Imprensa passa por constrangimentos na Assembleia

Plenário da Assembleia Legislativa na tarde de hoje; clima era de tensão e mal-estar

Olívia de Cássia – Repórter
(Texto e fotos)

Os jornalistas que fazem a cobertura da Assembleia Legislativa viveram na tarde desta terça-feira, 13, momentos de constrangimento e mal-estar. Antes de terminar a sessão, a exemplo do que aconteceu na semana passada, o deputado Temóteo Correia (DEM), usou a tribuna da Casa e em mais um discurso voltou a atacar os profissionais que trabalham na imprensa na capital.

Na semana passada, o Sindicato dos Jornalistas se reuniu com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) e com o Ministério Público, para falar de constrangimentos e ameaças que alguns jornalistas alagoanos estão vivendo, por conta de seu trabalho nas empresas.

A jornalista Niviane Rodrigues, do jornal Gazeta de Alagoas, que cobre a Casa de Tavares Bastos, diariamente, na semana passada foi alvo do discurso do deputado Temoteo Correia, que foi aparteado pelos deputados João Beltrão e Cícero Ferro.

Correia, insatisfeito com uma matéria produzida pela jornalista, chamou-a na tribuna da Casa de analfabeta e disse que ela precisava estudar mais e outras indelicadezas mais. Na tarde desta terça-feira, ele disse que estão fazendo um circo a respeito de denúncias de que deputados teriam ameaçado jornalistas e disse que em momento algum ameaçou a jornalista Niviane Rodrigues, da Gazeta, como foi publicado na imprensa.

“Não houve nenhuma ameaça por parte dos deputados. O que eu disse à jornalista Niviane Rodrigues, digo aos meus filhos: ‘Vá estudar’, ‘vá se informar’. Não sei de onde tiraram isso. Nós, os deputados, conhecemos a realidade da população alagoana, e os jornalistas ficam trancados nas redações para falar mal do Poder Legislativo. Podem criticar, podem ir à Ordem dos Advogados do Brasil [OAB] pois, nós temos a imunidade parlamentar”, disse ele.

Temóteo foi aparteado, também hoje, pelo deputado João Beltrão (PRTB), que disse: “Fiquei surpreso deputado com a sua fala. Nunca ameacei uma pessoa durante a minha vida. Desafio a alguém dizer que foi ameaçado . Sempre trabalhei na região Sul, não sou obrigado que o povo de outro lugar goste de mim. Se a pessoa não puder reclamar, não ter direito a fazer uma reclamação, imagine se o jornalista passar a ser coronel”, disse Beltrão.

Ele acrescentou que não conhecia a jornalista Niviane Rodrigues e que nunca a viu. Estranhamente, Niviane faz cobertura diária da Assembleia para a Gazeta de Alagoas e já entrevistou o deputado João Beltrão várias vezes.

Já o deputado Cícero Ferro (PMN), que está ocupando a vaga do deputado Maurício Tavares (PTB), que está de licença médica, disse que essa “é uma conversa tola e idiota de quem não tem o que fazer. Quem estava aqui semana passada viu que nada houve. Nós deputados somos sacos de pancada dos jornalistas. Estamos nos defendendo, não devemos dar valor a conversa de jornalista idiota”.

Temóeto retomou a palavra e disse que a imprensa se considera intocável. “Isso aqui não vinga, não adianta. Se eu não estiver com a verdade eu não sou nada. Isso é inveja de quem não consegue ser deputado. Jornalista não intimida a Assembleia. Temos i munidade parlamentar. Deputado tem imunidade, se não tivesse iam dobrar o crico”, acrescentou.

JUDSON CABRAL

O deputado Judson Cabral (PT) pediu a palavra e disse que foi procurado pelo Sindicato da categoria (como presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALE) “e em nenhum, momento houve manifestação do Sindicato a ameaça de parlamentar. Nós temos que entender que nem sempre o jornalista tem autonomia total”, disse o petista.

Na tentativa de acalmar os ânimos, Judson propôs aos demais parlamentares que houvesse uma reunião com o Sindicato dos Jornalistas para debater tais questões. “Temos que ter o diálogo. A jornalista que aqui vem cobrir diariamente deveria ser ouvida. Tenho grande respeito e sempre ela nos procura para dialogar, ela sempre está à disposição. À medida que o sindicato nos procura podemos nos reunir, o que nós queremos é retratar a verdade”, observou.