terça-feira, 7 de junho de 2011

Inquietações


Olívia de Cássia – jornalista

Os poetas são tradutores da alma; talvez por isso viveram pouco em séculos atrás. Não é fácil carregar sentimento dentro da gente. É difícil ter sentimentos, viver com eles tão expostos, ou pior: quando os escondemos no fundo da alma.

Muita gente não entende o que é carregar dentro de si um amor incompreendido, uma personalidade inquieta, um pensamento rebelde e questionador. Não quero mais essa inquietude que me incomoda a alma, que me faz sofrer e que não tem remédio.

Por que é que eu nasci com a sina de ter tido esse destino dos inquietos, inconformados, amores rejeitados, insuficientes? Eu dei amor demais ou de menos? Eu me entreguei a esse amor completamente ou pela metade?

O que faltou para que eu me completasse no amor? Falta de amor ou excesso dele? Por que amei quem eu não devia ter amado? Foram poucos os homens que passaram em minha vida ou que se tornaram importantes para mim.

Mas, por qual motivo eu tive a predestinação de amar e de não ser correspondida? Por que fui tão traída, enganada e ludibriada? Não chamo isso de sorte ou falta dela. É sina mesmo, como diria minha mãe.

Quando eu vim ao mundo já estava escrito que tudo seria assim, sem fim. Que fim é esse que se destina para mim? Será arte? Vivo perseguindo um mundo de sonhos que até agora não se realizaram.

Esses que para mim se chamam sonhos, para as pessoas ditas normais são apenas metas traçadas e fáceis de alcançar. Para mim são pelejas. Por que é que eu sou tão atabalhoada, tão sem jeito que não consigo nem organizar a minha própria vida? Será falta de objetivos, de metas, de jeito, de organização ou que é que é isso?

Tem horas que tudo me foge à compreensão. Eu não sou nada, sou um grãozinho de areia diante desse universo que é o mundo, mas eu queria ser uma pessoa melhor, sem tantos defeitos. Um ser humano normal, sem tantos complexos. É difícil admitir isso.

Mas o que é ser normal nessa vida louca de tantos desencontros, cheia de ambições, de competições, de gente egoísta e sem princípios? São tantas as inquietações da minha alma insone, saudosa e cheia de lembranças. Lembranças essas que me preenchem a vida; se não fossem elas, eu nada seria...

2 comentários:

Zóio Comunicação disse...

Olívia, quanta beleza há nesta "inquietação". Mas a vida é assim: cheia de surpresas e muitas delas sem explicações concretas. Neste caminhar, de ir e vir, cheio de decepções, angústias, sofrimentos é que devemos descobrir a alegria, o que nos faz feliz, seja apenas num pequeno gesto, no prazer de rir junto com os amigos, na beleza da natureza, no conhecer-se e gostar-se de si mesmo! Cada alma leva consigo sua própria construção. As conclusões, estas, ficam pelo eterno vir! Viver é correr riscos!

DASLAN MELO LIMA disse...

"Mas o que é ser normal nessa vida louca de tantos desencontros, cheia de ambições, de competições, de gente egoísta e sem princípios?"

Já fiz a mim mesmo mil vezes essa pergunta. Até que os meus anjos e demônios deram as mãos e ensinaram-me como administrar minha loucura.

Parabéns pelo texto!

Daslan Melo Lima
Timbaúba-PE

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