Quero escrever, falar dos meus sentimentos, mas as palavras
não fluem; estão entaladas dentro de mim como que em dúvida do que vão
expressar. A cabeça dói um pouco; a gente passa a vida inteira, às vezes, para
entender o nosso eu interior, mas esse não é o meu caso, eu penso.
Não é o que acontece comigo, ou pelo menos penso que não.
Sempre fui um tanto quanto frágil, sentimental, emotiva e até ‘frouxa’ demais.
Dentro de mim tem uma mulher que grita, esperneia e do outro tem outra, bem
menos voraz, às vezes passiva.
São sentimentos que hora se confundem, se fundem e querem
dizer a mesma coisa: têm os mesmos conteúdos. Penso, em alguns momentos, que já
passei da idade de ter expectativas, desejos, quimeras e vontades: mas o outro
lado do meu corpo reclama; quero atenção.
Às vezes é uma situação que parece com uma roupa usada que
não queremos nos desfazer porque gostamos muito, mas que não nos serve mais ou
que não tem mais cabimento usá-la. Não sei: invoco meus poucos conhecimentos e
leituras sobre isso.
Eu fui à VI Bienal Internacional do Livro ontem, vi tanto
livro interessante e queria adquirir todos eles, mas há o impedimento financeiro,
e quando chego em casa começo a pensar na minha vida, em tudo o que já passei
para chegar até aqui.
Reflito em como eu sonhava em ser jornalista, em escrever
não só matérias informativas, cobrir
guerras, mas queria também ser escritora ‘famosa’, ser poeta. E foi pensando
nisso que em algum momento da vida, mostrei aqueles poemas para mamãe e para
uma colega minha.
E depois de ler os meus escritos elas me disseram, não com
essas palavras, mas com esse significado: ‘vai morrer de fome. Literalmente não
cheguei aí, mas as dificuldades são muitas, apesar de fazer o que gosto e o que
amo fazer.
E nessas horas, aquelas ‘profecias’ da minha mãe vêm todas à
tona: desde a sua incompreensão com a profissão que escolhi às minhas escolhas
pessoais que ela não aceitava e não compreendia. Na maioria das vezes ela estava certa, mas apesar das nossas
muitas divergências sobre as coisas práticas da vida, me dá uma saudade danada
de ouvi-la, de discordar do seu ponto de vista, de até brigar e de abraçá-la pedindo proteção e carinho, embora que ela não
fosse muito dada a esse lado sentimental, diferente do meu pai.
As palavras ficam entaladas na minha garganta e dão lugar às
lágrimas de saudade. Tem horas que a gente está tão carente que quer a vida que
teve de volta, apesar de ter consciência de que isso é impossível, já foi.
O tempo não volta; os amigos e os amores já se foram e não
há remédio para a morte, a não ser desejar que tenham um lugar de luz em algum
cantinho do desconhecido. Penso em tudo, quero escrever mais, quero falar de
amor, de carinho, de amizade, de carência afetiva; de tudo.
Tenho vontade de sair por aí gritando essa minha vontade,
esse meu desejo de rever todo mundo, de repassar como num filme a vida boa que
eu tive, mas esse querer é impossível e só me resta me aquietar, sossegar.
Só me resta acessar um site de boa música e ficar repensando,
fazer uma oração e pedir a Deus que aquiete esses pensamentos de agora, que
quase se tornam um sussurro. Bom domingo!
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