quinta-feira, 21 de julho de 2011

O que fazer?


Olívia de Cássia – jornalista

A esperança é um sentimento que alimenta a nossa alma. Dizem que temos que encontrar criatividade para continuar alimentando-a. O mundo continua lá fora, mesmo que seja madrugada e a maioria esteja adormecida.

Já é tarde quando escrevo este texto. Estou sufocada de asma alérgica, secreções no peito e insônia. Não consigo adormecer em paz, sem ansiedade e a respiração difícil. Entre um espirro desesperado e outro levanto e faço um chá quente, na esperança de um alívio imediato.

As preocupações aumentam. Não deu em nada o meu exame, ou pelo menos penso que não adiantou o resultado, para a finalidade que eu estava aguardando. Terei que começar do zero nas pesquisas para o problema médico familiar.

Em contato com colegas do grupo Ataxianet, fui informada que esse exame de ressonância magnética que eu fiz nem sempre acusa o problema e às vezes o mascara. Muitas vezes e cotidianamente, quem tem o problema sabe mais das inconveniências da ataxia do que alguns médicos.

Diante desse exame, procuro respostas para minhas quedas, meus tombos, meus engasgos de vez em quando, meu cansaço, fraqueza nas pernas e meu jeito atabalhoado diante das coisas práticas da vida, entre outros problemas mais.

Além de tudo, o laudo do exame diz que “os achados de imagem devem ser correlacionados com história clínica, cirúrgica e terapêutica para valorização”.

Nunca fiz nenhuma cirurgia, muito menos na minha cabeça, nunca vi um exame médico usar a expressão “deve ser”, sem exatidão nenhuma.

Não sou médica, mas qualquer leigo alfabetizado que entende um mínimo de português sabe disso. A linguagem utilizada no laudo é uma linguagem técnica que não é para leigos como eu, mas eu não entendi esse enunciado.

Em 2006 eu tive uma crise forte, meu corpo se recusava a atender os comandos do meu cérebro e só conseguia levantar no horário da tarde. Procurei um psiquiatra que tem formação em neurologia e ele me prescreveu um eletroencefalograma, cujo diagnóstico o médico deduziu que eu teria epilepsia e esclerose múltipla.

Esse laudo foi contestado por um dos melhores neurologistas do Estado. À época desse resultado primeiro minha reação foi convidar amigos para ir num restaurante ‘comemorar’ a notícia. Comemos e bebemos até tarde da noite.

O outro neuro, o mais gabaritado do Estado, fazendo os exames clínicos preliminares e conhecendo já a história da minha família, descartou os dois diagnósticos e me disse que havia a possibilidade de ser mesmo ataxia, o problema hereditário da minha família.

Uma informação que eu já conhecia por conta da convivência com os sintomas do meu pai, do meu irmão e de muitos familiares.

Amigos médicos e familiares meus me aconselharam a procurar um médico para que eu pudesse, por meio de indicação, comprovar o problema, procurar a Previdência Social e dar entrada no benefício, já que estou andando sem equilíbrio, tombando muito e de vez em quando levando quedas.

Mas com um diagnóstico desses que eu tive no exame, até eu, que sou leiga, sei que vai ser negado pela Previdência. Agora mais do que nunca sei que essa luta está só começando. Não vai ser fácil.

Sinto-me cansada, mas não posso parar. Além de tudo preciso continuar trabalhando, já que não tenho como me manter sem isso e conseguir mais outra atividade que melhore a minha renda, enquanto puder me locomover. Não vai ser fácil, eu sei .

Uma prima que mora fora do Estado e que é evangélica, por meio do Orkut, me perguntou se eu já não pensei na possibilidade de ter sido curada do problema, porque Deus é maior. E disse que eu tivesse fé.

Respondi para a doce Dulcinha que fé eu tenho, mas cá comigo, por que eu, entre quase uma centena de pessoas da minha família e outras tantas ia ser uma privilegiada por Deus para ter sido alvo da cura?

Eu tenho fé e creio no poder de Deus, mas talvez esta fé que já não é tão intensa, não seja suficiente para que eu seja contemplada com isso. Como diz meu irmão Petrônio, “cada um tem uma cruz para carregar na vida e essa talvez também seja a minha, apesar da inconformação que às vezes me dá.

Tenho muitos planos ainda, na profissão, na vida doméstica, na vida prática e no lazer. Não consigo, às vezes, me desapegar disso tudo para pensar que um dia poderei ficar inerte ou impossibilitada de fazer tanta coisa, vendo a vida passar, até que Deus tenha piedade de mim.

Não vou me dar por vencida, sou persistente, embora muitas vezes pareça pessimista . A realidade às vezes fala mais alto, mas eu vou encontrar o caminho. Eu acredito.

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