sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A violência doméstica está em todas as classes

Olívia de Cássia – jornalista

Ficou pra traz na sociedade a visão de que a violência doméstica só atinge mulheres pobres: essa teoria já está totalmente ultrapassada, segundo a pesquisa  inédita “Percepção da sociedade sobre violência e assassinato de mulheres”, realizada pelo Data Popular\ Instituto Patrícia Galvão. 

Lançada na semana em que a Lei Maria da Penha completou sete anos, a pesquisa de opinião, que teve o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres e Campanha Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha, revelou significativa preocupação da sociedade com a violência doméstica e os homicídios de mulheres pelos parceiros ou ex-parceiros no Brasil.

O estudo revela que o problema da violência contra a mulher está presente no cotidiano da maior parte dos brasileiros: entre os entrevistados, de ambos os sexos e todas as classes sociais, 54% conhecem uma mulher que já foi agredida por um parceiro e 56% conhecem um homem que já agrediu uma parceira.

Para mim o dado é assustador, mas não é novidade, pois venho acompanhando as discussões a respeito do tema, desde a universidade. Avalio que o aumento dos índices também se dá pela tomada de coragem de muitas mulheres agredidas para fazer a denúncia e nesse sentido a Lei Maria da Penha veio trazer esperança e um ganho muito maior do movimento.

Lembro que na época da minha pequena militância no movimento de mulheres de Maceió, lutava-se por casas de passagens, locais onde as mulheres pudessem se abrigar, caso resolvessem sair de casa por conta das agressões. O movimento também reivindicava delegacias especializadas para que as mulheres que fossem fazer as denúncias tivessem amparo profissional e não fossem ridicularizadas.

O tempo passou, apesar dos números crescentes de violência acredito que a Lei trouxe muita coisa positiva, mas ainda é preciso muito mais. Antigamente tinha-se o mito de que a violência contra as mulheres era acentuada nos lares pobres: hoje esse mito caiu.

A pesquisa Data Popular/Instituto Patrícia Galvão mostra ainda que 69% afirmam acreditar que a violência contra a mulher não ocorre apenas em famílias pobres; a gente percebe que ela está metida em todo o lugar.

Ainda segundo os dados divulgados, 70% acham que a mulher sofre mais violência dentro de casa do que nos espaços públicos.  Para a defensora pública de Roraima e coordenadora da Comissão de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher do Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), Jeane Magalhães Xaud, os dados traduzem a realidade com a qual ela se depara no cotidiano do atendimento a mulheres em situação de violência.

 “Essa visão de que a violência doméstica só atinge mulheres pobres é totalmente ultrapassada. Na Defensoria atendemos professoras universitárias, médicas, dentistas, juízas, desembargadoras, defensoras; todas mulheres vítimas de violência. A pesquisa mostra uma realidade que pode ser estendida à sociedade como um todo”, pontua.


A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), sancionada pelo então presidente Lula, veio para punir com mais rigor os agressores de mulheres e foi mais uma conquista para a sociedade: “Depende da compreensão da categoria gênero e da determinação em não compactuar com a violência contra as mulheres”, diz o texto. 

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