Olívia de Cássia – jornalista
No dia 7 de setembro próximo, quando se celebra o Dia da Independência do Brasil, antigos moradores da Rua da Ponte, do Jatobá e Taquari, em União dos Palmares, vão se encontrar num evento saudoso, para se confraternizarem e lembrar as amizades e dos bons momentos vividos nessas ruas do município.
O encontro está sendo articulado por Luciana e Ana Peixoto, antigas moradoras da Praça Benon Maia Gomes, que também foi levada pelo Mundaú. Passados dois anos, ainda é difícil para quem nasceu e viveu nessas ruas, acreditar em tudo o que aconteceu por ali.
Olhando os vídeos na internet a gente não pode deixar de se emocionar com o que aconteceu com a Rua da Ponte, uma rua história da cidade. Em 18 de junho próximo completa dois anos da grande tragédia de União dos Palmares: a enchente de 2010.
Parecia que um imenso tusinami tinha passado pela cidade naquele dia. Ruas completamente devastadas, pessoas desabrigadas e passando todo tipo de necessidade e até mortes de entes queridos aconteceram.
Foi como se o Rio Mundaú tivesse se esgotado e cansado de tantos maus-tratos de tanta poluição e de tanta imprudência humana e quisesse se vingar de todos passando por cima e arrastando tudo.
Mas as águas barrentas e velozes do rio naquele dia levaram não só os maus-tratos, mas também levaram sonhos, projetos, vidas e quereres. A saudosa e querida Rua da Ponte, a rua da minha infância e local onde eu nasci, foi levada sem dó nem piedade pelo Rio Mundaú.
A casinha onde eu chorei as minhas primeiras lágrimas, onde gritei meus primeiros gritos, tudo isso o rio levou. Não ficou uma só casa em pé; tudo foi transformado num monte de entulho, como se uma guerra tivesse atingido aquela região.
Foi duro acreditar que os sonhos que os meus pais construíram no começo da vida tinham ido embora, apesar de que já tinham se desfeito das casas e vendido tudo, mas dói ver que tudo aquilo foi embora e ainda bem que não estavam mais aqui para presenciar a tragédia.
Na Rua da Ponte, quando eu era menina, era por onde circulava o movimento econômico da cidade. Fábrica de doces, de panelas, de colchões de palha, mercearias, posto de gasolina, armazéns, oficinas , fábrica de vinagre, alambique de seu Orlando Baia e todo o transporte para a capital circulava por ali.
Os carnavais animados da rua, a escola de samba, o desfile dos mascarados, a festinha de rua que acontecia em frente da fábrica de doces. Tudo isso nos remete a lembranças saudosas.
Durante o dia, ficávamos na calçada da mercearia de meu pai observando tudo, com meu avô Manoel Paes; era lá na frente que tudo acontecia, pois os carros abasteciam no Posto de Gasolina de seu Anselmo Cavalcante, o Nininho.
A Rua da Ponte teve também associação de moradores, a escolinha do Bangu onde estudei minhas primeiras letras com a professora Josete Belém, reforçada com as aulas que tinha do meu irmão mais velho. São lembranças inesquecíveis para todos nós, além dos saudosos e bons banhos no Rio Mundaú.
Na Rua do Jatobá, tinha a festinha de seu Pedro fogueteiro, pai da professora Doralice Félix, a Dora, da Divonete, do Félix e da Adeilda. Eu ia pra festa com meu padrinho Durval Vieira e andava nos barcos de madeira do seu Cícero Lopes, pai de Gracinha. Era tão encantadora aquela nossa vida!
Os homens e mulheres devotos dos santos saiam nas portas das casas com a imagem do santo do dia, que estivesse sendo homenageado, tocando pífano e uma zabumba, pedindo donativos. É uma imagem que tenho muito viva. A Rua da Ponte e as demais que o rio levou não vão ser esquecidas, ficaram na memória da gente.
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