Olívia de Cássia -
jornalista
Pelas informações da Certidão de Casamento dos pais da
minha mãe, Manoel Correia Paes e Olívia Maria, expedida na República dos
Estados Unidos do Brasil (como se chamava o País naquela época), meu avô Manoel
Correia Paes e minha avó Olívia Maria de Cerqueira ou Olívia Vieira de Siqueira
casaram-se em 31 de outubro de 1908, época da criação do extinto Jornal de
Alagoas, criado pelo jornalista Luiz Silveira.
Os
nome e sobrenome de minha avó teriam sido modificados pelo cartório, pois
constatei várias alterações nos sobrenomes dos nossos familiares. Vovô teria
nascido em 1883, era agricultor, natural de Branquinha. Filho de Tibúrcio
Correia de Araújo (ou Tibúrcio Vieira Correia) e Maria Paes de Oliveira
(sobrenome que acredito também tenha sido modificado).
Minha avó Olívia, segundo o documento, nasceu em 1889,
quando o Brasil iniciou o período conhecido como República Velha; tempo marcado
pelo domínio político das elites agrárias mineiras, paulistas e cariocas. Nessa
época o País firmou-se como exportador de café e a indústria brasileira deu um
significativo salto. Na área social, várias revoltas e problemas sociais aconteceram
nos quatro cantos do território brasileiro.
Olívia Maria, de quem herdei meu primeiro nome, era natural de Branquinha,
filha de Francisco Rosa de Cerqueira (ou Francisco Vieira de Siqueira) e Luzia
Maria de Serqueira (ou Maria Francisca Vieira Correia) nomes e sobrenomes que
também foram embaralhados e alterados no cartório, segundo as minhas
pesquisas.
Pelas
informações desse documento que tenho em mãos, a certidão de casamento dos meus
avós só foi expedida no dia 29 de julho de 1966, muitos anos depois da
cerimônia, em Branquinha, à época distrito de Murici, tendo como escrivão o
senhor Humberto de Lucena Sarmento. Assinaram como testemunhas José de Almeida
e Francisco Correia de Araújo.
Talvez
porque as pessoas não tivessem documentos naquela época tenha havido tantos
erros nos nomes e sobrenomes dos meus parentes. A maioria só veio a ter
registro de nascimento ou outro documento depois que casava e os cartórios
colocavam as informações de qualquer jeito, sem ter o cuidado de verificar nomes
e datas, como aconteceu com vovô e vovó e alguns dos meus tios.
Vovó Olívia fugiu de casa para casar com vovô
Manoel, seu primo legítimo, segundo me contou uma das minhas tias, porque vovó
era muito espancada pelo pai, Francisco Vieira de Siqueira, senhor de engenho.
Com autoridade absoluta, os senhores de engenho da República Velha submetiam
todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus
domínios.
Ela saiu de casa com apenas um pequeno baú na mão, levando o mínimo necessário de
seus pertences pessoais. Ela contava para os filhos que ajudava seu pai na lida
do campo e do gado e sabia ordenhar vacas, mas era uma mulher muito doente. Na
infância contraiu meningite, além de vários tumores nas unhas chamados de
panarícios, dores ciáticas e reumatismo.
Eu
convivi muito de perto com meus avós por parte de mãe, pois os pais do meu pai
morreram quando ele ainda era muito pequeno. Minha avó Rosa Correia Paes,
faleceu quando meu pai estava ainda com dois anos de idade e meu avô Jonas
Vieira de Siqueira, registrado como Jonas Correia de Cerqueira, quando papai
tinha quinze anos. Desse meu avô herdamos o sobrenome com erro no cartório.
Meu pai foi criado pela madrasta Maria José (Nenen),
devota e beata do Frei Damião e do padre Cícero do Juazeiro do Norte, no Ceará,
onde ela foi morar mais tarde, na cidade do Crato. Minha avó-madrasta era muito
conservadora e transmissora de toda a ideologia daquela cultura das beatas e
costumava fazer viagens para o Ceará, com os romeiros, em cima de um caminhão
pau-de-arara. Ela foi encontrada morta, no Juazeiro, na casa onde estava
morando sozinha, depois de alguns dias do seu falecimento.
Mas as lembranças da minha infância me remetem ao meu avô
Manoel Paes, seu Né Tibúrcio, ou “Papai Né”, como meus primos o chamavam, pois
ele me fazia quase todos os gostos. Vovô herdou o apelido de Tibúrcio devido ao
nome de seu pai, Tibúrcio Correia. Já vovó Olívia Maria era mais apegada aos
meus irmãos Paulo e Petrônio e não encobria meus defeitos e traquinagens da
forma como o meu avô Manoel o fazia; se alguém me fizesse alguma desfeita ou
mamãe quisesse me bater, bastava um olhar do meu avô para desarmar qualquer um.
Seu olhar era implacável.
Eu
fui muito apegada ao meu avô e só fui ter mais convivência com meu pai bem mais
tarde, depois que vovô morreu e eu já estava com 15 anos, porque papai passava
o dia todo na mercearia e só estava em casa na hora das refeições ou na hora de
dormir. Com meu avô era diferente: ele tinha todo o tempo do mundo para mim,
para me dar atenção. Eu chegava da escola e já buscava a sua companhia, se não
estivesse de brincadeira com os amigos da rua, pois eu não parava em casa.
Vovô era alto, magro, branco, tinha os olhos claros,
entre o azul e o verde e já o conheci calvo. É engraçada a semelhança que
encontro no ator Castro Gonzaga, da Rede Globo, com o meu avô Manoel Paes. Toda
vez que o vejo no vídeo, me reporta à imagem que tenho dele, principalmente
quando Gonzaga representou o papel do Formiguento, na novela Saramandaia, na
primeira exibição da novela, em que as formigas brotavam do seu nariz. Seu Né Tibúrcio tinha aquele jeito carrancudo
e áspero, mas comigo era sempre menos autoritário e se rendia às minhas
brincadeiras.
Na casa de vovô, na saudosa Rua da Ponte, tinha uma
cadeira tipo espreguiçadeira onde eu me sentava junto com seu Manoel, para
ouvi-lo contar as suas aventuras nas matas. Meu avô contava-me histórias da
Serra da Barriga, das caçadas que empreendia mata adentro, pois, segundo ele, era
bom caçador, e acredito que comecei a me interessar pela história de Zumbi dos
Palmares e pela questão dos negros com ele, mesmo que as histórias que me
contasse fossem carregadas de preconceitos, porque vovô era racista e, tal qual seu pai, seu avô, e seu bisavô não
gostava de negros.
Talvez
tenha sido o seu preconceito racial que tenha me despertado para esta causa.
Comigo as coisas sempre funcionaram assim. Mamãe também era racista, puxou ao
pai, mas esta é outra parte da história, que contarei lá mais na frente. Vovô também gostava muito de
literatura de cordel e comprava vários livretos na feira livre para que eu ou alguma
visita fizesse a leitura daquelas histórias, já que ele não sabia ler. Aos
sábados, eu costumava ir com seu Manoel Tibúrcio à feira de União e ao Mercado
Público.
Eu
tinha uma pequena cesta de palha que voltava sempre cheia das minhas pequenas
compras: pitomba, goiaba e outra fruta qualquer que fosse quase verde, por que
não gostava e não gosto de frutas maduras. Meu avô fazia questão de comprar
tudo o que eu gostava e as pessoas admiravam a afeição que ele tinha por mim,
já que era um pouco temido pelos outros netos e sobrinhos, pelo seu jeito durão
de ser.
Seu
Manoel chegou a ser senhor de engenho (o Mucuri), assim como o meu bisavô
Tibúrcio, mas vendeu as terras a preço módico para cuidar de uns sobrinhos,
filho de um irmão dele que ficaram órfãos. No entanto, vovô Manoel e vovó
Olívia terminaram seus dias de vida morando em casa alugada; e quando já
estavam bem velhinhos e doentes foram morar lá em casa, na Tavares Bastos, em
União, numa dependência que tinha nos fundos do imóvel e ali faleceram.
Minha avó Olívia era uma mulher bondosa e angariava a
simpatia de quem a conhecia, mas às vezes ela se colocava com raiva. Era
apaixonada pelo meu avô, não chamava palavrão e o único xingamento que fazia,
quando se aborrecia com ele, era chamá-lo de “cu da injura”, assim mesmo. Já o
meu avô gostava de chamar por outros nomes: “peste-bubônica”, que ele aliviava
chamando “péia” e “bixiga” ou “bixiguento”, deixando a minha avó
revoltada.
Meu avô guardava o dinheiro que meus tios mandavam para
as despesas diárias dentro de uma meia e debaixo do colchão ou dentro de um dos
baús da minha avó. Acredito que foi desse costume dos antepassados de guardarem
dinheiro dentro de meias que se gerou o dito popular “fazer um pezinho de
meia”, quando se diz que se vai juntar algum trocado em poupança ou em algum
investimento.
Além
de ter tido oito filhos vovó Olívia cuidou de outros, por adoção. Ela era
baixinha e gordinha, ao contrário do meu avô. Gostava de usar roupas floridas e
de passar carmim. Dona Olívia usava um pequeno coque no cabelo e tinha aversão
aos seus logos e escassos cabelos grisalhos. Minha avó vivia dizendo que queria
encontrar uma pasta que os escurecessem, pois naquela época ainda não era
costume usar tintura no cabelo; se já existia, minha avó não conhecia.
Dona Olívia e seu Manoel Paes tinham o hábito de ficar na
porta da casa onde moravam, na Rua Demócrito Gracindo, a Rua da Ponte, toda
tarde, observando o movimento. A vizinhança tinha uma afeição enorme por ela e
os mais moços a chamavam de vovó. Sempre tinha alguém que passava por lá para
tirar um dedinho de prosa com ela, que ficava toda animada pela atenção que lhe
era dispensada. Minha avó não gostava de barulho, mas ensaiava cantigas e
batucava na mesa, quando sentava para comer ou conversar.
O
lanche predileto de vovó era a bolacha canela ou o biscoito palito que papai
revendia na mercearia e meu irmão Paulinho levava para ela, com refrigerante.
Dona Olívia ficava esperando a hora do lanche, mas se meu irmão não levava o
biscoito ela ficava aborrecida e reclamava o tempo inteiro. Quando vovó já
estava bem esquecidinha, certa vez eu mostrei uma foto minha, com três anos, e
disse para ela que aquela era uma namorada do meu avô. Vovó ficou com tanta
raiva, pegou a foto, pisou, cuspiu e só não a rasgou porque eu interferi a
tempo e trabalho deu para convencê-la de que aquela pessoa da foto era eu.
Um comentário:
Olá Olívia, meu avô era um Correia (Corrêa) Paes e era da cidade de Garanhuns-PE também. Será que temos algum parentesco? Não sabemos muita coisa da família dele, pois foram para SP quando minha mãe era mocinha.
AVÔ: ANTONIO CORRÊA PAES
AVÓ: ANA CORDEIRO VASCONCELOS
AVÓ-MADASTRA: PALMIRA ALMEIDA PAES
MINHA MÃE: MARIA DE LOURDES PAES (NOME DE SOLTEIRA)
EU: MARIA LUCINEIDE PAES LOPES
Meu tio: Manoel Correa Paes
Essa semana fizemos uma festa da família PAES na cidade onde moramos (DOURADOS-MS)juntamos 91 pessoas (Paes e agregados)e ainda faltou um bom bocado.
LUCINEIDE
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