Eu te procurei no tempo, em cada canto; um dia eu pensei que
tivesse te encontrado, porque nos tornamos cúmplices na nossa intimidade. Mas a
gente se engana muito quando o assunto é amor, principalmente eu, que sempre
fui tão aberta ao diálogo, tão tola e tão frouxa nas minhas decisões.
Um dia eu revirei o fundo do baú da minha memória, para
matar aquela saudade que eu sentia de você, porque eu achava que aquele
sentimento era único, parceiro e indissolúvel. Mas que saudade era essa que eu
sentia de você? Quanta tolice eu achava que era verdadeira em minha vida!
Para falar a verdade e muito francamente, agora, eu não sei
o que eu estava procurando: se era um amor, uma parceria, um amigo, um amante
ou todas as alternativas são verdadeiras.
Avalio agora, depois de sentimento passado e situação tão
distante, que na verdade eu buscava uma pessoa que eu achava que conhecia: mas
por triste ironia do destino, o engano foi maior quando descobri a verdade: a verdadeira
personalidade de quem eu achava que já conhecia.
E a decepção e a mágoa que a gente sente quando gera tanta
expectativa no outro são bem maiores. Chego á conclusão que tu eras uma grande
fraude: alguém que só enganava e enganava, todos os dias da nossa rotina, como
se me enganar fizesse parte de um acordo tácito: parece que era tudo de caso
pensado, como se aquelas atitudes aliviasse a tua consciência no sentido
contrário, se é que se pode definir isso.
E quando essas situações aparecem, quem age dessa forma
começa a envolver outras pessoas nas mentiras e se enrolam cada dia mais e vai
ficando mais feio o conceito que a gente tem dessa pessoa, porque cada dia é
uma mentira nova que vai crescendo, crescendo até onde ninguém sabe.
Procurei refúgio onde sempre encontro: na literatura. E foi
lá que me deparei com vários personagens
que se mesclam com esse perfil, foi na
literatura que me amparei, porque é meu porto seguro, onde me refugio para não
cair de vez e não sucumbir ao sofrimento.
Ler é sempre a melhor saída, pode acreditar. Busquei
explicação em Tostói, Dostoiévski, Colette Dowling, Rosa de Luxemburgo, Gabriel
Garcia Marquez, Erico Verissimo e em vários teóricos e romancistas de época, ou
nos romances mais água-com-açúcar que comecei a ler e devorar para entender
melhor certas nuances do caráter humano. Boa noite!
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