domingo, 27 de outubro de 2013

Quero falar de sentimentos...

Olívia de Cássia - jornalista

Quero escrever, falar dos meus sentimentos, mas as palavras não fluem; estão entaladas dentro de mim como que em dúvida do que vão expressar. A cabeça dói um pouco; a gente passa a vida inteira, às vezes, para entender o nosso eu interior, mas esse não é o meu caso, eu penso.

Não é o que acontece comigo, ou pelo menos penso que não. Sempre fui um tanto quanto frágil, sentimental, emotiva e até ‘frouxa’ demais. Dentro de mim tem uma mulher que grita, esperneia e do outro tem outra, bem menos voraz, às vezes passiva.

São sentimentos que hora se confundem, se fundem e querem dizer a mesma coisa: têm os mesmos conteúdos. Penso, em alguns momentos, que já passei da idade de ter expectativas, desejos, quimeras e vontades: mas o outro lado do meu corpo reclama; quero atenção.

Às vezes é uma situação que parece com uma roupa usada que não queremos nos desfazer porque gostamos muito, mas que não nos serve mais ou que não tem mais cabimento usá-la. Não sei: invoco meus poucos conhecimentos e leituras sobre isso.

Eu fui à VI Bienal Internacional do Livro ontem, vi tanto livro interessante e queria adquirir todos eles, mas há o impedimento financeiro, e quando chego em casa começo a pensar na minha vida, em tudo o que já passei para chegar até aqui.

Reflito em como eu sonhava em ser jornalista, em escrever não só matérias  informativas, cobrir guerras, mas queria também ser escritora ‘famosa’, ser poeta. E foi pensando nisso que em algum momento da vida, mostrei aqueles poemas para mamãe e para uma colega minha.

E depois de ler os meus escritos elas me disseram, não com essas palavras, mas com esse significado: ‘vai morrer de fome. Literalmente não cheguei aí, mas as dificuldades são muitas, apesar de fazer o que gosto e o que amo fazer.

E nessas horas, aquelas ‘profecias’ da minha mãe vêm todas à tona: desde a sua incompreensão com a profissão que escolhi às minhas escolhas pessoais que ela não aceitava e não compreendia. Na maioria das vezes ela estava certa, mas apesar das nossas muitas divergências sobre as coisas práticas da vida, me dá uma saudade danada de ouvi-la, de discordar do seu ponto de vista, de até brigar e de abraçá-la  pedindo proteção e carinho, embora que ela não fosse muito dada a esse lado sentimental, diferente do meu pai.

As palavras ficam entaladas na minha garganta e dão lugar às lágrimas de saudade. Tem horas que a gente está tão carente que quer a vida que teve de volta, apesar de ter consciência de que isso é impossível, já foi.

O tempo não volta; os amigos e os amores já se foram e não há remédio para a morte, a não ser desejar que tenham um lugar de luz em algum cantinho do desconhecido. Penso em tudo, quero escrever mais, quero falar de amor, de carinho, de amizade, de carência afetiva; de  tudo.

Tenho vontade de sair por aí gritando essa minha vontade, esse meu desejo de rever todo mundo, de repassar como num filme a vida boa que eu tive, mas esse querer é impossível e só me resta me aquietar, sossegar.

Só me resta acessar um site de boa música e ficar repensando, fazer uma oração e pedir a Deus que aquiete esses pensamentos de agora, que quase se tornam um sussurro. Bom domingo!

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