Ficou pra traz na sociedade a visão de que a violência
doméstica só atinge mulheres pobres: essa teoria já está totalmente
ultrapassada, segundo a pesquisa inédita
“Percepção da sociedade sobre violência e assassinato de mulheres”, realizada
pelo Data Popular\ Instituto Patrícia Galvão.
Lançada na semana em que a Lei Maria da Penha completou sete
anos, a pesquisa de opinião, que teve o apoio da Secretaria de Políticas para
as Mulheres e Campanha Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha, revelou
significativa preocupação da sociedade com a violência doméstica e os
homicídios de mulheres pelos parceiros ou ex-parceiros no Brasil.
O estudo revela que o problema da violência contra a mulher
está presente no cotidiano da maior parte dos brasileiros: entre os
entrevistados, de ambos os sexos e todas as classes sociais, 54% conhecem uma
mulher que já foi agredida por um parceiro e 56% conhecem um homem que já
agrediu uma parceira.
Para mim o dado é assustador, mas não é novidade, pois venho
acompanhando as discussões a respeito do tema, desde a universidade. Avalio que
o aumento dos índices também se dá pela tomada de coragem de muitas mulheres
agredidas para fazer a denúncia e nesse sentido a Lei Maria da Penha veio
trazer esperança e um ganho muito maior do movimento.
Lembro que na época da minha pequena militância no movimento
de mulheres de Maceió, lutava-se por casas de passagens, locais onde as
mulheres pudessem se abrigar, caso resolvessem sair de casa por conta das
agressões. O movimento também reivindicava delegacias especializadas para que
as mulheres que fossem fazer as denúncias tivessem amparo profissional e não
fossem ridicularizadas.
O tempo passou, apesar dos números crescentes de violência
acredito que a Lei trouxe muita coisa positiva, mas ainda é preciso muito mais.
Antigamente tinha-se o mito de que a violência contra as mulheres era acentuada
nos lares pobres: hoje esse mito caiu.
A pesquisa Data Popular/Instituto Patrícia Galvão mostra
ainda que 69% afirmam acreditar que a violência contra a mulher não ocorre
apenas em famílias pobres; a gente percebe que ela está metida em todo o lugar.
Ainda segundo os dados divulgados, 70% acham que a mulher
sofre mais violência dentro de casa do que nos espaços públicos. Para a defensora pública de Roraima e
coordenadora da Comissão de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher do
Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), Jeane Magalhães
Xaud, os dados traduzem a realidade com a qual ela se depara no cotidiano do
atendimento a mulheres em situação de violência.
“Essa visão de que a
violência doméstica só atinge mulheres pobres é totalmente ultrapassada. Na
Defensoria atendemos professoras universitárias, médicas, dentistas, juízas,
desembargadoras, defensoras; todas mulheres vítimas de violência. A pesquisa
mostra uma realidade que pode ser estendida à sociedade como um todo”, pontua.
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), sancionada pelo
então presidente Lula, veio para punir com mais rigor os agressores de mulheres
e foi mais uma conquista para a sociedade: “Depende da compreensão da categoria
gênero e da determinação em não compactuar com a violência contra as mulheres”,
diz o texto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário