domingo, 14 de março de 2010

(Republicação de texto)

O medo é uma prisão

Olívia de Cássia - Jornalista

Descobri, depois de muitos anos de vivência e amadurecimento, alguns meses de terapia, muito sofrimento e crises existenciais constantes que o medo é uma prisão para a alma e um portal para a destruição pessoal. O medo sufoca, nos subjuga e nos deixa com um grau de insegurança tão grande que passamos a duvidar da nossa capacidade profissional e intelectual e da capacidade de superar obstáculos.
Com o medo em nossas vidas podemos perder a personalidade, a saúde e até a vida se não tivermos força e ajuda externa para superá-lo. Vivi a juventude cheia de medos e tabus, tentando ser feliz, me rebelando contra modelos pré-estabelecidos, indo de encontro aos meus pais, principalmente a minha mãe, e sendo contrária a quase tudo o que eles me ensinavam com relação a certos assuntos que consideravam importantes. Coisas de adolescente rebelde, sem causa.
Nasci e me criei em uma família religiosa, de tradição católica, com todos os dogmas e ensinamento que a Igreja proporcionava e ainda hoje proporciona e apesar de tudo, de todos os preconceitos, da hipocrisia que está embutida na religião, de todas as críticas que faço a essa minha crença posso dizer que agradeço a Deus, agora, pela educação que eu tive e pelos ensinamentos que me foram passados pelos meus pais. Se não tivesse tido essa orientação e muita fé em Deus talvez hoje não tivesse superado tantos obstáculos que agora me parecem tolices.
Em 2003, depois de muita turbulência em minha vida, veio revelação das minhas fraquezas interiores e da minha fragilidade emocional que abalaram a minha saúde. Nessa época eu precisei de ajuda médica profissional para conseguir superar aquele momento, pensava que fosse ficar louca e fui fazer terapia aconselhada por minha amiga Bleine Oliveira, também jornalista.
Ela me indicou a doutora Lourdgleid Soares, a melhor em terapia e psiquiatra renomada no Estado. Naquela época acho que Lourdgleid avaliou que eu estivesse ficando doida mesmo, diante das besteiras que eu dizia e fazia e acho que estava pirando mesmo.
Precisei tomar remédios controlados pois não conseguia dormir, comer, nem me controlar, eu chorava o tempo todo. Eu estava chegando ao fundo do poço, quase perdi minha personalidade, minha individualidade e achava que tivesse perdido também a minha felicidade. Avaliava naquele momento que aquela moça tinha me tomado o bem que eu achava fosse mais precioso e a culpava pela minha separação e por tudo aquilo que eu estava passando. Eu estava errada.
Errei em muita coisa na vida, inclusive na maneira como eu estava conduzindo a minha rotina: sendo submissa e contrária a tudo o que sempre tinha pregado na minha curta vida de militância feminista. Aquilo que eu havia aprendido na faculdade e nos movimentos sociais eu tinha esquecido e estava pregando tudo ao contrário.
Hoje eu sei que muita coisa que aconteceu comigo foi por conta da minha insegurança, da fragilidade, dependência e do medo. O medo de ser feliz. Não tem coisa melhor do que a maturidade para nos dar discernimento e coragem. Coragem para lutar, enfrentar a vida e ser feliz. E é o que estou fazendo e vivendo agora. Tentando ser feliz, tanto na vida pessoal quanto profissional e isso me permite ter mais uma chance diante de Deus a de ser avaliada por tudo o que fiz até agora.

(Esse texto foi publicado no meu blog anterior e está no link http://oliviadecassiajornalista.zip.net/arch2009-04-01_2009-04-30.html - também foi publicado na página de opinião do jornal Tribuna Independente)

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