O
projeto do museu Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea realiza
oficinas de arte-educativa nos dois povoados, em Pão de Açúcar e Piranhas
Jorge
Barboza- assessoria de imprensa
Começa nesta sexta-feira,
dia 7, o “Cinema no Balanço das Águas/ Segunda Edição”, projeto dos artistas
visuais Dalton Costa e Maria Amélia Vieira contemplado pelo Programa BNB de
Cultura/ Parceria BNDES. A ação de arte-educativa – levada a cabo pelo museu
Coleção Karandash de Arte Popular e Contemporânea – consiste na realização de
diversas oficinas de artes (incluindo vídeo, fotografia e cinema de animação)
para a população ribeirinha, especialmente crianças e jovens, dos povoados Ilha
do Ferro (em Pão de Açúcar) e Entremontes (Piranhas), no sertão alagoano.
O
barco Santa Maria, ancorado em Pão de Açúcar, é que levará os monitores das
oficinas para as localidades-alvos do projeto que iniciou suas atividades em
2008 como “Museu no Balanço das Águas”. Trata-se na verdade da quarta navegação
dessa embarcação que, antes de prestar-se à função de museu itinerante, fazia o
transporte de passageiros de uma margem a outra do rio São Francisco.
As crianças e adolescentes
estão empolgadas.
O que achou das aulas de
artes que você fez no ano passado, Vitória? “Eu gostei muito”, responde
laconicamente a menina de oito anos do emblemático povoado Ilha do Ferro. As
crianças e jovens, reunidos no famoso “Redondo” da casa de Rejânea, bordadeira
filha do escultor e marceneiro Fernando Rodrigues (1928-2009), estão ansiosas
para começar os novos trabalhos da segunda edição do “Cinema no Balanço das
Águas”.
“Eu tirei fotos de latinha”,
diz o garoto Gabriel, 12 anos, estudante da 6ª série, referindo-se ao exercício
fotográfico a partir do método pin-hole
– ou seja, fotografias tiradas com filme numa lata de leite. “Eu pegava o papel
e a latinha, botava a tampa da latinha, contava até 60 e fechava o durex.
Depois tirava a foto, botava o papel na água pra aparecer o que tinha sido
fotografado”, explica o adolescente que estudou, no ano passado, com o
fotógrafo Juarez Cavalcanti.
O “Redondo” na casa que hoje
pertence a Rejânea e seu marido Valmir Lessa (assim como o sogro, também
escultor e marceneiro) era onde se reuniam, para beber e conversar, amigos e
discípulos de ‘seu’ Fernando, mestre das artes escultóricas que ficou conhecido
pelo Brasil e mundo afora em mostras coletivas de arte popular e design de
móveis (como as exposições “Brésil, Arts Populaires”, no Grand
Palais de Paris, em 1987; “Uma História do Sentar”, no Museu Oscar Niemeyer,
em Curitiba, 2002, e “Puras Misturas”, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, em
São Paulo, 2010).
Um lugar mítico, assim como aquela outra areazinha de comes e
bebes lá atrás chamada “Boca do Vento” – provavelmente o lugar mais fresquinho
da Ilha do Ferro, onde, nesta época do ano, os termômetros facilmente ultrapassam
os 40 graus...
O rapazola Walisson repensa
suas vocações: “Eu queria ser médico, mas agora estou pensando em cinema”. Na
primeira edição do projeto, ele fez a oficina de vídeo e cinema com o cineasta
Pedro Octávio Brandão. “Nós fizemos um filme sobre a Ilha do Ferro. Eu era que
fazia as perguntas a Rejânea, ao Aberaldo [Aberaldo Sandes, escultor], ao
Eraldo [Eraldo Dias, artesão], que é o avô do Gabriel. Vou fazer novamente a
oficina de cinema. Essas aulas estão ajudando a gente a se desenvolver”, diz
Walisson com desenvoltura.
A menina Cândida Urânio, de
11 anos, que havia frequentado as aulas de artes, decreta: “Eu vi as fotos que
os meninos fizeram – ficaram boas. Este ano, vou fazer fotografia”.
Todos tinham suas fotos
emolduradas. Correram às pressas, do Redondo para suas casas, retornando com o
resultado de seus estudos, exibindo-os para esta reportagem tendo como fundo o
rio da integração nacional, o São Francisco que margeia aquela imensa riqueza
cultural nativa da Ilha do Ferro e de Entremontes, passando pelos quintais e as
bocas do vento de cada uma daquelas casas.
Oficinas e vagas
A edição 2012 do “Cinema no Balanço das Águas” preencheu 24 vagas das
oficinas de Fotografia (para um público entre 16 e 45 anos); 24 vagas das
oficinas de Cinema (idade entre 16 e 29 anos) e mais 30 vagas das oficinas de
Animação (de 13 a 20 anos), que é uma novidade este ano. O diretor de curtas
Ricardo Elia, do quadro docente da Anima Escola (que é uma ação do Festival
Anima Mundi, no Rio de Janeiro), foi convidado para uma oficina especial de stop motion – a técnica que permite a
animação de desenhos e esculturas.
Há ainda as oficinas de arte, com técnicas de desenho, pintura e
escultura, destinadas às crianças e pré-adolescentes até 15 anos – essas têm
uma média de 100 participantes. Além disso, um cineclube para exibir filmes
nacionais e estrangeiros manterá em cartaz, durante três meses, filmes
nacionais e estrangeiros cedidos pelo Museu da Imagem e do Som.
A equipe de professores é formada por Juarez Cavalcanti (fotografia),
Pedro Octávio Brandão (cinema), Rejeny Rocha (artes), Maria Amélia Vieira
(artes), além de Ricardo Elia, da oficina de stop motion (a
técnica que permite o filme de animação).
Além destes, outros profissionais
participam do projeto, como Dalton Costa, o diretor de cinema Glauber Xavier; o
desenhista Jorge Santos; o instrutor de artes Ricardo Lima; o fotógrafo Pablo
de Luca; o designer gráfico Daniel Macedo; o diretor do Museu Casa do Velho
Chico (PE), Antônio Jackson Borges Lima; o assistente de arte Eduardo Faustino
e o assistente de produção Elson Madureira.
O projeto contemplado pelo Banco do Nordeste e BNDES também recebe apoio
da Galeria Karandash, das prefeituras de Pão de Açúcar e Piranhas, da
Secretaria de Estado da Cultura através do Misa, do Sebrae-AL e do Sesc-AL.
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