sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Padre Beto diz que Igreja trata com hipocrisia a sexualidade

Foto de Sandro Lima
Olívia de Cássia - Repórter


Excomungado da Igreja Católica pelas ideias que defende e pelos seus escritos no blog que criou na internet e no Facebook, o escritor Roberto Francisco Daniel, ou simplesmente padre Beto, natural de Bauru (SP), espera por uma decisão do papa Francisco sobre seu processo para saber se continuará sendo sacerdote.
A publicação de suas opiniões em textos na internet fez com que ele fosse convidado pelo bispo de Bauru a apagar o que tinha escrito e a pedir perdão. Como não aceitou as exigências da Igreja, ele foi demitido do cargo e o processo agora está no Vaticano.
A história do padre Beto e seus pensamentos avançados - para a Igreja - estão no livro ‘Verdades Proibidas - Ideias do padre que a Igreja não conseguiu calar’, que será lançado hoje à noite, a partir das 18h30, na Revistaria Centenário, na Praça do Centenário, no Farol, em Maceió.
Em entrevista à Tribuna Independente na tarde de ontem, ele contou como tudo aconteceu. Segundo padre Beto, a primeira conversa que teve com o bispo de Bauru foi com relação à questão política, local e estadual, porque sempre tentou conciliar teologia e questões sociais. Padre Beto destaca que começou a fazer críticas à crise na saúde de Bauru e bateu de frente com as administrações locais.
Sexualidade
Temas considerados tabus pela Igreja Católica como homossexualidade, masturbação, sexo antes do casamento e métodos anticoncepcionais, entre outros, são abordados no livro do padre Beto. Ele também conta sobre sua militância política na Pastoral da Juventude, em Bauru, quando era adolescente, até os 27 anos, quando decidiu ser padre.
Formado em Filosofia e Direito, padre Beto fala abertamente sobre a hipocrisia existente na Igreja Católica a respeito de temas como sexo. “É incabível uma Igreja que se preocupe tanto de uma forma negativa com um garoto que se masturba e uma Igreja que não se importa com a educação em uma escola pública. Isso é totalmente absurdo. Eu disse isso para um repórter de um jornal do Japão. Em que mundo eu estou, onde a Igreja prega que não se deve usar camisinha, anticoncepcional, não fazer uso de laqueadura ou vasectomia? Isso é um absurdo”, pontua.
O padre argumenta que veio de uma Igreja no Brasil que era muito arejada, onde aprendeu cidadania, “onde a reflexão era possível. Fui para a Alemanha e volto em 2001, onde encontro uma Igreja extremamente dogmatizada, neopentencostal, totalmente com uma teologia intimista”, observa. Ele pontua que celebrava missas em Bauru que chegavam a ter cerca de 1.200 fiéis e disse que o que falava levava as pessoas a refletirem. “Ainda hoje me convidam para celebrar casamentos e eu explico que não tem valor religioso. A minha intenção como teólogo não é fazer com que as pessoas engulam o que eu digo, mas que pensem teologicamente a respeito. Pensar o que Deus faria aqui se estivesse em meu lugar”, pontua.
Padre Beto diz que o Brasil louva a Deus demasiadamente, mas que não é um país cristão, apesar de ter muitas igrejas. Sobre a homossexualidade, ele afirma que a postura da Igreja Católica é homofóbica, porque diz que aceita o homossexual, mas não aceita a homossexualidade. “Se eu digo isso, eu estou criando um preconceito com relação ao que o homossexual tem dentro de si. A sexualidade você tem, você nasce com ela. Se eu vejo uma menina na rua e eu tenho tesão por ela, isso não é uma opção. Eu não sou homossexual, sou heterossexual e tive experiências antes de ser padre. Eu não fui para a Igreja virgem, tive relacionamentos com mulheres”, revela.

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