Ele escrevia poesia, fazia música e durante um tempo saiu de
casa e virou hippie. Estávamos na década de 1970 do século XX; nossas famílias
tinham laços de sangue e eram ligadas. Aquele poeta queria mudar o mundo com
seu jeito de ser, rebelde, tal como eu era e isso me chamou atenção nele.
Eu estava então com 17 anos quando ele voltou à nossa querida
União dos Palmares; ele tinha 24 anos e na sua primeira aparição para mim, depois de ter passado quatro anos fora da
cidade, uma segunda-feira de Carnaval, na Praça Basiliano Sarmento, aquela
luzinha vermelha que pisca dentro da gente anunciando um amor acelerou dentro
de mim.
Eu não conseguia desviar o meu olhar e nem desgrudar meus
olhos daquele rapaz de cabelos encaracolados, tingidos de blondon, numa
tonalidade castanho bem claro, quase louro. Era ele a partir daquele momento o
centro das minhas atenções. E foi durante seis longos anos.
Foi um amor quase à primeira vista se eu não o conhecesse
antes de sair da cidade, um sentimento fulminante aquele da minha idade mais
bonita, mas que também foi o período mais sofrido da adolescência distante.
Eu era uma menina tola, de classe média, estudiosa, ingênua,
desengonçada e cheia de sonhos e queria ser feliz a todo custo: seria capaz de
lutar contra o mundo para vê-lo feliz. Desde aquela época eu já gostava de
fazer poesias e de ouvir música, muito rock in roll e músicas de bom gosto.
No baile da Carnaval, na Palmarina, à noite, ele estava acompanhado da irmã de um
amigo nosso, mas eu não conseguia desviar o meu olhar, passei a noite toda
bebendo e pensando naquele moço bonito.
A partir dali nascia um grande amor dentro de mim. Um amor
dos 17 anos que foi mais um sentimento platônico. Aconteceram tantas coisas na
minha vida, que hoje eu nem consigo imaginar se tudo tivesse sido diferente o
que teria acontecido.
Os dias foram passando e ele continuava na cidade. No dia 31
de abril daquele ano iniciamos um curto namoro, na boate O Casarão, de seu Gilvan,
pai da minha amiga Carmem Lúcia. Um namoro que não durou muito tempo. Aquele
sentimento me marcou para o resto dos meus dias.
Fui alvo de muitos falatórios indevidos, preconceitos e todo
tipo de conversa. Eu daria tudo para ter
conseguido ajudar aquele moço que despertou em mim os sentimentos mais bonitos.
Lembranças de um tempo passado, nesta sexta-feira, 1 março. Bom dia.
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