Olívia de cássia - jornalista
Não sei como me portar diante de algumas situações práticas da vida. Sou atrapalhada, desastrada e não tomo jeito mesmo. Vivo tomando lições do cotidiano, mas nem as grandes bordoadas do tempo conseguem me ensinar.
Não nasci para administrar um lar, para tomar providências e nem para ser tão autossuficiente como eu imaginava na adolescência, quando eu achava que era a dona da razão. Agora eu sei. Passei minha vida inteira lutando para ser independente, proclamando a minha liberdade, querendo morar sozinha desde cedo.
Sai do convívio dos meus pais para estudar na capital quando tinha 16 anos. Aprendi a me virar sozinha, a ‘cuidar’ de mim, atrapalhada e cheia de responsabilidades. Achava-me a dona do mundo porque, na década de 70, uma menina sair do interior para morar na capital era o começo da nossa libertação.
Enfrentei preconceitos, falações, mas não desisti. Minha meta era estudar, ‘ser alguém’, aprender a ser madura e a resolver as minhas necessidades sem a ajuda e a intervenção da minha mãe. Como eu sinto a falta dela agora!
O tempo passou, consegui ter uma profissão, tive relacionamento sério, vieram as dificuldades, as experiências, o sofrimento e a vida foi seguindo seu rumo. Hoje, sozinha e na maturidade, refletindo bem com meus botões, chegamos à conclusão que valeu a pena o tudo vivido, mas o tudo que vivi foi muito pouco.
Não aprendi ainda a dizer muitos nãos, agora já o digo, pelo menos, mas não com a frequência que eu gostaria e que é necessário dizer. Dizer não para si e para os outros às vezes se faz necessário, para que depois não haja arrependimentos.
Vivo só, mas não me sinto sozinha. Tenho pensamentos e palavras suficientes, livros e lembranças que me fazem companhia. Agora, com a modernidade, também tenho os amigos virtuais que me acrescentam e me distraem.
Às vezes os pensamentos insistem em voltar, o coração bate mais forte e aceleradamente por conta de algumas situações, mas até isso me faz bem, é uma prova de que ainda estou viva e pulsante e que ainda posso ter vivências espirituais que podem ou não valer a pena.
Só o tempo dirá se errei a minha vida inteira, se acertei. O sofrimento faz parte do aprendizado da gente. Ter contato com pessoas jovens de boa cabeça me rejuvenesce e me recicla para que eu não me torne uma velha enferrujada e caquética.
Peço paciência àqueles que fazem parte do meu grupo seleto de amigos para que não me condenem e nem me julguem. Meu tempo útil por aqui será pouco e ainda tenho muito que viver, antes que as impossibilidades não me deixem fazer o que gosto.
Eu gosto de me divertir, de festas, de juventude de leituras, de cultura e de vida. Eu só quero ser feliz e nada mais nada. Boa noite e bom dia, já. Até breve.
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