Foto de Olívia de Cássia
Olívia de Cássia - jornalista
Uma tarde quente essa de hoje. Daqui a pouco viajo para União dos Palmares. Estou aguardando uma carona e enquanto espero divago em pensamentos. A vista já não ajuda muito, os olhos lacrimejam e tenho dificuldades para ajustar o foco. A danada da miopia me incomoda e quando chega a idade avançada, as complicações aumentam. Paciência.
Ontem liguei para Jam, para saber como ele está de saúde. Fazia tempo que a gente não conversava; pela voz dele deu para perceber que não está muito bem. A voz arrastada transmitindo um pouco de dor. Me disse que viajou e onde estava teve uma crise renal; teve que voltar. É sério o problema de cálculo renal, ele deve passar por mal bocados com isso.
Já não sofro mais com a ausência dele, o tempo vai tratando de acomodar os sentimentos, desviar a gente e encaminhar o pensamento e o foco da vida para outras situações. Temos que seguir em frente, deixar os problemas de lado ou enfrenta-los de forma amadurecida.
Não dá mais para ficar lamentando o que perdi, pois o passado não volta, mesmo que a gente sinta saudade de algo ou de alguém. Saudade, dizem os poetas, é uma expressão apenas da língua portuguesa, é um sentimento único nosso.
Em outros tempos a notícia da saúde de Jam me deixava desesperada, eu não tinha controle sobre isso. Tomara que ele fique bem e tenha sorte na vida. Restou um carinho, uma amizade e a lembrança dos bons momentos que nós tivemos juntos.
Não adianta remoer mágoas e ressentimentos, isso faz mal para a alma da gente. Perdoar é sublime. Não digo que eu tenha esquecido ou deletado de mim toda a nossa história, eu estaria mentindo se afirmasse isso. Procuro encarar a realidade como algo que foi e é inevitável.
Mais um dia 20 de novembro passou e cada ano a festa da Consciência Negra acontece de forma diferenciada. As energias da gente se renovam e há na Serra da Barriga uma energia que nos purifica.
Eu me sinto mais leve e feliz, me encanto quando subo lá; um local que presenciou tanto combate, tanta luta e desejos de liberdade, planos e batalhas por uma sociedade mais justa, livre do preconceito, dos grilhões e das amarras.
A Serra da Barriga é um solo sagrado, um templo onde estão depositados tantos segredos, magia, confrontos e dores. A luta de Zumbi e seus guerreiros e guerreiras deveria ser um exemplo para que muita gente se refaça, se livre da opressão e das amarras culturais.
Precisamos de um mundo de paz e harmonia, onde o convívio dos contrários seja possível, onde reine a tolerância e o amor fraterno. Não dá mais para a gente conviver com tanta violência e intolerância, seja ela religiosa ou de qualquer tipo. A sociedade vive amedrontada e insegura.
A construção da paz começa dentro de cada um de nós, a partir do momento que aceitamos e passamos a respeitar o outro, o nosso próximo que pensa e é diferente de nós. Ninguém é obrigado a ser igual, mas onde existe o respeito, há também a harmonização e aconvivência pacífica.
É possível a gente viver sendo mais compreensivo e observando as diferenças. Existe uma situação menos dolorosa quando há compreensão, tolerância, maturidade e seriedade de propósitos.
Tenho refletido muito sobre isso: O 20 de novembro faz a gente perceber a multiculturalidade do nosso povo alegre. Uma prova de que onde existe cultura, existe alegria e bem viver.
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