Amigo Diário, preciso te confidenciar o que vai dentro de mim, nessa madrugada de sexta-feira,
28 de setembro. Confesso-te que eu chorei lágrimas de tristeza, solidão e
desamor, ontem à tarde.
Mas não te preocupes comigo que já me refiz daquilo
tudo, em parte. Eu só quero que me escutes e que me entendas, só isso. Sabe,
não é fácil viver assim, da mesma forma que eu, tu sabes.
Não estou reclamando da sorte,
isso não, pois lá fora existem pessoas com frio e fome, passando diversas
necessidades, além das da alma. Isso eu tenho clareza.
O que quero te contar, Diário, são ilações da minha alma,
coisas que só dizem respeito a nós dois, pois ninguém precisa ficar sabendo desses
nossos segredos. Tu sabes o quando luto
para ser feliz, para ser uma pessoa melhor, tentando me policiar
para não cometer loucuras que eu possa me arrepender depois.
Mas às vezes Diário, as loucuras são necessárias para a
nossa felicidade. Aguenta aí que ainda
não é disso que estou tentando falar. Parece que agora não estou conseguindo
achar palavras para me fazer entender. Quem sabe se tu não advinhas o que vai à
minha alma, feito aquelas confidências mais puras que eu te fazia na
adolescência?
Sabe aqueles dias que a gente acorda de sobressalto, com cãibras nas pernas, assustada, atrasada para o trabalho, com muita responsabilidade pela
frente e pensa que não vai conseguir dar conta de tudo?
Além dessa preocupação, amigo Diário, me vejo com as minhas
incertezas financeiras e pessoais, cheia de dúvidas, de questionamentos e com
pensamentos fervilhando na minha cabeça. E cada vez que isso acontece comigo,
me remete a uma saudade derradeira do passado.
Me vem a saudade da meninice na querida e saudosa Rua da Ponte,
quando a gente não se preocupava com os problemas da vida, dos banhos nas bicas
das casas em época de chuva, dos passeios à Barriguda, das brincadeiras no Rio
Mundaú e das amizades que deixamos para trás.
Eu sinto muita saudade da adolescência e juventude na
Tavares Bastos e dos sonhos que alimentava na minha querida União dos Palmares.
Sinto falta dos bate-papos na porta da farmácia do seu José, pai do meu amigo
Toquinha, de tantos amigos queridos que já se foram como Alonso, Aerton, Geraldo
Galvão, Carlos Fotofil e outros que a memória agora me falha.
Lembranças que me chegam dos sonhos que alimentávamos juntos, das muitas
vivências daquela época saudosa na Terra de Zumbi. Das músicas que nós ouvíamos
e que aprendi a apurar o gosto musical na companhia daqueles amigos queridos! Por que essa saudade doída sempre me acomete às madrugadas,
quando tento dormir e não consigo?
Às vezes é uma dor que dói sem
doer essa que eu sinto. Sempre tive um coraçãozinho amolecido e fácil de conquistar
a amizade, basta um carinho, uma palavra amiga e já estou eu derretida e
querendo ajudar. É tão fácil e sempre
foi o meu apego às pessoas que às vezes isso chega a complicar a minha vida.
Estou com saudade, saudade de alguém que
um dia eu fui, da pessoa que eu queria ter sido e não consegui. Saudade do tempo da
mocidade, onde vivi os melhores momentos da minha vida. Eu queria que o tempo
pudesse voltar, mas o tempo não volta, eu sei. Queria reviver aquilo tudo e viver muito
mais; fazer o que não fiz.
Sabe, Diário, no silêncio de agora, quebrado pelo rádio do
celular, eu me faço vários questionamentos, mas não consigo encontrar um denominador comum
para essa análise da minha vida de tantos sonhos desvairados. Boa madrugada
para todos!
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