sábado, 1 de setembro de 2012

Conversa com meu Diário...

Olívia de Cássia – jornalista

É madrugada de sábado, 31 de agosto, último dia do mês. Cheguei do jornal já tem um tempinho, fiz alguma coisa para comer, mas não deu. Minha inabilidade na cozinha é tanta que a criatividade é zero. Minha saúde está frágil, Diário.

Novamente eu não me senti muito bem hoje; coloquei todo o almoço para fora e passei o resto do dia sem me alimentar direito. A cabeça dói. É uma mistura de tudo, um verdadeiro caldeirão de pensamentos e emoções.

Mas diante de tudo eu não me queixo, amigo Diário. Agradeço a Deus por cada respirar, por ainda fazer minhas tarefas pessoais sem a ajuda de outras pessoas. É normal ter esses incômodos, de vez em quando na minha idade. Pelo menos avalio que deve ser.

Servem para mostrar o quanto somos frágeis diante da vida e basta uma pequena intervenção para incomodar. Tenho refletido muito sobre tudo isso nos últimos tempos. A gente vai ficando velho e imprestável mesmo.

Chico Anysio dizia que a velhice só servia para trazer sabedoria; muitas vezes nem isso traz. Tenho repetido para meus amigos e para meus próprios botões que já me aposentei da vida sentimental e sexual, tranquei as portas do meu coração e joguei a chave fora.

Mas a gente não pode matar os sentimentos dentro da gente. Lá no fundo eles estão lá. De um tempo para cá, meu Diário, me pego tendo pensamentos saudosos, tenho lembrado dos poucos amores que tive, desde à pré-adolescência.

Naquela época de menina nossos paqueras eram amores platônicos mesmo, encantamentos de meninas ingênuas. A gente mal podia chegar perto dos meninos. Pegar na mão e beijinho no rosto era o máximo permitido.

Nossa ingenuidade e pureza também não permitiam mais que isso. Os anos foram passando, nos tornamos adultos. Durante esses anos de minha vida passei por falsas ilusões, me entreguei de corpo e alma a quem não devia.

Sabe, amigo Diário, eu queria ser uma mulher mais forte, mais durona, não mais me importar com quem não se importa comigo, com quem sequer procura saber como estou de saúde. A indiferença vai criando barreiras na gente, obstáculos, distanciamento.

Eu luto todos os dias, Diário, pela minha felicidade. Não quero ser uma pessoa infeliz, apesar da idade. Eu não mereço mais passar por enganações, mentiras, abandono e indiferença, por isso me recolhi e não quero mais sonhar com amores, muito menos quereres impossíveis.

É melhor deixar a chave do coração lá fora mesmo, no lugar que foi colocada e procurar ser feliz de outro jeito, sozinha, apenas vivendo de lembranças dos bons momentos e procurando fazer o bem, viver uma vida serena, sendo feliz com o que tenho. Apenas isso, Diário. Boa noite.

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