domingo, 1 de junho de 2014

Passeio leva visitantes à história do Sertão, embarcando de Piranhas

Fotos: Olívia de Cássia
Piranhas é tombada pelo Patrimônio Histórico;
foi na cidade que ficaram expostas as cabeças dos cangaceiros
Olívia de Cássia – Repórter

 Num catamarã que comporta apenas 56 passageiros o turista pode embarcar para um passeio e conhecer a Rota do Cangaço, que tem como base o município de Piranhas, tombada pelo Patrimônio Histórico como a Cidade Lapinha, em Alagoas, distante 290 km de Maceió e a quatro horas de viagem da capital. A cidade ficou famosa, porque foi lá que ficaram expostas as cabeças de Virgulino Ferreira, o  Lampião, Maria Bonita e seus cangaceiros.
Vista panorâmica de Piranhas, banhada pelo Velho Chico

Antes de conhecer a saga do cangaço,  o visitante tem como opção visitar  o centro de artesanato da cidade, adquirir peças artesanais e souvenires da região, e entrar no Museu do Cangaço, que fica bem próximo, onde se paga R$ 2 para fotografar e ver o mobiliário e peças da época.  Na recepção do museu, o turista é orientado a não colocar a mão no material, mas que pode fotografar à vontade.

No local, há painéis impressos com a história de Lampião; peças temáticas da época, como o cantil do cangaceiro; ferro de passar roupa, que era aquecido na época com brasas de carvão; panelas e potes de barro; o gibão, indumentárias, mobílias e outros utensílios domésticos utilizados pelos cangaceiros.

Depois disso é só partir para o embarque no ancoradouro que fica às margens do Rio São Francisco e embarcar em um dos catamarãs, como o  Cotinguiba, que navega suavemente pelas águas transparentes do Velho Chico, até o Cangaço Eco Parque, na cidade de Poço Fundo, em Sergipe. O local tem uma boa estrutura, com área de lazer, serviço de restaurante com diversas opções de iguarias: aves, peixes, saladas; petiscos e bom acolhimento.

TRILHA


É de lá que parte quem quiser conhecer o local onde Lampião, Maria Bonita e seu bando foram assassinados, mas o guia passa as informações de segurança, pois o percurso da trilha é difícil, por conta do sol muito quente, solo íngreme, arenoso e cheio de pedras. Quem tiver problema de saúde como pressão alta, cirurgias ou outro, não é aconselhado a ir.  Deve-se levar duas garrafas de água, pois o calor e o sol forte são intensos.

Quem não quiser ir à trilha ou tiver alguma restrição de saúde tem a opção de desfrutar a natureza num local que nem parece ser o Sertão: com opção de banho no Rio São Francisco; redes para tirar uma soneca; opção de internet; quiosques bem aconchegantes, para se degustar um petisco ou tomar um bom aperitivo.

“Quem visita o local acha um paraíso: eu gostei de tudo; do banho, dessas cadeirinhas onde a gente pode descansar, é um lugar de paz e você esquece dos problemas; dá vontade de ficar aqui e não sair mais”, disse Carla Regina Lins, que estava no grupo coordenado por dona  Rosiane Nascimento.
Pelas águas do Rio São Francisco,
 chegamos a Poço Fundo, em Sergipe

O VELHO CHICO

O Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais e sua nascente está situada a uma altitude de 1.200 metros. O rio percorre 2.830 km no território brasileiro e em sua extensão, corta o Estado da Bahia. Ao norte do território baiano, o rio serve de fronteira natural com Pernambuco, além de estabelecer limites entre os territórios de Sergipe e Alagoas.

Entre os estados da Bahia e Pernambuco está o médio São Francisco; Alagoas e Sergipe baixo São Francisco e tem um total de 168 afluentes; possuindo uma enorme importância econômica, social e cultural para o país.

Cangaço teve repercussão com Lampião, mas surgiu no sertão nordestino em 1870

No Cangaço Eco Parque,
 Cícero Rogério conta a saga de Lampião para visitantes
Diferente do que muita gente pensa, o cangaço não nasceu com Lampião. Segundo Cícero Rogério, o guia que nos conta a história, o cangaço teve repercussão com Lampião, mas surgiu dentro do Sertão nordestino a partir de 1870, pela vida sofrida que o sertanejo levava, imposta pelos coronéis.

“Os sertanejos cansados da vida sofrida que viviam criaram um movimento que começou a se chamar cangaço, que tinha o objetivo combater o coronelismo da época”, explica Cícero Rogério, devidamente vestido a caráter. Segundo ele, Lampião entrou no cangaço a partir de 1920, com a morte do seu pai, José Ferreira dos Santos, a mando do coronel José Saturnino, do Estado de Pernambuco, onde morava, no Sítio Passagem das Pedras, município de Vila Bela, atual Serra Talhada, sertão pernambucano.

Existem muitas controvérsias e divergências históricas a respeito da data do nascimento de Lampião, mas segundo Cícero Rogério, ele teria nascido em 7 de julho de 1897 e só foi registrado em 4 de junho de 1898. “Lampião teve uma vida normal como qualquer criança e estudou em escola particular, pois os pais tinham condições”, observa.

Segundo Cícero Rogério, o cangaceiro teria tido oito irmãos, sendo quatro mulheres. “A família morava no sítio vizinho à fazenda Pedreira, de José Saturnino, que queria comprar o imóvel, mas como o pai de Lampião não queria vender, pois era de onde tirava o sustento da Família, o fazendeiro mandou os empregados roubar os animais e foi daí que começou a intriga e as trocas de tiros entre as famílias”, observa.
Cangaço Eco Parque, um paraíso no meio do Sertão


Segundo a saga do cangaceiro, contada pelo guia de turismo,  o pai de Lampião, preservando a família, vendeu o sítio para outra pessoa e veio morar no Estado de Alagoas, em 1920.  “O fazendeiro José Saturnino ficou sabendo da venda do sítio para outra pessoa e mandou uma volante alagoana ir até a fazenda, na cidade de em Água Branca, em Alagoas, e matar o pai de Lampião e sua família”, conta.

Cícero Rogério observa que sem procurar saber quem era o pai de Lampião, a volante já chegou atirando, matando o pai do cangaceiro e seu amigo Luiz Fragoso. “Quando Lampião chegou e viu seu pai morto, ele cria aquela revolta, aquela sede de fazer vingança com as próprias mãos e entra no bando do senhor Pereira, que ensinou o cangaceiro como combater dentro das caatingas do Nordeste”, explica.

MÁ FAMA

A partir daí Lampião se tornou um cangaceiro e sua fama foi se espalhando pelo Sertão. Em 1922 ele conta que Virgulino Ferreira adotou o apelido de Lampião e recebeu a chefia do bando, com 19 anos, e um exército em suas mãos, criando subgrupos no cangaço. Segundo o guia, esses subgrupos passaram a matar, estuprar e roubar e a má fama ficava com Lampião.

Durante 20 anos, Lampião viajou com seu bando de cangaceiros, a cavalo e em trajes de couro, chapéus, sandálias, casacos, cintos de munição e calças para protegê-los dos arbustos com espinhos típicos da vegetação caatinga.

Segundo Cícero Rogério, Lampião foi acusado de atacar pequenas fazendas e cidades em sete estados além de roubo de gado, sequestros, assassinatos, torturas, mutilações, estupros e saques. Entretanto, segundo ele, quem fazia esse tipo de ação eram os subgrupos.

Ainda de acordo com a história contada por Cícero Rogério, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, juntou-se ao bando em 1930 e, assim como as demais mulheres do grupo, vestia-se como um cangaceiro e participou de muitas das ações do bando.

Virgulino e Maria Bonita tiveram uma filha, Expedita Ferreira, nascida em 13 de setembro de 1932. Lampião morreu no Estado de Sergipe, na grota do Angico, em 27 de julho de 1938. As cabeças dos cangaceiros ficaram expostas as escadarias do Palácio d. Pedro II, hoje atual Prefeitura Municipal de Piranhas.

Extinção do cangaço se deu pelas mudanças das condições sociais do país

Segundo alguns historiadores, a extinção do cangaço foi consequência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores.


“Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como consequência uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo”, pontua.

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