Olívia de Cássia - jornalista
Dizem que o despertar da consciência só se dá diante de uma
grande crise: seja ela pessoal, mundial ou qualquer outra. Geralmente a gente
só se dá conta de que algo está errado na nossa rotina de vida ou em sociedade,
quando nos vemos diante do caos: isso é fato.
Passamos a vida muitas vezes aparentando concordar com algumas
situações pessoais e ou profissionais, mesmo que a gente não aceite a essência
delas, apenas para não nos fazer indelicados, para não parecermos arrogantes ou
para nos manter inteiros no ambiente em
que vivemos.
Tempos depois nos
assustamos, nos decepcionamos, mesmo sendo aquela uma reafirmação do que já
havíamos percebido. E muitas vezes, por esse motivo, a gente não consegue se
segurar e se não tiver uma firmeza de caráter e um apoio, por mínimo que seja, para nos sustentar, desabamos de vez.
Falar sobre cidadania pode parecer uma atitude demagógica
nos dias atuais, mas aprendi com minha vida calejada de aprendizado e com a
maturidade que os anos me trouxeram, que onde há o exercício da cidadania, a
violência não impera e o ser humano é sempre mais comedido e civilizado.
A sociedade moderna passa por uma grande crise: política, de
costumes, moral e ideológica, se é que assim podemos chamar. O que ontem era
visto como politicamente incorreto, hoje é visto nos meios de comunicação, que
ostentam a degradação dos valores familiares, o sexo explícito, a ausência de
gentilezas e a desmoralização dos poderes constituídos, como a moda a ser seguida.
Muitas vezes, quem poderia dar o bom exemplo é quem mais
transgride na sociedade. Não falo daquela transgressão salutar que nos faz
indivíduos melhores depois. Falo da transgressão por meio da corrupção
deslavada que a gente percebe todo dia estampada nos jornais ou das pequenas
corrupções praticadas por algumas pessoas que só veem defeito nos outros.
“Vivemos há cem anos
a ilusão de que com o crescimento econômico e a melhoria educacional tudo vai
melhorar. O País está mais rico e, ao que tudo indica, mais corrupto". A
afirmação é do sociólogo e pesquisador Bolívar Lamounier, autor de livros e
trabalhos acadêmicos onde conceitua que a corrupção nas entranhas do Estado
brasileiro está profundamente enraizada.
O autor analisa em seu livro Cultura das transgressões no
Brasil (Editora Saraiva) que o problema da corrupção é tentacular e que a impunidade
é ampla. “No Brasil, a transgressão é generalizada, acontece pela incapacidade
de aplicação da lei e basicamente por motivação econômica”, argumenta.
Alguns setores da sociedade tentam justificar os erros
cometidos por algumas figuras públicas do mundo político, que antes eram vistas
como exemplos a serem seguidos. Aqui e
alhures as punições são mínimas para os crimes chamados de colarinho branco, apesar
de um despertar de consciência e da criação de instituições que estão
fiscalizando mais atentamente os atos de gestores e governantes.
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