Olívia de Cássia – jornalista
Olho a foto da família na parede, o instante congelado. Meus pais, eu e meus irmãos; os quatro muito crianças ainda. Pelas nossas vestimentas e pelos nossos tamanhos, a foto é do começo da década de 60.
Meu pai, de terno escuro, elegante, lenço na lapela, como mandava o figurino. Minha mãe comigo nos braços, um vestido claro de mangas curtas, bem cortado, coisa fina da época, parece traje de festa, também pelas roupas dos meus irmãos, os três de terno.
Na foto eu apareço miudinha, aparentemente com dois ou três anos de idade. Laço grande na cabeça, vestidinho rodado, pulseira de ouro no braço, sapatinhos pretos e de meia. Tudo bem organizado.
Fico olhando várias vezes a foto ampliada na parede da sala de janta e penso em quanta coisa eles devem ter vivido para poder cuidar dos filhos, mantê-los, educá-los e vê-los crescer com saúde, seguindo as orientações que lhes foram passadas.
Graças a Deus que tivemos a chance de ser educados com o sacrifício dos nossos pais. Vi no programa do Luciano Huck uma família de pessoas negras que teve a casa reformada no ‘Lar doce Lar’. Um dos filhos do casal, estudante de medicina, técnico do IML de sua cidade, que deu um depoimento emocionante.
Quem viu o programa do sábado passado ficou emocionado quando o rapaz declarou que cada corpo que chega no Instituto Médico Legal, ele fica pensando que poderia ser o dele, mas que tinha sido salvo pelo estudo e educação e o esforço de seus pais. Um depoimento muito bonito e emocionante, para quem tem sensibilidade.
A crescente onda de violência e os casos de assassinatos, salvo algumas exceções no país e no nosso Estado, têm sido pelo envolvimento de jovens com drogas, pela falta de oportunidades da maioria dos envolvidos.
Voltando à família do meu retrato, eu era uma criança doente. Já naquela época, quase sempre voltava dos passeios nos braços da minha mãe ou do meu pai. Já sentia muitas dores nas pernas, desde aquele tempo.
Eram muitos meus problemas de saúde e tive todo o tipo de inconveniências: catapora, sarampo, febre tifoide, caxumba, coqueluche e outros males.
Minha mãe me levava ao médico, com frequência que naquela época, em União, era o doutor Duerno Vanderley ou o doutor José Lima, ou então viajava para Maceió, quando não conseguia resolver a situação em União. Uns médicos diziam em Maceió que as minhas dores nas pernas poderia ser por conta das amigdalas, outros medicavam para o problema mais urgente.
Nas comemorações do Dia dos Pais ou Dia das Mães, eles faziam questão que almoçássemos juntos . De manhã, quando acordávamos, em primeiro lugar pedíamos a bênção para eles e nossos avós Manoel Paes e Olívia. Era costume.
Nas datas religiosas e santas fazíamos visitas aos nossos padrinhos também. No meu caso, madrinha Nenzinha e Padrinho Durval, madrinha Nice Leão, irmã de dona Carminha, esposa de Nininho.
Quanta falta isso faz quando a gente cresce e já não tem isso na vida, quando já perdemos essas nossas referências! Talvez seja pela falta desses valores familiares que o mundo está tão louco e tão violento.
Me vejo agora, na meia idade quase, sozinha com meus filhotes de quatro patas ,pensando em tudo isso que eu perdi. Vendo uma cena de novela, penso no que é a falta de lealdade e a traição. A cena é de ficção e a vida é muito mais cruel do que isso.
Meus pais tentaram me alertar para os perigos da vida, , aqueles que eu imaginava que não pudessem me atingir. Seja em qualquer idade, pai e mãe fazem falta na vida da gente, principalmente quando são nossos esteios, nas horas em que precisamos de um conselho, de um ombro amigo e de um colo para nos consolar.
Aí vem a saudade daquele desabafo na hora certa, do pedido de ajuda, de uma orientação segura, quando a gente pode dispor disso.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
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