terça-feira, 14 de junho de 2011

O medo da morte

Olívia de Cássia – jornalista

Não sei se tenho medo da morte, mas ultimamente tenho pensado muito nela, não nego. Se vai doer quando ela chegar, só o tempo vai dizer. Eu tenho medo de ter medo. Medo de um dia não poder mais responder por mim. O que será de mim?

Tenho medo de não poder mais ver o mundo. Tenho medo da dependência física de terceiros para as coisas mínimas. Quero ser forte se esse dia chegar, mas não quero pena de ninguém. Será o que tiver que ser.

Quero força para continuar lutando por uma vida melhor, por dignidade e qualidade de vida. A vida é cheia de contrastes, de desigualdades e preciso estar forte, consciente e preparada para enfrentar o que vier por aí.

Acordei no meio da madrugada com crise respiratória e um pouco febril. Vai ser difícil retomar o sono agora. Levanto, esquento água para fazer um chá e misturo três saquinhos com sabores diversos, entre eles um de hortelã.

Não sei se vou melhorar. Às vezes o conhecimento empírico ajuda um pouco quando a gente tem que se virar sozinha. Agora também foi a lâmpada do quarto que queimou. Se tudo fosse mais fácil e as finanças permitissem eu ia era contratar uma empresa para fazer uma reforma geral na casa. Tem tanta coisa para fazer aqui!

Lá vou eu de novo entrando nos sonhos delirantes. A febre agora baixou um pouco. A cabeça dói e os espirros voltaram. Vou gripar. O galo canta lá na estação, parece que estou em União, quando de manhã os galos cantavam nos quintais das casas.

Sinto o cheiro da minha terra no ar. Seria tão bom se o tempo pudesse voltar, nem que fosse por alguns minutos e eu pudesse reviver tudo aquilo: minha mãe à beira da minha cama com um remédio para me dar, ou na cozinha, preparando alguma coisa para a gente comer.

Meu pai ali, relembrando sua dura vida de criança, mas dando boas gargalhadas da situação vivida e a gente rindo das histórias dele. Nossa casa cheia de familiares para o almoço, recebendo visita dos parentes do Rio de Janeiro. Tudo uma alegria só; era tão bom...

Lá vou eu de novo, nesse turbilhão de lembranças do passado, aquelas que realmente valeram a pena e marcaram a vida. Acho que estou realmente no fim. É quando a gente começa a remoer o passado, fazer contabilidade do que viveu, balanço do que valeu a pena e o que não valeu, a gente acumulou experiências.

Revejo as manchetes dos jornais, notícias de ontem. Não tem nada bom: “Economistas preveem fim da miséria em Alagoas só em 2036”; CUT rejeita Lei da Ficha Limpa para Sindicalistas”; “Fiscalização não impede trabalho infantil”; Violência em Alagoas vira notícia no mundo”; Menores vivem em unidade degradante”; Centro de Maceió está uma bagunça”.

Apesar disso tudo, creio que ainda há esperança. Será? Vou deitar novamente para ver se retomo meu sono, senão eu vou recomeçar a remoer minhas memórias do passado, novamente.

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