funcionando uma estação de radiocomunicação, ora para comunicados e conversas informais bem como para concursos e competições nacionais e internacionais”, conta o presidente da LABRE Sebastião Marcelo.


Além dos "bate-papos", o radioamador pode auxiliar as autoridades de Defesa Civil nas situações de risco e calamidades públicas, levando a comunicação aos mais longínquos lugares, como aconteceu em Alagoas no mês de junho. No Estado, 120 pessoas são integrantes dessa atividade como sócios contribuintes, sendo que cinco são mulheres, ainda uma minoria nessa modalidade.


Sebastião Marcelo destaca que no dia em que a reportagem do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, foi até a cidade de Santana do Mundaú registrar a catástrofe da enchente, os radioamadores que estavam na cidade fizeram uma demonstração dos serviços “e foi a primeira comunicação que a cidade teve depois da enchente”.

A catástrofe que aconteceu em Alagoas nos dias 18 e 19 de junho é apontada pelo presidente da LABRE como o fato mais marcante deste ano para os associados da entidade. “Saímos de Maceió na quinta e só voltamos no domingo prestando trabalho voluntário às comunidades de Santana do Mundaú, União dos Palmares, Branquinha, São José da Laje e Murici e Quebrangulo”, diz.

Em Santana do Mundaú, onde a situação estava mais grave, ele diz que foi montado um link para a Fazenda Jussara, que emitiu um sinal para um repetidor no Morro do Cuscuz e de lá o sinal foi transmitido para a Defesa Civil, em Maceió.

Presidente destaca colaboração dos associados


Três integrantes da LABRE fizeram o trabalho de montagem da estação de freqüência em Santana do Mundaú, mas o presidente destaca que se não fosse a colaboração de todos os radioamadores no Estado não tinha sido possível a realização da tarefa, “dando suporte para que a comunicação fosse feita e o socorro chegasse até os desabrigados”.

Por conta dessa rede de emergência que foi criada na enchente de Alagoas, os radioamadores alagoanos foram convidados para dar uma palestra no VII Fórum Nacional de Defesa Civil, na cidade de Ponta Porã-MS , para passarem a experiência do que aconteceu no Estado.

“Tanto a palestra quanto o relatório da Rener (Rede Nacional de Emergência de Radioamadores) foram apresentados na assembleia da IARU (representante do radioamadorismo no mundo, em El Salvador), por Paulo César, que é o coordenador nacional da Rener”, conta Sebastião.

Associado destaca importância da atividade para o mundo

José Carlos Alves (indicativo de chamada P17ACJ Alves) é radioamador e taxista. Ele fala da importância do radioamadorismo para o mundo destacando que já prestou alguns socorros nessa atividade: um deles foi uma ajuda para um barco pesqueiro alagoano que perdeu o rumo em alto mar.

“Teve um dia que, por volta das cinco horas da manhã, eu estava dormindo em minha casa e recebi um sinal de um barco pesqueiro que estava à devirá em alto mar porque o motor do barco tinha pifado. De posse da informação, e com todas as coordenadas, eu fui até o Porto de Maceió, entrei em contato com a Marinha e a instituição tratou de prestar o socorro devido”, observa.

Alves diz que ainda há muita discriminação nessa atividade e até alguns policiais discriminam quando veem um profissional com o rádio. Ele conta que outro dia estava no shopping, “um policial me abordou dizendo que eu não podia usar o rádio e eu expliquei que tenho habilitação, que é regida por lei federal. É preciso que a sociedade conheça os trabalhos prestados pelos radioamadores às comunidades para que valorizem o nosso trabalho”, diz ele.

Montagem de estações e qualificação da categoria são tarefas corriqueiras

Para se tornar um Radioamador no Brasil é necessário que se obtenha o C.O.E.R. - Certificado de Operador de Estação de Radioamador e para que se possa instalar uma estação de Radioamador em casa é necessária a obtenção da Licença de Funcionamento de Estação de Radioamador.



“Tanto o Certificado de operador como a licença de funcionamento são obtidos com a realização de provas sobre conhecimentos da Legislação pertinente ao radioamadorismo e/ou conhecimentos técnicos de radioeletricidade e telegrafia”, conta. Essas provas, atualmente são realizadas pela LABRE, por meio de um acordo firmado entre o Ministério das Comunicações e a entidade de classe em todo o país.

Para se montar um link de transmissão de freqüência de radioamador não é difícil. Dependendo da topografia a instalação é rápida. No caso do município de Santana do Mundaú foi mais difícil por conta da geografia do local, observa Sebastião Marcelo, que está à frente da Labre há quatro anos.

A qualificação dos radioamadores, é feita por meio de palestras, cursos, feiras e encontros onde, segundo o presidente da entidade, aparecem coisas novas. “O radioamadorismo não tem distinção de classe nem de cor, não importa a profissão de seus integrantes: tem professor, médico, comerciante, oficiais da polícia e outros profissionais”, observa.

Roberto Moura Silva é diretor-técnico da entidade e fala da importância do radioamadorismo na ajuda às comunidades que passam por situação de catástrofes, riscos ou outras dificuldades de comunicação. Ele destaca que a entidade não tem domínio de quantos serviços presta à sociedade, mas quando essa ajuda é solicitada, “nós nos prontificamos e não temos restrições para auxiliar no que for necessário”.

Segundo ele, até na dificuldade de encontrar um remédio, vacina ou outro serviço o radioamador presta o serviço. “Qualquer emergência na parte de comunicação, que possa facilitar a vida das pessoas o radioamador faz”, diz.

As tecnologias também avançaram para esse segmento e segundo Roberto, o radioamador pode até falar via satélite, desde que seja de uso exclusivo para essa modalidade. Além da fonia ele destaca a modalidade de telegrafia e os modos digitais, ou por fax. “Agora também pelo MSN exclusivo para radioamador”, conta Roberto Moura.


Para ser radioamador é necessária a habilitação

O presidente da Labre, Sebastião Marcelo explica que para ser radioamador é necessário habilitação, da mesma forma que um motorista. “Tem que estudar, existem três classes: a mais elementar é a classe C, opera só em determinada faixa de frequência”. Já quem tem habilitação na classe B, segundo ele, opera na freqüência da classe C e em outras também.

“Nesse caso, para fazer prova, além da Ética e da Legislação a pessoa precisa fazer curso de radioeletricidade e de telegrafia e depois de um ano faz a prova para passar para a classe A”, explica. Na classe A, a pessoa pode atuar em qualquer freqüência, “desde que destinada aos radioamadores”, explica.

No dia da visita da reportagem à sede da Labre um grupo de onze radioamadores fez uma confraternização com um almoço com o cardápio de baião de dois no almoço. Eles contam que fazem isso com freqüência, para promover a integração entre o grupo.



Participação das mulheres no radioamadorismo ainda é acanhada

A participação das mulheres no mundo do radioamadorismo ainda é acanhada. Em Alagoas, apenas cinco se dispõem a participar dessa atividade considerada tão importante para as sociedades. Muitas por falta de interesse e outras pela falta de divulgação do trabalho desenvolvido pela categoria.

Nem todas as mulheres gostam do barulho que os aparelhos emitem, segundo elas. Amanda Oliveira é uma das mais novas integrantes do grupo, tem dois meses de atividade na Labre e diz que no começo não gostava, mas com o tempo começou a freqüentar as reuniões com as esposas dos outros integrantes que são chamadas de ‘Cristais’.

“Foi na época da enchente que eu me aproximei”, conta. O namorado de Amanda já era radioamador e foi prestar socorro em uma das cidades atingidas pela enchente. Ela conta que não tinha sinal de nada, não era possível comunicação e o único socorro foi o rádio. Desse dia em diante resolveu participar, “também por questão de segurança”, conta.

MUDANÇA DE OPINIÃO


Edneide de Araújo Alves é funcionária pública, tem 25 anos de rede e acompanha o marido na atividade. Ela conta que no começo, assim como Amanda, não gostava muito. “Faz muito barulho e não gostava”. Aí ela disse que o marido adquiriu um aparelho mais moderno, mudou de PX para outro equipamento e colocou no quarto.

“Eu não conseguia entender e reclamava o tempo todo. Era um tipo de vício, ele chegava em casa e não ligava para a televisão, ia para o rádio”, observa Edneide contando que foi se adaptando à linguagem difícil que eles usam, aos poucos, e viu que era um tipo de comunicação mais rápida que o telefone. “Mas eu comecei mais por insistência do meu marido”, destaca.

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