Olívia de Cássia - Jornalista
Dez anos depois eu acordo com uma sensação estranha, nessa
manhã: tive um sonho nunca sonhado antes, como se aquela cena viva tivesse
acontecido ontem, como se ela fosse parte da minha rotina de agora.
Achei estranho aquele ‘filme’ acontecer daquela forma. Era como se no fundo da minha mente aquelas imagens tivessem sido arquivadas e estivessem adormecidas e agora revividas em alguma parte.
Achei estranho aquele ‘filme’ acontecer daquela forma. Era como se no fundo da minha mente aquelas imagens tivessem sido arquivadas e estivessem adormecidas e agora revividas em alguma parte.
Dirigi-me ao trabalho e durante todo o percurso eu fui
pensando naquele sonho irreal, impossível de acontecer de novo. Cheguei à
conclusão de que hoje eu sou mais forte, mais segura, diferente daquele tempo em
que eu era tão frágil, tão estranhamente dependente física e emocionalmente.
Setembro é um lindo mês. É quando a esperança bate nos
corações dos apaixonados, é tempo de boas novas, de flores e de poesia: é mês
da primavera. Mas foi em setembro, também, poucos dias depois da primavera
chegar, há dez anos, que eu tive uma dura revelação e muitos ensinamentos que me transformaram a vida.
A gente percebe que o tempo voou e que tudo passou muito
rápido: algumas situações aconteceram porque tinham que ser; hoje eu sei. No
começo era difícil entender, me acostumar com aquele sentimento de abandono, aquele
rompimento brusco, mas que o tempo já vinha mostrando que ia acontecer.
Não havia mais compreensão, carinho, entendimento e lealdade:
não havia respeito, de um lado, consideração e a harmonia naquela convivência.
Tudo tinha ido para o espaço fazia tempo. Eu errei mais uma vez nas minhas
escolhas, errei durante minha vida toda.
É difícil a gente admitir o erro, mas é preciso entender que
tudo não passou de um grande engano naquele relacionamento. Eu pensei que fosse
amor aquele sentimento, iludida que eu era com todo aquele envolvimento. E como
eu erro nas minhas escolhas, isso é fato.
Sou atrapalhada ao extremo: ou me dou demais e cometo as
mesmas tolices na minha doação, sempre, ou meto os pés pelas mãos como se diz
no popular. Cada vez que há uma aproximação, há um desastre à vista: eu já
desisti disso.
Dez anos depois eu acordo, não sei se aliviada, não sei se
mais segura, mas sei que estou mais madura, experiente, feliz em estar sozinha e
ciente de algumas lições da vida. Não posso dizer que não errarei de novo, mas
os mesmos enganos eu não cometerei novamente. Cometer enganos na vida todo mundo
comete: eles podem até vir novamente, mas de formas diferenciadas, pelo menos é
o que espero.
Como é que a gente pode se enganar tanto, durante tanto
tempo, com o caráter de uma pessoa que a gente aprende a gostar pela
convivência e pela insistência e depois percebe que tudo não passou de um jogo
orquestrado e sujo, de uma tramoia para enganar e iludir quem já vinha de uma
situação de desilusão, de um coração magoado e aflito...
Já está definido que eu não quero mais isso para mim: a
idade já me basta, a experiência adquirida também. Eu convivo muito bem com a
minha solteirice e a minha solidão: somos companheiras de uma vida que não
admite mais tantos erros, tantos enganos e desilusões.
Ser sozinha, mas não solitária e aflita é uma vantagem
diante de tantos atropelos que a vida oferece e na companhia dos meus filhotes
e no desempenho do meu trabalho eu me realizo. Sou feliz assim. Anoitece lá
fora e aqui dentro da redação há muita informação a ser digerida e apurada
ainda. Boa noite e fiquem com Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário