Olívia de Cássia - jornalista
Acordo com mal-estar: é a madrugada de segunda-feira que chega, me sufocando a respiração. Tento aumentar
o volume dos travesseiros para voltar a dormir lembrar do sonho recente, mas em
vão.
O esforço foi inútil, a
sensação de incômodo continua e levanto para preparar o velho e costumeiro chá,
para tentar me aliviar disso. O sono, nessas alturas, já foi embora. Sinto
calor apesar da ameaça de chuva lá fora.
Vou engolindo o chá
devagar, torcendo para que faça o efeito desejado e daqui a pouco eu volte a
dormir. Tenho muitas tarefas logo mais e preciso estar inteira para cumpri-las.
São os incômodos da velhice que vão surgindo com o tempo, nos alertando para as
nossas fragilidades.
Não quero me tornar uma
velha rabugenta, ninguém vai me suportar. Será que serei assim? Não quero ser
um estorvo na vida de ninguém; quando a gente é sozinha tem que aprender a
conviver com isso. Os sinais dos tempos são implacáveis e estão aí para nos
mostrar isso.
Tenho a sensação de
abrandamento, aos poucos, da minha agonia. Bruce Wayne e Aurora levantaram
quando viram que eu não estava mais na cama e agora estão aqui do meu lado. Ele
mais perto, por trás da tampa do notebook, e ela na cozinha olha para os lados,
como se buscasse alguma ajuda.
Malu e Oto dormem lá
fora, na casinha deles, foi um alívio essa aquisição. A nova casinha os protege
da chuva e do frio e não me sinto mais culpada por acomodá-los ali. Meus
filhotes são meus companheiros do dia-a-dia. Me confortam e me dão carinho, são
meus grandes amores.
O corpo todo dói; a perna
direta, depois daquela queda e do acidente, não é mais a mesma, está sempre com
aquela dorzinha cansada, apesar de já ter um tempo dos dois incidentes. Quando
chega a idade, as limitações vão nos indicando que precisamos seguir alguns
passos diferentes na vida.
A caneca de chá vai se
esvaziando e meus pensamentos flutuam; não sei se voltarei a dormir em seguida,
pois o sono já se foi. Apesar da tosse, me sinto melhor. Aurora me olha com
aquele olharzinho preocupado e fixo em algum ponto que não consigo identificar.
Será que os gatos são
sábios? Eu acredito que eles têm uma percepção especial das coisas, devem ser
anjos que chegam para estar ao nosso lado, como que para dizerem que não
estamos sóis.
O chiado no peito vai se
acalmando, o calor é intenso agora, pelo efeito do chá de hortelã, gengibre e
limão. Tento acreditar que vai ficar tudo bem, apesar desse peso nas têmporas.
Será que todo velho tem isso ou só é um privilégio meu?
Vou tentar me acalmar, é preciso perseverança, acreditar no melhor e dar o melhor que eu posso para que meu trabalho flua tranquilo como precisa ser. Fiquem com Deus.
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