Olívia de Cássia – jornalista
Tem horas que é preferível a gente calar diante de certas
situações que se fazem presentes no nosso cotidiano. Mas chega aquele instante em
que a gente explode e não suporta mais aquele aperto no peito.
Nessas horas não conseguimos evitar aquela tristeza profunda
e não há como deter as lágrimas que jorram por dentro e por fora, como se fossem
uma tempestade a nos arrastar do nosso equilíbrio, no meu caso já um tanto
quanto imperfeito.
E me pergunto nessas horas: como definir esse sentimento de
saudade e solidão se não sei exatamente se é saudade de quê, ou solidão diante
de uma multidão? Eu sei que têm pessoas me olhando de fora, me achando um pouco
louca, mas quem é normal hoje em dia?
Não sei o motivo específico, a razão de tudo isso, a não ser
definir como o somatório de todos os
acontecimentos de antes e de agora que vão se acumulando dentro da gente e que quando
chegam num ponto, o nosso interior não suporta mais e se rebela.
É quando se dá aquele rompimento de alguma coisa nas nossas
entranhas, uma ‘hecatombe nuclear’ que nos arrasta até a gente arrebentar de
vez, para ressurgir das cinzas, tal qual
a fênix, aquele pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em autocombustão
e, passado algum tempo, renascia das cinzas.
É assim que às vezes eu me sinto. O certo é que a sociedade
moderna tem afastando as pessoas do convívio familiar, aquele contato direto e a
gente vai se afastando dos outros, aos poucos, sem explicação.
Os pais e os filhos hoje em dia quase que não se reúnem mais
em torno de uma grande mesa para conversar, trocar informações e experiências
como se fazia no passado. Eu tenho saudade disso, vivi muito isso lá em casa,
quando éramos crianças e adolescentes.
Gosto de conversar, de fazer amizades, de falar da vida, de
contar minhas histórias, que às vezes podem parecer coisa de louca, de ouvir as
histórias de vida dos outros, apesar de também gostar da minha solidão interior
para que eu possa refletir sobre o mundo e escrever sobre ele, sem ser
interrompida.
Às vezes é como se eu estivesse atravessando um deserto,
vivendo dos meus próprios rascunhos. Tento combinar a impetuosidade da
juventude com a experiência de agora. Encanto-me com o frescor da juventude que
já não tenho mais e dela procuro tirar ensinamentos.
Muitas das vezes uma música me transporta para outros
tempos, outras ‘galáxias’ do nosso pensamento distante. A música e a leitura
têm esse poder de fazer com que a gente faça grandes viagens no tempo.
Às vezes em uma
leitura de um autor estrangeiro me identifico com uma cena ou com um diálogo
que tenho a certeza que já escutei ou vivi, aquela sensação de déjà vi, aquela
expressão francesa que significa ‘já vi esse filme antes’.
E nessas horas eu me ponho a pensar nas coincidências da
vida e nas voltas que o mundo vai dando. Eu não tenho definição para isso: o que
será?
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