Olívia de Cássia – jornalista
Sinto-me sem forças, estou cansada. O corpo velho reclama e pede repouso; já é madrugada e a vista já não ajuda. Sinto no olho direito um incômodo como se fosse um argueiro, que incomoda bastante, coloco colírio e vou deitar para ver se melhoro.
Revi há poucos minutos o capítulo de Gabriela, novela baseada na obra Gabriela Cravo e Canela do escritor Jorge Amado, adaptada pela segunda vez para a televisão. Revejo a cena dos coroneis e da beata conversando depois do assassinato do casal adúltero: A Sinhazinha e o dentista.
A história de Jorge Amado é passada nos anos de 1920 do século passado, um retorno ao chamado ciclo do cacau, cita o universo de coroneis, jagunços, prostitutas e trambiqueiros de calibre variado que desenham o horizonte da sociedade cacaueira.
“Na década de 20, na então rica e pacata Ilhéus, ansiando progressos, com intensa vida noturna litorânea, entre bares e bordeis, desenrola-se o drama, que acaba por tornar-se uma explosão de folia e luz, cor, som, sexo e riso”, diz a resenha da obra.
Comecei a fazer um paralelo com a sociedade atual. A sociedade brasileira mudou os costumes, mas o assassinato de mulheres por conta de envolvimentos amorosos, não. Acontece ainda quase todos os dias, apesar de o século XXI já ter chegado faz algum tempinho.
Em alguns locais do País os homens –e algumas mulheres também – ainda ‘lavam a honra com sangue’, como no tempo dos velhos coroneis do cacau na Bahia. Até a década de 1930 do século passado no Brasil a mulher sequer votava.
Em 1932, o presidente Getúlio Vargas finalmente adotou uma série de medidas que ‘reduziram’ o poder dos coroneis nas eleições, como o voto secreto. Ele também permitiu que as mulheres votassem pela primeira vez, mas só as funcionárias públicas, o que aumentava o número de eleitores urbanos, que não tinham relação alguma com os coroneis.
A mulher conquistou o direito de votar, tendo à frente a luta da socialista Bertha Lutz; aconteceram várias ‘revoluções’ sociais e sexuais; mas apesar disso, algumas práticas do coronelismo continuou existindo, por muito tempo (e ainda existe), em algumas regiões do Brasil.
De lá para cá aconteceram várias transformações na sociedade brasileira muitas delas encampadas pelo movimento feminista e os movimentos sociais. Mas apesar de todas essas modificações, ainda vemos mulheres mortas e sofrendo agressões e maus-tratos por conta da mentalidade machista, coronelista e atrasada que ainda reina na maioria dos homens.
A sociedade ‘avançou’, mas a modernidade de hoje, em tempo de novas tecnologias no Brasil, de Ipod, tablets e celulares de última geração, não trouxeram os avanços necessários, ainda, às nossas mulheres. "A descontinuidade política, a mentalidade coronelista (principalmente no Nordeste) e o descompasso entre as leis e a sociedade ainda atravanca processos” e a questão da mulher é uma delas.
A modernidade do século XXI ainda não educou e incutiu na cabeça de alguns homens e de mulheres também que ninguém é dono do outro e cada pessoa tem o direito de procurar sua felicidade, seja de que jeito for, mesmo que depois arque com as consequências de seus atos.
Acordo com crise de tosse e muito cansaço, a bendita asma novamente ataca, insistindo em me tirar o sono e o bem-estar. Só quem tem esse problema sabe o incômodo que nos causa. Fiquem com Deus e até mais.
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