Olívia de Cássia – jornalista
Chego ao Banco do Brasil, agência Senador Mendonça, para pagar um Darf do meu Imposto de Renda. Novamente este ano paguei IR. A gente ganha pouco e ainda tem que pagar mais ao Leão, além do que já paga o ano todo de taxas. O que sobra é muito pouco, ou não sobra nada.
Aumenta a minha ansiedade, mas o desengano não vai tomar conta da situação. Tem gente passando por mais dificuldades do que eu. As chuvas estão aí para dizê-lo. Toda vez que chove me dá um arrepio de pensar naquelas pessoas todas desabrigadas, sem ter onde se abrigarem.
Domingo é Dia das Mães, um dia que para mim será de muitas reflexões, muitas lembranças e de muita saudade. Sinto falta da minha mãe, dos seus conselhos sábios e do seu jeito rude de ser. Onde ela estiver não deve estar muito satisfeita comigo. Ainda não consegui me encontrar.
Semana que vem tentarei um encaixe na neurologista, para que ela avalie o meu quadro e a evolução da ataxia. Sinto-me desamparada às vezes, porque não tenho com quem compartilhar aqui esses sintomas, já que não tenho tido muito tempo de me comunicar com o pessoal do grupo Ataxianet.
Para algumas pessoas da família eu piorei da falta de equilíbrio e é verdade. São tantos os sintomas que não tenho nem como negar isso; estou andando cada dia mais cambaleante. Só não ver quem não quer ou não entende o problema.
O portador de ataxia (DMJ) tem dois aspectos, na minha observação: ou se torna um revoltado com a doença ou se torna uma pessoa resignada. Não sei ainda em que fase eu me encontro, mas avalio que estou num estágio intermediário.
Tem dias que me revolto pelas minhas limitações, que eu sei vão aumentar a cada dia; outra hora tento me conformar com isso, pois não tivemos culpa de ter nascido com o problema.
Acho que devo mesmo é agradecer por eu ainda estar numa fase que me permite pensar, lucidamente, caminhar, embora feito bêbada e realizando minhas atividades diárias, apesar de já fazer com alguma dificuldade.
Alguns amigos portadores do problema me orientam que devo procurar um terapeuta e dizem que vou precisar de vários especialistas. Mas eu não tenho como me manter se não trabalhar.
Preciso conseguir um trabalho que me proporcione uma renda capaz de me favorecer um tratamento, nem que seja paliativo e eu dê andamento aos conselhos médicos.
Voltando ao banco, até que eu não esperei muito lá. Sinto-me tonta, não medi a pressão hoje. Tem gente que lê o que escrevo e que me critica por eu me expor em meus textos, colocar a minha realidade de vida, por falar dos meus sentimentos e me revelar por inteira.
Da mesma forma que não é toda hora que eu tenho com quem falar e trocar ideias, me ponho a rascunhar no bloquinho e depois posto no blog, como se fosse meu antigo Diário. É melhor assim; os outros não entendem e nem são obrigados a compreender a minha situação; também não quero posar de coitadinha e de vítima, o ato de escrever, muitas vezes, é só uma válvula de escape mesmo.
Preciso aprender que nem todo mundo merece que eu me exponha e me coloque pelo avesso, confessando todas as minhas fraquezas, culpas, pecados, que são muitos. Não sou perfeita, gostaria de ser uma pessoa melhor, mais justa e mais fraterna.
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