segunda-feira, 16 de maio de 2011

O que virá daqui pra frente?

Olívia de Cássia – jornalista

Quando a idade vai avançando, vamos adquirindo problemas de saúde, deficiências e mazelas que não têm mais jeito. É pressão alterada, estresse diário e muitas outras complicações.

Fui na neurologista na sexta-feira e ela foi clara comigo: disse-me que não poderia fazer nada por mim, já que tenho um problema hereditário, neurodegenerativo, a não ser emitir um laudo me encaminhando para a aposentadoria.

A ataxia spinocerebelar, para quem tem ou conhece o problema, não tem jeito, a tendência é eu ir piorando, definhando, da mesma forma que aconteceu com o meu pai, meu irmão Petrônio e tantos tios, primos e parentes próximos.

É ‘um presente de grego’ que recebemos dos nossos antepassados, mesmo que eles não tenham culpa disso. Semana passada eu levei uma queda e quase machuco o Thor, o meu gatinho filhote.

Caí do nada, tudo atrapalha à nossa frente, às vezes até o calçado é um impedimento. A gente não consegue identificar onde foi que o cérebro falhou permitindo a queda ou o tombo. É uma deficiência no cromossomo nove, já nascemos com isso.

Às vezes não há tropeço, caio e pronto. Depois dá um cansaço, uma sensação de fraqueza, uma angústia danada e desabafo fazendo xingamentos e chorando, não tem jeito.

Mesmo que eu consiga a graça da aposentadoria, não quero parar de produzir meus textos, minhas matérias; talvez eu tenha mais tempo para a pesquisa, para os estudos, a fotografia, a leitura e melhores cuidados com a saúde.

Não quero e não vou me acomodar, mesmo que a realidade esteja à minha porta, mostrando a minha situação real, de futura dependência de terceiros, para pequenas tarefas corriqueiras.

Estou só. Às vezes me ponho a pensar como será a minha vida daqui por diante, sem meus pais, sem companhia e sem ninguém.

A médica também me disse que a melhor coisa que me aconteceu foi eu não ter tido filhos, para não transmitir o problema. Isso machuca muito a gente, mas ela tem razão.

Quando eu comentava minhas limitações para alguns colegas, diziam que eu estava inventando problemas e criando doenças. A família sabe da minha situação e só eu sei o que passo.

Não dá para a gente camuflar um andar cambaleante, como se estivéssemos bêbados às 24 horas do dia. Não dá para esconder engasgos, quedas e outras ‘coisitas’ mais.

A visão dupla e a incontinência urinária até que não aparecem, mas os demais transtornos não dá para esconder nem camuflar. É aparente.

Apesar desse problema quero tentar levar uma vida normal, dentro das minhas limitações. O que não dá é para sonhar sonhos românticos e impossíveis; esses eu terei que deixar para trás ou tentar deletá-los da minha vida.

Um comentário:

Pai Sergio Tata d'Odé disse...

Quando chega a terceira idade, que para mim, não entendo porque a referencia, entendo que devemos nos preparar para alcançar feitos e ainda ultrapassar as barreiras pertinentes a esta idade, pois só assim, poderemos envelhecer com mais tranquilidade, principalmente no tocante aos cuiudados com a alimentação, sono, estresse, além de outros males deste século. Cuide-se, pois estou também me cuidando. Abraços

Aqui dentro tudo é igual

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