A paisagem é de contrastes: de um lado vejo o mar de águas
aparentemente cristalinas e convidativas para um banho morno e do outro, vejo
moradores de rua deitados no chão da calçada da praia, pobres miseráveis sem
cidadania sem nada que possa lhes dizer que são pessoas.
Famintos, eles perambulam pelas ruas indolentemente, sem
rumo, anestesiados pela fome e pelas drogas, sem direção. Da janela do ônibus,
sempre ela, percebo essa imensidão que se choca com meu estado de angústia e
revolta diante das injustiças sociais que presencio no meu cotidiano.
A tarde vai caindo e eu sigo no coletivo com destino ao meu
trabalho, esperançosa; procurando
respostas dentro de mim. Quero explicações
para as contrariedades que a gente tem no dia-a-dia e não vejo razão para
tanto.
Os passageiros sobem no coletivo, sôfregos. Estou cansada de
lutar contra dragões; a cabeça vai pesando e a gente vai procurando as melhores
explicações, incansavelmente. Palavras que possam atenuar a nossa decepção com
o ser humano.
Aquilo que nos causa indignação e revolta diante dos
constrangimentos que a gente, de vez em quando, é obrigada a passar. E muitas vezes
fingimos que não é conosco, tentando abstrair tudo para não entrar em parafuso. Eu não
consigo viver serena num ambiente assim.
Procuro um mundo que seja bom para viver, não costumo
desejar mal a ninguém, pois o mal por si se destrói. Sonho com um mundo em que
a gente não possa ter medo, medo de ter medo. O tempo da escravidão e da
ditadura já passou. Precisamos nos indignar diante das injustiças.
Palavras soltas no ar que nos ativa a memória, nos encanta e
nos seduzem. A palavra tanto pode construir como também pode destruir um ser
humano: tem gente que se perde pelo o que diz. É verão e o sol está tinindo no
horizonte escaldante. Tenho torpor, sonolência e preciso me acalmar.
Busco me aliviar e desviar o pensamento de fatos que não
sejam positivos e construtivos, daquele sufocamento exagerado e dolorido, uma
dor da alma provocada por uma palavra mal pronunciada e mal colocada em um
momento inoportuno. Um ato insano.
Dizem que a dor da alma é a pior de todas as dores. Mas eu quero
o infinito onde possa existir a paz, a harmonia e a delicadeza do ser humano. A minha direção. Há um mundo lá fora de muitas
guerras insanas, onde só inocentes são degolados. Os grandes e poderosos
negociam o que entendem melhor para si.
Há luz no meu caminhar incerto e cambaleante e tenho
esperança de me permitir um mundo melhor. Neste domingo tem procissão das charolas dos santos e de
Santa Maria Madalena. O dia mais importante da festa de nossa padroeira, 2 de
fevereiro.
Para os palmarinos o ano começa efetivamente a partir de
segunda-feira, 3. Vamos pedir a
interseção de nossa padroeira por um mundo de paz, harmonia, afetividade e
solidariedade. Fiquem com Deus.
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