Olívia de Cássia – jornalista
Eu não saberia dizer em que instante da minha vida eu
comecei a escrever sobre o que se passava comigo, era tudo natural, diariamente
eu registrava tudo, como muitas meninas da minha idade o faziam.
Desde a
pré-adolescência eu tinha meus diários, minhas pequenas confissões, tudo
escrito nos meus pequenos cadernos, que eu ia arquivando no guarda-roupa, até o
dia que descobri que meus pequenos segredos tinham sido violados e resolvi
destruir tudo.
Fiz uma pequena fogueira no quintal da nossa casa na Rua
Tavares Bastos e, revoltada, toquei fogo, literalmente, nos diários. Eu e minha
mãe tínhamos muitas divergências de opiniões.
Era difícil para ela, que teve uma formação de filha, neta e
bisneta de senhores de engenho, escravocratas e ignorantes, entender a
mentalidade daquela menina que queria alçar voos altos, se desmembrar daquilo
tudo e ser livre.
Não era fácil para ela e muito menos para mim. Uma
adolescente rebelde, que não aceitava imposições e que queria viver e ser feliz.
A busca da felicidade, a realização dos
meus sonhos, sempre foram minhas metas.
Eu queria ser feliz, ter minha independência, poder viajar,
conhecer um mundo novo, novas pessoas, ser amada, mas no meio do caminho eu me
apaixonava e minha mãe não aceitava aquele sentimento que nascia dentro de mim.
Ela queria que eu fosse feliz, sozinha, que tivesse minha
profissão, fosse independente, que não fosse jornalista, é claro. Não queria
também que eu me apaixonasse nunca. Minha mãe era revoltada com o amor e com
tudo o que ele trazia e proporcionava.
Dona Antônia foi
abandonada quando estava noiva de outro primo, que não era meu pai. Era o homem
que ela amava e por isso não perdoava, era rancorosa e guardou essa mágoa para
o resto da vida.
O casamento com meu pai se deu como uma consequência natural
da vida, mas a gente entendia que não foi por amor. Segundo se comentava na
família, apenas meu pai nutria um sentimento profundo por ela, apesar de ser
muito namorador.
Mas apesar dessa falta de demonstração de afetividade entre
os dois, eles nunca nos deixaram faltar nada e evitavam brigar na frente dos
filhos. Havia muito respeito entre eles e a luta pela sobrevivência e pela
educação dos filhos os tornava unidos no mesmo objetivo.
Eu sinto muito a falta deles dois. Uma saudade que dói no
fundo do peito e que não posso evitar as lágrimas, apesar de já terem se
passado 14 anos da morte de meu pai e 11 da minha mãe. Essa carência me aflora
diante das tantas dificuldades que tenho passado, porque eles sabiam da minha
fragilidade.
Mamãe era dominadora e queria comandar nossas vidas; não
aceitava o fato de eu não compartilhar
desse comportamento dela, que chegou a colocar pessoas para vigiarem
minha vida e muito depois a vida do meu ex-marido.
Era uma marcação pontual que ela desenvolvia e muitas das
vezes essas atitudes influenciaram os fatos que aconteceram em minha vida. Hoje
eu me peguei assim, com saudade de um tempo em que eu tinha os dois para
lamentar minhas fraquezas e minhas impossibilidades diante dos entraves da
vida. Boa tarde!
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