sexta-feira, 11 de maio de 2012

Para minha mãe

Niviane Rodrigues - jornalista


Não há como descrever a dor dos que ficam e o que sentem os que partem. Afirmo com a convicção de quem viu de perto a partida para uma nova vida de um ser para lá de especial. Digo vida, porque acredito que nossa passagem por aqui não se encerra com o fechar dos olhos, o parar da respiração e do bater do coração.

Uma dor infinita e talvez ainda maior quando quem se vai é uma das partes mais importantes que temos ainda quando estamos protegidos em seu ventre, guardados em sua barriga e alimentados por seu mais importante alimento: o amor.

Um amor incondicional, que já começa quando pensamos em gerar um ser que fará parte do que há de melhor para qualquer humano: o amor.
Amar sem limites, sem barreiras, sem fronteiras, sem egoísmo. Amar simplesmente por amar. É desse amor que falo: o amor de mãe.

Para quem acredita que não o tem mais, porque ela já se foi, não tenha dúvida: ele é eterno. Está além da morte carnal. Supera as profundezas escuras de uma sepultura. Ah! amor de mãe não morre. Não dorme. Não se cansa. Está sempre vivo. Atento. Pronto para nos ajudar na hora que “gritamos”: “Socorre-me!

Preciso de um afago. De uma palavra tua. Do teu colo ou simplesmente de você ao meu lado”. Mesmo que não fale nada. Apenas olhe em seus olhos , afague seu rosto , seus cabelos e sinta sua pulsação. Sinto isso mesmo sem a existência do corpo físico de minha mãe.

Amor de mãe é aquele que está sempre em alerta. Vivo. Inteiro. Nada cobra. Nada quer. Só a felicidade de quem pôde ter a graça de chamar de filho. Só isso basta para fazer uma mãe sorrir. O sorriso do filho para ela é como um bálsamo que alivia a maior de todas as dores: a da alma, para a qual não há remédio.

Amor de mãe transcende tudo. Não há barreiras para ele. Se alguém acredita que há mães incapazes de amar, eu não acredito, penso na verdade que deve haver mães capazes de não se amar. Mas lá dentro, em uma pontinha de seu coração, tem espaço para amar o filho, por mais cruel e complicada que sejam certas situações. Quem somos nós para julgar?

Falo desse amor porque há 13 anos perdi minha mãe. Já era mãe quando isso aconteceu. Já doava meu amor aos meus filhos, mas nem isso completa o amor que ela me dava e me dá até hoje. Melhor falar no presente. É assim que sinto. Esteja ela onde estiver.

Eu era até então a mais medrosa das criaturas e achava que jamais conseguiria “ver a morte”. Vi. Sofri, chorei, nada pude fazer. Mas resisti. Saí mais fortalecida daquela situação que para muitos hoje pode ser insuportável.

Ouvi seus últimos suspiros. Sua última fala, balbuciada de forma quase sem conexão, em meio à dor que sentia e à doença que a consumia; sua pele e rosto transfigurados, mas vi e sobrevivi e hoje estou aqui para falar que passada mais de uma década ainda não fui capaz de aplainar o sentimento de ausência, a saudade e o querer tê-la em meu colo, sempre.

Hoje não há mais a dor daqueles momentos que pensamos ser insuperáveis. Mas a dor de quem sabe que nunca mais terá outra pessoa para chamar de MÃE. Alisar seus cabelos, beijar seu rosto, sentar no seu colo e dizer: “Te amo”. A mim e aos que a amaram com o mesmo amor de filho, só nos resta a lembrança e a certeza de que, mesmo ausente do mundo dos mortais, ela não nos deixa. Não descansa, nos vigia a cada instante e nos enxuga as lágrimas quando elas teimam em cair.

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