segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sufocamento...

Olívia de Cássia - jornalista

Acordo com mal-estar: é a madrugada de segunda-feira que chega, me sufocando a respiração. Tento aumentar o volume dos travesseiros para voltar a dormir lembrar do sonho recente, mas em vão.
O esforço foi inútil, a sensação de incômodo continua e levanto para preparar o velho e costumeiro chá, para tentar me aliviar disso. O sono, nessas alturas, já foi embora. Sinto calor apesar da ameaça de chuva lá fora.

Vou engolindo o chá devagar, torcendo para que faça o efeito desejado e daqui a pouco eu volte a dormir. Tenho muitas tarefas logo mais e preciso estar inteira para cumpri-las. São os incômodos da velhice que vão surgindo com o tempo, nos alertando para as nossas fragilidades.

Não quero me tornar uma velha rabugenta, ninguém vai me suportar. Será que serei assim? Não quero ser um estorvo na vida de ninguém; quando a gente é sozinha tem que aprender a conviver com isso. Os sinais dos tempos são implacáveis e estão aí para nos mostrar isso.

Tenho a sensação de abrandamento, aos poucos, da minha agonia. Bruce Wayne e Aurora levantaram quando viram que eu não estava mais na cama e agora estão aqui do meu lado. Ele mais perto, por trás da tampa do notebook, e ela na cozinha olha para os lados, como se buscasse alguma ajuda.

Malu e Oto dormem lá fora, na casinha deles, foi um alívio essa aquisição. A nova casinha os protege da chuva e do frio e não me sinto mais culpada por acomodá-los ali. Meus filhotes são meus companheiros do dia-a-dia. Me confortam e me dão carinho, são meus grandes amores.

O corpo todo dói; a perna direta, depois daquela queda e do acidente, não é mais a mesma, está sempre com aquela dorzinha cansada, apesar de já ter um tempo dos dois incidentes. Quando chega a idade, as limitações vão nos indicando que precisamos seguir alguns passos diferentes na vida.

A caneca de chá vai se esvaziando e meus pensamentos flutuam; não sei se voltarei a dormir em seguida, pois o sono já se foi. Apesar da tosse, me sinto melhor. Aurora me olha com aquele olharzinho preocupado e fixo em algum ponto que não consigo identificar.

Será que os gatos são sábios? Eu acredito que eles têm uma percepção especial das coisas, devem ser anjos que chegam para estar ao nosso lado, como que para dizerem que não estamos sóis.

O chiado no peito vai se acalmando, o calor é intenso agora, pelo efeito do chá de hortelã, gengibre e limão. Tento acreditar que vai ficar tudo bem, apesar desse peso nas têmporas. Será que todo velho tem isso ou só é um privilégio meu?

Vou tentar me acalmar, é preciso perseverança, acreditar no melhor e dar o melhor que eu posso para que meu trabalho flua tranquilo como precisa ser. Fiquem com Deus.


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