Dr. Luiz Antônio Ferreira da Silva |
Foto: Sandro Lima
Olívia de Cássia
Repórter
O Banco de Dados de DNA de Pessoas Desaparecidas da
Universidade Federal de Alagoas existe desde 1997, mas enfrenta dificuldades e
não tem dados de crianças e jovens que tenham sumido no Estado, segundo o coordenador do laboratório, o médico e professor
Luiz Antônio Ferreira da Silva, que trabalha com a questão do estudo da
paternidade. São exames de parentesco genético na ausência do suposto pai e
complementados, se necessário, com os parentes biológicos.
Mas com relação à informação sobre crianças e jovens
desaparecidos, o local não tem informações. Apenas 11 pessoas constam no Banco
de Dados de DNA da Ufal, por falta de quem o alimente. Entre os problemas para
a atualização do sistema está a falta de interesse de setores públicos em
repassar as informações.
Segundo o professor, falta vontade política para fazer a
alimentação dos dados no sistema. “Precisava entrar todo mundo de peito,
delegacias, conselhos tutelares e outras entidades da sociedade. O Banco de
Dados existe, só não tem como fazer, não funciona”. Luiz Antonio explica ainda
que foi elaborado um projeto piloto que permitiria que o sistema fosse
atualizado nacionalmente, mas isso acabou não saindo do papel.
“Me reuni com o secretário de Defesa Social, com delegados e
conselheiros tutelares para que existisse uma atualização das informações das
pessoas desaparecidas, mas isso acabou não acontecendo, é uma briga de egos.
Iríamos oferecer um treinamento nas delegacias para que os agentes e delegados
aprendessem como acessar, mas ninguém quis. Nosso banco de dados é sofisticado
e agora está sem utilidade”, lamentou.
O professor argumenta que fez um cartaz para que fosse
exposto em escolas, em cidades do interior e outros locais públicos, “fazendo
um trabalho de capilaridade e quando tivesse uma pessoa desaparecida os
interessados chegassem à delegacia e o delegado, antes de fazer o Boletim de
Ocorrência, usaria o software, que está na internet, e preencheria os dados,
alimentava o banco e aí a gente poderia dizer quantas pessoas (entre eles
adultos, crianças ou jovens, meninos e meninas) estão desaparecidas, mas não
tenho como ajudar”, explica o médico.
Luiz Antonio reclama que falta vontade social para que o
Banco de Dados criado pelo Laboratório Forense de DNA da Ufal funcione. “A
maioria das crianças desaparecidas são pobres, meninos de rua e não há muito
interesse em se descobrir quem são. É um extermínio que não está sendo dito com
todas as letras. É preciso fazer uma moldura para que a gente saiba quantas
pessoas estão desaparecidas no Estado. Você não vê gente rica desaparecida e
não identificada, são todos pobres, é muito delicado”, reclama.
Convênio promove ‘pesquisa’ de DNA
O professor e médico Luiz Antônio Ferreira, coordenador do
Laboratório de DNA da Ufal, diz que está em andamento um convênio com a
Secretaria de Defesa Social para otimizar o banco de dados criado por ele.
Segundo o convênio, o IML vai mandar, por meio da Perícia
Oficial, os restos mortais que não forem identificados para a Ufal, junto com
material de células da família que tenha um ente desaparecido, “para que a
gente faça o confronto com material do osso do morto”, explica.
Há em Alagoas uma grande dificuldade em se obter informações
sobre crianças e adolescentes desaparecidos. A reportagem percorreu vários caminhos
para tentar descobrir dados e detalhes sobre cada caso. Em primeiro lugar, não
foi permitida pela Polícia Civil a liberação das fotos dos menores para serem
divulgadas na Tribuna Independente. Segundo a delegada Bárbara Arraes, é
preciso autorização por escrito das famílias.
Outra barreira foi localizar uma autoridade para explicar
por que o convênio com o Bando de Dados de DNA de Pessoas Desaparecidas não
está funcionando. A Secretaria de Defesa Social informou que o assunto é de
competência da Delegacia de Crimes contra Criança e Adolescente. A delegada
Bárbara Arraes, porém, disse que não tem acesso a esses dados do convênio e que
só a Secretaria poderia falar.
Perícia Oficial e Conselhos Tutelares também foram
procurados, mas não souberam falar acerca do assunto.
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