domingo, 19 de dezembro de 2010

A arte pela arte

Fotos: Álbuns do Orkut de Allan Carlos
Olívia de Cássia – Repórter

“Arte como arte, na medida em que ela é ela mesma, a ‘ priori’, sem representação, sem mais o dever de comunicar ou dialogar com aquilo que só pode ser o que é em si mesmo, arte é apenas arte”. É assim que o artista plástico Allan Carlos Monteiro da Silva, ou simplesmente Allan Carlos, 40 anos, alagoano de Arapiraca, define o seu trabalho.

Para Allan Carlos, a arte não é a coisa criada nem está no ato dos que fazem. “Arte apenas como arte que independe e não completa nem diminui não muda nem deixa de ser arte. Que não é regional nem tão pouco universal”, conceitua.


Reconhecido internacionalmente, o trabalho de Allan Carlos já percorreu países como a Alemanha, França, Italia, Áustria e Portugal, onde fez várias exposições, além do Brasil. Ele conta que nos anos 80 conquistou o seu primeiro salão de arte, em Arapiraca e resolveu ir em busca de seu sonho.

“Fiz cerca de 35 a 40 exposições nacionais e outras 15 intencionais, entre a Alemanha, França, Itália, Áustria e Portugal”, descreve Allan, que é autodidata e desde muito cedo começou a pintar: “Pinto o chão, paredes, telas, lençóis, mesas e outras coisas”, explica o artista, ressaltando que aos dez anos brincava com telas e trabalhos escolares e “adorava tratar matéria como coisa que precisava mudar”.

“Nos anos 80 me entreguei às telas e aos salões de arte em Arapiraca. Eu me entreguei à busca desta ideia, era apenas uma visão: comunicar por meio da arte e da expressão”, observa o artista, que fala da sua experiência mais marcante em seu trabalho: dar aulas para crianças de rua em todo o Nordeste.


Essa experiência, segundo ele, foi uma experiência gratificante e construtiva “e que me ensinou a compreender e querer mais daquilo que eu criava. Foi nessa época que comecei a despertar para as esculturas. Surgiu no final dos anos 80, mas ainda continuei a pintar até final dos anos 90”, conta ele.

LIBERDADE ARTÍSTICA

Allan observa que esta experiência com meninos de rua do Nordeste lhe deu uma sensação de liberdade artística para trabalhar com matérias diversas. “No final dos anos 90, eu estava exausto: viajava muito do sertão da Bahia até Aracati–Ceará e trabalhava com instituições Maristas e associações de comunidade. Havia algumas vilas e escolas que eu acompanhava também”, diz ele.

Depois de muitas exposições pelo Brasil a fora ele conta que surgiu uma oportunidade. Uma mostra na Alemanha. “Eu precisava desta experiência e decidi que iria. Havia um convite para uma pequena galeria num local chamado “Café Arte”, isso foi no final de 1995 para início de 1996”.

Allan diz que foi sozinho para a Alemanha e sem falar idioma algum. “Eu tinha algumas exposições marcadas no segundo semestre de 1996 e fiquei três meses; voltei angustiado queria mais daquilo: aquele mundo me deu a certeza de que eu precisava estar ali por muito tempo, mas voltei ao Brasil. Iniciei algumas exposições e retornei para a Alemanha, para ficar por quase dois anos”, relata.


O tempo que passou na Alemanha, segundo o artista plástico, foi uma experiência formidável. “Construí minha vida a partir dali, eu via o Brasil e entendia a minha região, entendia o que era ser brasileiro estando longe. Pude ver melhor a vida e a arte e entender o que era em fim que eu buscava. De tudo que vivi na Europa, a melhor experiência foi descobrir o pensamento Alemão a maneira alemã de ser, a fala e os costumes. Isso me fez mais completo em relação a mim mesmo e ao que eu pensava”, analisa.

MATÉRIA-PRIMA

Allan Carlos utiliza todo o tipo de material que apareça à sua frente para compor os seus trabalhos. Ele diz que começou sua trajetória nas esculturas com a tridimensionalidade. “Eu sempre gostei de esculturas, mas pintar parecia ser a única maneira de expressão. Depois da experiência na Alemanha, voltei à procura de pigmentos minerais, queria esculpir diversos materiais e assim o fiz: pedra, gesso, ferro, madeira, concreto, papel, isopor, plástico, massa plástica, osso, resina, argila, arame, cordas, borracha, mantas, fibras ou outro tipo de material que apareça”.

Ele explica que ainda hoje dá aulas para escolas e universidades. “Faço pequenas palestras sobre arte e desenvolvo projetos artísticos como: intervenções urbanas, pesquisas sobre pigmentação de minerais, pigmentação natural e projetos de instalações de arte”.



Sócio e membro da União Brasileira de Escritores UBE-PE, membro e sócio da Acala - Academia de Arte e Letras de Arapiraca, Allan Carlos tem obras expostas em alguns museus no Nordeste. “Não trabalho para ninguém, vivo da arte há mais de 20 anos, tive ateliê nas grandes captais do mundo e no Brasil”, diz ele.

Atualmente, Allan está com ateliê montado em sua terra natal, Arapiraca, mas explica que se considera um nômade. “Acho e creio que todo artista deve ser um pesquisador, deve se interessar por outras fontes para unir força e resistência. A vida artística surpreende, porque a gente deve fazer arte independente do retorno e nunca deve esperar disso uma resposta, a arte serve para a arte e nunca para o artista”, filosofa. Segundo ele, o artista tem o dever de manter distância do que ele é, “para superar o que ele faz assim como dever”.

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